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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Opinião

O passado 'progressista' o condena na época atual


Supor que o progresso ocorre em uma direção e que a reação ocorre na direção oposta é um tipo de pensamento unidimensional que não se sustenta após uma análise mais sensata. Vejamos alguns fatos históricos que demonstram a incongruência do pensamento dito progressista no sentido exato da ideia metafísica de “progresso” que seus defensores postulam. Se o progressismo estiver certo, aquilo que por eles foi condenado no passado não deveria ser mais objeto de discussão e, o que é pior, ser defendido em seu exato oposto. Vejamos alguns curiosos casos lembrados por Andrew Syrios em artigo para o site Mises Brasil.

A Lei Seca dos Estados Unidos, também conhecida como “O Nobre Experimento” foi uma medida implantada no período de 1920 a 1933, durante o qual a fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas para consumo foram banidas nacionalmente, em cumprimento à 18ª emenda da Constituição dos Estados Unidos. Nossos progressistas atuais, alinhados à esquerda do espectro político, são ardorosos defensores, não só das drogas “lícitas”, assim consideradas (bebidas alcoólicas, cigarros etc) como também defendem a liberalização das drogas. É possível imaginar um progressista atual interceder calorosamente na defesa da proibição de circulação de bebidas alcoólicas? Claro que não. Mas foi exatamente isso que fizeram progressistas na década de 20 do século passado com relação à lei seca. Progressista como William Jennings Bryan ( advogado e político, membro do partido Democrata, foi Secretário de Estado dos Estados Unidos da América) foi um inflexível defensor da Lei Seca.

No tema das drogas ilícitas, foram os progressistas de antigamente que também aprovaram, nos EUA, a primeira lei federal de desestímulo ao comércio de drogas, Harrison Narcotics Tax Act, de 1914.  Um progressista atual ficaria constrangido com seus correligionários de causa, haja vista a certeza que possuem em nossos dias que a solução para o problema das drogas é, simplesmente, sua liberação. Sobre a conta para financiar os zumbis que chegarão ao SUS para tratamento? Ora, isso não é problema meu. O Estado que se vire.

Pergunte a um progressista atual o que ele pensa sobre restrições a imigrações de estrangeiros em seu país. Com certeza defenderá a liberação de entrada com ou sem critérios. Contudo, foram organizações progressistas que apoiaram, em 1882 e 1924, leis de restrição à imigração de chineses nos Estados Unidos. Vários sindicatos "progressistas" eram abertamente racistas, nativistas e nacionalistas.  Veja que hoje em dia os Democratas americanos tecem duras críticas ao Presidente Trump sobre as políticas antimigratórias do seu Governo. 

Eugenia vem a ser a crença na reprodução controlada e seletiva da espécie humana. Coisa de nazista você, imediatamente, lembra. E o que dizer de progressistas americanos na defesa dos ideais da Ku Klux Klan - KKK, no início do século XX? Pois é!  Margaret Sanger, sexóloga, feminista, defensora do aborto e heroína dos progressistas americanos, chegou a palestrar em um dos eventos da KKK, que, pasmem, defendia medidas progressistas. Sanger foi ainda alvo de críticas por suas visões eugenistas e elitistas. “Mais filhos para os bem adaptados; menos filhos para os inaptos”, dizia Sanger. Durante a Era Progressista, as abordagens eugênicas à reforma social e econômica eram populares, respeitáveis e generalizadas, esclarece Thomas C. Leonard no ensaio “Eugenia e Economia na era Progressista” (disponível em https://www.sociedadeaberta.com.br/eugenia-e-economia-na-era-progressista). Assim, por mais paradoxal que possa parecer hoje, os principais proponentes de teorias sobre superioridade e inferioridade genética eram figuras icônicas da esquerda, de ambos os lados do Atlântico.
Mas você deve estar se perguntando: por que não se fala da ligação entre Margaret Sanger, fundadora da Planned Parenthood, e a eugenia? Por causa de duas palavras: Adolf Hitler. Ele instituiu oficialmente a eugenia, fazendo com que um país inteiro colocasse em prática os princípios eugênicos, não apenas para produzir o que, segundo ele, seria uma raça superior, mas também para eliminar todos aqueles que considerava inferiores. E onde as ideias eugênicas de Hitler encontraram pronto amparo? Em Margaret Sanger e seu círculo, nos lembra Dale Ahlquist, Presidente da American Chesterton Society.
 
