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Segunda-feira, 13 de maio de 2024

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Cansados de corrupção, movimento faz protesto no desfile cívico e enfrenta momentos de tensão com a PM

Foto: Stéfanie Medeiros

Cansados de corrupção, movimento faz protesto no desfile cívico e enfrenta momentos de tensão com a PM
A organização do movimento “Independência de quem?”, ou, como ficou conhecido nas redes sociais “Ocupa Cuiabá”, juntava-se aos cerca de 50 policiais militares na Praça das Bandeiras no sábado de manhã (07). Faltava uma hora para a passeata sair e ir de encontro ao Desfile Cívico em comemoração à independência do Brasil. A praça ainda estava vazia, com grupos pequenos espalhados pelos arredores.


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“A culpa de o Estado ser assim é do povo”, disse o estudante e articulador do movimento, Vinícius Batista, 20 anos. Dando entrevistas para a imprensa, explicou que o povo ainda não aprendeu a viver em uma democracia, onde não adianta só votar, mas é necessário também que a população participe de forma ativa e consciente. “Esse é o nosso objetivo. Chamar a atenção da sociedade para esse fato, conscientizar às pessoas”.

Denominando o desfile de “meio” pão e circo, Vinícius afirmou ainda que a manifestação não tinha como objetivo “acabar com a festinha”, a tradição do sete de setembro. “Mas é preciso mostrar que o povo está cansado de corrupção e que não dormimos, ainda estamos acordado”.



O evento criado no Facebook teve 6.782 presenças confirmadas, mas às 9h30, horário marcado para sair da praça, pouco menos de 100 pessoas se reuniram para dar voz aos gritos de guerra. “Poder ao povo!”, gritavam os manifestantes enquanto desciam a rampa da Praça das Bandeiras e seguiam pela Avenida Historiador Rubens de Mendonça, mais conhecida como Avenida do CPA.

“Nós temos autorização do uso da força proporcional à ação delitosa do manifestante”, disse o capitão da Polícia Militar, Marcelo Moraes. O capitão explicou ainda que uma barreira humana seria formada para impedir que o protesto chegassem até as apresentações do desfile. “Não vai ter furo de bloqueio”. Mas caso houvesse, o procedimento seria simples: detenção da pessoa, que em seguida seria levada à delegacia.

A fila de pessoas seguindo pela Avenida do CPA era bastante heterogênea. Anarquistas, socialistas, membros do movimento contra a corrupção, ativistas de ONGs, democratas, civis apartidários, crianças e adolescentes. “O importante é não deixar o povo apagar, porque no final os movimentos é que contam”, disse o coordenador da ONG Moral, Bruno Boaventura, 32 anos.

“Onde as autoridades estiverem, nós também vamos estar lá gritando no ouvido deles”, completou Vinícius. Entoando os gritos de guerra livre de palavrões por conta das crianças presentes, os manifestantes chegaram ao local do desfile.

O conflito da barreira humana e a queima da bandeira



Policiais e manifestantes frente a frente. O protesto queria seguir até o desfile, mas a PM não tinha autorização para deixar que eles passassem. “A polícia, como sempre, fazendo seu papel de braço fascista do governo”, gritou uma mulher no meio da multidão escassa.

“Nós não estamos contra vocês”, explicava um policial para os manifestantes, dizendo que eles não poderiam passar por conta das crianças, idosos e da possibilidade de desordem “do outro lado”.

Apesar das expressões impassíveis no rosto de cada policial, o clima começava a ficar tenso e hostil e os manifestantes revoltados e agitados. “Quem não gosta de criança é o Silval! As crianças estão sem estudar por causa do governador!”.

Os articuladores do movimento tentavam negociar a passagem. Mas ao mesmo tempo em que se chegava a um meio termo, tudo era motivo de novos deboches. O tempo ia passando e o desfile chegando ao fim. Neste momento, a PM pediu que os manifestantes fizessem uma fila indiana para que as mochilas fossem revistadas.

“E a bolsa do Silval, cheia de milhões, quem vai revistar!?”, gritavam. Mas os manifestantes, mesmo assim, organizaram-se em uma fila cantando a música “Marcha Soldado”. Alguns, indignados com a demora e com a situação a que estavam sendo submetidos, incitaram todos a passar pelas laterais.



Alguns seguiram os gritos e comandos de ir pelas calçadas, mas o bate boca e a tensão que se instaurou naquele momento fez com que a maioria recuasse e voltasse para a fila. “Que moral esse cara têm”, comentou um policial com o colega, soltando risos discretos.

Percebendo que um dos PMs estava sem identificação, um manifestante com o rosto coberto por uma camiseta azul o questionou sobre o fato. “Ah, caiu”, respondeu o policial. Descrente, o protestante replicou: “Sacanagem, cara. Vocês estão prontos para dar porrada na gente”. O policial, entrando no jogo, argumentou: “Mas e você, com o rosto coberto?”. “Eu não trabalho para o Estado”, replicou o menino.

Mochilas revistadas, pincéis e tintas confiscados. “Cuidado com as tintas e os pincéis, as tintas e os pincéis são ameaças para a polícia”, entoou um membro da frente anti-fascista, enquanto outro perguntava, sarcástico: “Seu policial, eu tenho que passar pelado?”.

Mesmo com a fila, a revista dos pertences, os manifestantes continuavam barrados. Com a paciência chegando ao fim, alguns dos protestantes pegaram uma bandeira do Brasil e botaram fogo nela.



Fim do desfile. Manifestantes puderam passar, mas somente pelo meio, respeitando a fila. Todos, menos aqueles que carregavam as bandeiras anarquistas e libertárias, bem como a bandeira queimada do Brasil. Depois de muita discussão, o protesto seguiu em frente pelas ruas já vazias, onde os estudantes que participaram do desfile iam embora. Alguns deles se uniram à caminhada, acompanhando os gritos de guerra com o som do bumbo.



Palanque vazio, nenhum político ou representante do governo para ouvir os manifestantes.

“Mais uma vez a polícia deu um exemplo de que não está preparada para lidar com as manifestações”, disse Bruna Boaventura enquanto o movimento, aos poucos, dispersava-se.
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