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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Opinião

​Flores para Rondon

Na condição de Membro Efetivo da Sociedade de Amigos de Rondon aceitei ao convite do saudoso presidente, Dr. Ivan Vidal Pedrosa, para falar sobre a trajetória de Cândido Mariano da Silva Rondon, um dos mais ilustres brasileiros do século XX. O evento realizado foi emocionante.
 
Mas o que trazer de um personagem tão conhecido? Relembrar um pouco da sua marcante trajetória, as vibrantes realizações e o reconhecimento obtido.
 
Durante o século XX as visitas de Rondon em Cuiabá foram sempre anunciadas com alegria e as palestras proferidas prestigiadas. A Revista A Violeta que contou com a escritora, professora e jornalista Maria Dimpina, registrou esses momentos, pois tinha Rondon como aliado na luta para a construção da Estrada de Ferro, uma vez que o mesmo era acionista da Estrada de Ferro Norte de Mato Grosso.
 
Cândido Mariano da Silva Rondon nasceu no dia 05 de maio de 1865, em Mimoso, distrito de Santo Antonio do Rio Abaixo, atual município de Santo Antônio do Leverger, Estado de Mato Grosso. Era filho de Cândido Mariano da Silva e Claudina de Freitas Evangelista. De origem humilde, órfão ainda pequeno, foi criado por uma bisavó de descendência indígena, e aos sete anos de idade, ainda na infância, mudou-se para Cuiabá, com a finalidade de estudar, tendo ficado sob a tutela do seu tio Manoel Rodrigues da Silva, capitão da guarda-nacional, que resolveu adotar o sobrenome Rondon, apelido da sua mãe, por ter um homônimo que vinha causando-lhe alguns contratempos.
 
Cabe ressaltar que o sobrenome Rondon também foi adotado por Cândido Mariano, em reconhecimento ao tio Manoel Rodrigues da Silva Rondon, que para ajudá-lo nos estudos no Rio de Janeiro manifestou a intenção de adotá-lo como filho. Na época a proposta do tio não foi aceita, somente mais tarde. É interessante observar que Rondon ficou mundialmente conhecido.
 
Defensor da Liberdade dos Escravos e da Proclamação da República, Rondon nunca esqueceu-se de Mato Grosso, tendo demonstrado pelo pantanal mato-grossense muito apreço. Viveu intensamente a beleza e a liberdade da vida rural, e dedicou-se com afinco ao Brasil. Foi um grande brasileiro. Concluiu os estudos na Escola Militar, no ano de 1890, e graduou-se em Matemática e Ciências Físicas e Naturais.
 
Por um curto período de tempo lecionou astronomia, e casou-se, em 1892, com D. Francisca Xavier, mais conhecida como D. Chiquita, com quem teve sete filhos: Araci Rondon, Benjamin Rondon, Clotilde Rondon, Marina Rondon, Beatriz Emília Rondon, Maria de Molina Rondon e Branca Luiza Rondon, muitos netos e bisnetos. Na construção de linhas telegráficas ligou o Brasil ao Brasil.
 
Foi o primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio, e nesse cargo obteve elevado reconhecimento. Em 1913, foi designado pelo governo Federal para organizar e acompanhar o presidente dos Estados Unidos da América, Theodoro Roosevelt, que viera ao Brasil em viagem de estudos, obtendo pelo desempenho o Prêmio Living-Stone, conferido pela Sociedade de Nova York, e teve seu nome gravado numa placa de ouro como um dos mais importantes desbravadores do mundo.
 
Contribuiu para o conhecimento da cartografia das terras, dos rios, das plantas, dos animais, das riquezas naturais e minerais. Nesses estudos, Rondon observou que Cuiabá encontrava-se localizada no Centro da América do Sul. Participou em 1919 da festa em comemoração ao bicentenário de Cuiabá, com conferências e exposição cartográfica no Palácio da Instrução.
 
