Após mais de 10 anos do assassinato dos irmãos Brandão Araújo Filho e José Carlos Machado Araújo, o Zezeca, em agosto de 1999 e dezembro de 2000, respectivamente, em Rondonópolis, a Justiça de Mato Grosso julga o ex-cabo da Polícia Militar Hércules de Araújo Agostinho, apontado como o pistoleiro contratado para executar os dois irmãos. Se condenado pelos dois homicídios qualificados, o réu poderá receber a pena de até 60 anos de prisão.
O julgamento de Hércules teve início às 8h40 da manhã desta quinta-feira (7) no Tribunal do Júri da Comarca de Rondonópolis e deve terminar por volta das 23h00 ou mais, de acordo com o juiz presidente do Tribunal do Júri, João Alberto Menna Barreto. O magistrado solicitou reforço de segurança com um maior número de efetivos e viaturas, a fim de evitar riscos e uma eventual fuga ou resgate do réu.
O interrogatório do ex-cabo foi realizado por volta das 15h30. De acordo com o neto de Zezeca, Gustavo Medeiros de Araújo Neto, advogado e assistente de acusação no processo, Hércules negou ser o autor dos homicídios e afirmou que só confessou os crimes quando foi preso, em 2003, obrigado pelos delegados que presidiram o inquérito policial, Henrique Meneguello e Jales Batista, além do promotor Mauro Zaque de Jesus.
Antes do interrogatório do réu, ainda foram ouvidas duas testemunhas do caso, o delegado Claudinei e um dos irmãos das vítimas, Antônio Carlos Araújo. A expectativa da família, conforme Gustavo, é que haja a condenação de Hércules e a justiça seja, enfim, feita. “É isso que esperamos agora, que a justiça seja feita”, expressou.
O julgamento propriamente dito teve início com os debates da acusação e defesa, após um intervalo de aproximadamente 20 minutos que se deu depois do interrogatório. Nesta parte do julgamento, as partes teriam cerca de cinco horas para apresentarem seus argumentos, compostos de réplicas e tréplicas, encerrando-se por volta de 21h ou 22h. Em seguida, o juiz presidente pergunta ao Conselho de Sentença se estão habilitados a julgarem o réu.
Caso não desejem mais nenhuma informação, o juiz faz a leitura dos quesitos e o Conselho de Sentença se reúne em uma sala para a votação. Em seguida, o resultado é anunciado pelo juiz presidente.
O ex-cabo Hércules foi pronunciado por dois homicídios, ambos qualificados devido ao motivo torpe, mediante paga e com impossibilidade de defesa das vítimas, além do crime de formação de quadrilha ou bando. Outros implicados nos crimes, como o advogado Ildo Roque Guareschi e Mônica Marchett Charafeddine, tiveram seus processos desmembrados e recorreram a instâncias superiores da Justiça brasileira, sendo que no momento os processos estão em fase de recursos.
O caso
Os irmãos Araújo foram assassinados à luz do dia no Centro de Rondonópolis e os crimes repercutiram nacionalmente. A primeira vítima, Brandão Araújo Filho, foi executada a tiros de pistola 9 mm quando estacionava um veículo que havia alugado. Zezeca também foi morto a tiros de pistola 9 mm no estacionamento de uma agência bancária.
De acordo com o inquérito e conforme o processo, as mortes foram motivadas por desentendimentos envolvendo a negociação da Fazenda Três Irmãos, de propriedade dos ‘Araújos’, com 2.175 hectares, localizada na região do Mineirinho, a 70 quilômetros de Rondonópolis. A área foi vendida pelos irmãos para Sérgio Marchett, pai de Mônica Marchett, em 1988. De acordo com a família das vítimas, até hoje o pagamento da área ainda não foi concretizado e o processo se arrasta na Justiça.
Em 2003, Mônica, seu pai Sérgio, o advogado Ildo Guareschi e os ex-militares Hércules, Célio Alves de Souza e Marcos Divino Teixeira da Silva, já falecido, foram denunciados pelo Ministério Público e duplamente qualificados como mandantes dos dois assassinatos. Além das seis pessoas, outro advogado de Rondonópolis e mais uma pessoa foram indiciadas como co-réus no processo que foi desmembrado e ainda não se encerrou.
