Os 49 auditores do Estado (AGE) em atividade deflagraram, na manhã desta quarta-feira (29), a primeira paralisação da categoria em Mato Grosso, por tempo indeterminado, em busca de reajuste salarial. A greve foi decidida em assembléia geral após mais de um ano de espera e negociação com o governo. Com faixas exigindo a valorização da categoria, os auditores se concentraram, de braços cruzados, em frente à sede da AGE no Centro Político Administrativo, em Cuiabá.
Com a greve, o governo fica prejudicado em uma série de ações que demandam a ação dos auditores. Ficam sem o devido controle interno, por exemplo, medidas referentes à Copa de 2014, como a licitação e os projetos das obras de mobilidade urbana (seis auditores atualmente trabalham com essas questões). Também fica prejudicado o concurso para engenheiros da Secopa, que necessita de parecer da AGE, além das contas do governo encaminhadas ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Os servidores pleiteiam, desde fevereiro do ano passado, um reajuste salarial real de cerca de 20% após cerca de sete anos sem aumento significativo do poder de compra, período no qual criou-se uma disparidade entre os rendimentos dos auditores e os de servidores da carreira de arrecadação; estas categorias, anteriormente, eram praticamente equiparadas em termos de rendimentos.
Hoje, um auditor é remunerado em uma média de R$ 8 mil mensais, o que não constitui nem 40% do que um profissional da receita estadual recebe, sem contar o contraste verificado quando se compara a situação dos rendimentos dos auditores de Mato Grosso com os de outros Estados – um auditor do bem menos economicamente pujante Piauí, por exemplo, recebe mais.
“Mas não é equiparar com esses profissionais. Nós queremos é o reconhecimento do nosso trabalho isoladamente”, pondera o presidente da Associação dos Auditores do Estado (Assae), Ciro Rodolpho Gonçalves. “Só no ano passado, o conjunto de trabalhos que nós fizemos – auditorias especiais, relatórios de controle interno, orientações técnicas, recomendações a todos os gestores da administração do Estado – gerou R$ 144,6 milhões de economia e contenção de prejuízos”.
Enquanto isso, segundo os auditores, o reajuste salarial que eles buscam teria o impacto de apenas R$ 1,3 milhão ao ano na folha de pagamento do governo, menos de 1% da economia gerada pelo trabalho exercido por eles. É este balanço que os servidores têm usado como argumento nas negociações com o governo, além do fato de que 95% do funcionalismo público já foi contemplado com reajustes.
Crise
O que a Assae mais questiona é uma abrupta mudança no discurso do governo em relação ao reajuste. Segundo Ciro, a Secretaria de Administração (SAD) havia se comprometido, em dezembro, a apresentar, no início destre ano legislativo, uma proposta de tabela de subsídio prevendo os impactos financeiros. Além disso, o próprio Conselho Econômico do governo apontou o reajuste aos auditores como uma das prioridades para o ano, mesmo diante da crise.
Como não houve a apresentação da tabela, a Assae informou o governo, em 14 de fevereiro, que os servidores entrariam em greve a partir do dia 17. No mesmo dia a SAD respondeu o ofício, comprometendo-se a apresentar a proposta no dia 27. Novamente a promessa não foi cumprida e a SAD informou que a razão apontada pelo Conselho Econômico seria a atual necessidade de contenção de despesas por parte do Estado devido à crise, que, no entanto, não impediu o Conselho de apontar o reajuste dos auditores como prioridade.
Com a mudança de tratamento, os auditores decidiram deflagrar a paralisação e, a partir desta quinta-feira, tentar contato direto com o governador para resolver o impasse. “Este cenário [de crise] não mudou desde dezembro. A categoria está sem entender o que está acontecendo”, estranha Ciro.