Mas não somente nos EUA, na Europa, John Maynard Keynes, economista amado pela esquerda atual e defensor intransigente da intervenção econômica pelo Estado na economia, vejam só, ajudou a criar a Sociedade Eugênica de Cambridge. Igualmente, intelectuais adeptos do socialismo fabiano (movimento político e ideológico de caráter socialista reformista, no Brasil, representado por FHC), como H.G. Wells e George Bernard Shaw, estavam entre os vários esquerdistas defensores da eugenia.
 
Mas fica ainda melhor. O presidente democrata Woodrow Wilson (28º Presidente dos EUA, de 1913 a 1921), juntamente com outros progressistas da época, foram sólidos defensores de noções de superioridade e inferioridade racial. Ele exibiu o filme O Nascimento de uma Nação, que glorificava a Ku Klux Klan, na Casa Branca, e convidou vários dignitários para a sessão. Este filme foi altamente criticado na época por retratar os afro-americanos (interpretados por atores brancos com as caras pintadas de negro) como ininteligentes e sexualmente agressivos em relação às mulheres brancas, e também por apresentar a Ku Klux Klan (cuja fundação original é dramatizada) como uma força heroica.
 
O psicólogo e linguista canadense Steven Pinker (alinhado às ideias de esquerda) relatou que “contrariamente à crença popular infundida por cientistas ideólogos, a eugenia foi, durante grande parte do século XX, uma das bandeiras favoritas da esquerda, e não da direita”. Quem diria que nossos ardorosos progressistas defensores dos direitos humanos e ferrenhos anti-nazistas já postularam as mesmas crenças de Hitler?

Nessa época, o conservador católico G.K. Chesterton escrevia Eugenics and Other Evils (Eugenia e outros males). Defensor da fé católica com inteligência, perspicácia e um profundo senso de coerência, Chesterton já afirmava que o problema da ciência oficial é que, a passos regulares, ela se torna tanto mais oficial quanto menos científica. Escreve ele: “O homem comum estará necessariamente à mercê de um clero acadêmico”. Qualquer semelhança com a politização feita junto com a ciência nesta pandemia, não é mera coincidência. Se aqueles que se preocupam com as verdades tradicionais tentarem opor-se à eugenia, ao controle de natalidade ou à clonagem serão fuzilados pelo que Chesterton chama de “a mesma ciência quadrada, a mesma burocracia persecutória e o mesmo terrorismo exercido por professores universitários de quinta categoria”. Chesterton faleceu em 1.936, mas suas deduções e observações não se invalidaram com o tempo. Enquanto os progressistas, impregnados de um cientificismo calcado em uma fé metastática, ainda acreditam que o ser humano pode ser moldado, via processo de engenharia social, para adaptar-se ao mundo idealizado pelos intelectuais da vanguarda progressista.

Nos dias atuais o festival de contradições e insanidades dos progressistas andam a passos largos. Por exemplo, na Dinamarca, os progressistas legalizaram a prostituição; já na Suécia, os progressistas a tornaram ilegal.  Podem ambos ser progressistas?  Aqui no Brasil os progressistas querem a legalização do aborto, mas abominam qualquer tentativa de instituição da pena de morte por crimes bárbaros. Qual vida defendem? Advogam a liberdade sexual sem limites. Meninas na pré-adolescência já engravidam, pois, a erotização precoce e a iniciação sexual cada vez mais cedo e sem nenhuma responsabilidade destroem as expectativas de futuro dessas crianças, especialmente as mais pobres. Solução dos progressistas: aborto. Políticas para reduzir a exposição precoce à sexualidade? Retrocesso reacionário.

Presos a uma lógica demoníaca que se traduz no afastamento de qualquer verdade metafísica ou valores elevados escalonados em uma hierarquia, vagam pela existência ao sabor dos instintos e das paixões. Esquecem que o homem integrante de uma cultura possui três níveis de consciência reflexiva: suas ideias específicas sobre as coisas do mundo; suas crenças ou convicções e sua visão metafísica do mundo. Vivendo apenas no primeiro ou segundo níveis, afastado de um centro metafísico, o homem moderno não tem mais a competência necessária para viver junto (conviver) com seus semelhantes durante determinado período de tempo. Como explica Richard Weaver (As ideias tem consequências) “nossas ideias se transformam em concepções convenientes, e nós aceitamos a contradição porque já não sentimos a necessidade de relacionar nossos pensamentos a uma visão metafísica”. Resultado: a degradação moral e a degeneração da sociedade.  Com o consequente colapso da alta cultura, segue-se a valorização do medíocre e instala-se o processo de imbecilização da sociedade.


Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
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