O território do Guaporé recebeu o nome de Rondônia, devido a uma proposição do diretor do Museu Nacional, em 1917, Roquette Pinto.
 
Como deputado, o tenente Otávio Pitaluga, propôs, em 1918, a mudança do nome do povoado mato-grossense de Rio Vermelho para Rondonópolis, numa justa homenagem a Cândido Mariano da Silva Rondon, que nesse lugar estivera com a Comissão das Linhas Telegráficas.
 
Das homenagens recebidas destacam-se: medalha de ouro da Sociedade Brasileira de Geografia, medalha de ouro da República da França, diploma de sócio honorário da Sociedade Geográfica de Washington, diploma de sócio honorário da Sociedade Geográfica de Munique, diploma de sócio honorário da Sociedade Holandesa de Geografia de Haya, diploma de sócio da Sociedade Geográfica de Roma, diploma de sócio honorário da Sociedade de Geografia de Berlim, membro da sociedade de Geografia de Lima, diploma de Sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, título de civilizador do sertão conferido pelo Conselho Nacional de Geografia e Estatística, sócio honorário da Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, membro honorário da Sociedade de Americanistas da Suíça e muitas outras.
 
Foi Rondon que propôs ao governo brasileiro para que deixasse de cobrar a dívida que o Paraguai tinha com o Brasil em virtude da Guerra, e que sugeriu a criação do Parque Indígena Nacional do Xingú, tendo contribuído com dados preciosos para a confecção do mapa de Mato Grosso em 1952, e, em 1955, recebeu a patente de Marechal do Exército e o Título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Brasil.
 
No ano de 1957 muitos países começaram a movimentar-se no sentido de indicar Rondon para receber o “Nobel da Paz”, vindo a morrer, no entanto, em 19 de janeiro de 1958, sem ter sido agraciado com esse merecido prêmio. É preciso continuar despertando nos jovens o orgulho e a grandeza de ser brasileiro. É NECESSÁRIO CULTIVAR A CRENÇA DE QUE É POSSÍVEL FAZER MAIS PELA SOCIEDADE.
 
A escritora carioca Stella Leonardos, integrante da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, registrou no livro “Memorial de Rondon”, editado pela Editora Universitária da Universidade Federal de Mato Grosso, em 1995, o seguinte, “Cândido Mariano da Silva Rondon. Gravo teu nome de evento. [...] Gravo teu nome de alento. [...] Gravo teu nome de advento. [...] Gravo teu nome de intento. [...] Gravo teu nome de tento. [...] E gravo teu nome o vento, Rondon de morrer talvez, Rondon do matar jamais.” Stella Leonardos ressalta que Rondon defendeu o lema, “Ainda mesmo que alguém da expedição seja ferido pelos guerreiros do Juruena, nenhuma represália deve ser movida contra os atacantes: no seu justo direito, defendem as suas terras e as suas famílias.” Rondon, de acordo com Stella Leonardos, ressaltou numa das ocasiões, “[...] Tudo foi feito pelos meus dedicados auxiliares. Eu nada fiz. O que eu fiz qualquer um pode fazer” ... Para concluir, a indagação de Stella Leonardos, da qual compartilho, “(Será só querer? Será? E o valor desse querer?).”
 
Trabalhos consultados: FIDALGO, Alcides e CABRAL, Mário César (Criação e Textos). Nosso herói Rondon. (Organização, Curadoria e Concepção de Patrícia Civelli). Instituto Cultural Cidade Viva; MAGALHÂES, Amilcar A. Botelho. Rondon uma relíquia da Pátria. Curitiba: Editora Guaíra, 1942; SILVA, V. Benicio da e BRANCO, Firmino Lages Castello. Rondon. Civilizador do Sertão. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1952; LEONARDOS Stella. Memorial de Rondon. Cuiabá: EdUFMT, 1995; VIVEIROS, Esther de. Rondon conta sua vida. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1958. 


Fernando Tadeu de Miranda Borges é Membro da Sociedade de Amigos de Rondon. Professor Titular da UFMT.
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