Olhar Direto

Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Opinião

Conturbado Debate na Globo

Conturbado foi o debate dos presidenciáveis na noite desta quinta-feira (29) na Globo. O último evento às vésperas das eleições, que acontecem neste domingo (02), acrescentou pouco ao eleitor indeciso e aos que cogitam aderir ao voto útil. Lula (PT), com baixa vibração, perdeu a oportunidade de avançar sobre adversários, empolgar eleitores e, quem sabe, consolidar vitória em primeiro turno.

O evento, liderado pelo âncora do Jornal Nacional William Bonner, contou com a presença de candidatos com menor representatividade popular (nanicos) cujos partidos possuem presença no Congresso Nacional, o que garante o passe ao debate. É o caso do mais histriônico deles, o Padre Kelmon (PTB). O suposto sacerdote reiteradamente frustrou o conjunto de regras estabelecido pela organização do debate, avançou sobre falas de adversários, atacou e promoveu discursos fora do tema proposto pelo debate. Seu maior alvo, como já era esperado, foi o ex-presidente Lula (PT). O petista chegou a cair na cilada de perder a paciência em algum momento, desferindo agressões pessoais ao petebista - o que, nem de longe, causa boa impressão ao seu eleitor.

Destaques positivos foram: Simone Tebet (MDB), com eloquência e capacidade de síntese notável (advindos de sua experiência como advogada, professora e senadora), Soraya Thronicke (União Brasil), que não se furtou de estabelecer limites ao padre Kelmon, por vezes provocando-o com adjetivos e ironias, com destaque para "Padre de Festa Junina", o que rendeu bons memes nas redes, ainda na noite de ontem.

Ciro Gomes (PDT), Felipe D´avila (Novo) e Jair Bolsonaro (PL) tiveram desempenhos lineares. Ciro apresentou sua tradicional fome de dados complexos, ironias contra Lula e soluções elaboradas que pouco tocam os corações dos eleitores, que buscam um linguajar mais simples, direto e passional. D´avila, que manteve seu discurso neoliberal de escritório, foge pouco do script, agrada seu público cativo, mas revelou alguma dificuldade com o tema racismo e cotas, ao dialogar com Lula (PT). Por fim, Bolsonaro (PL) teve desempenho pouco acima do esperado. Demonstrou relativa calma, apesar de expressões faciais irônicas (que causam efeito bastante negativo entre os eleitores), deixou para o colega (por vezes denominado "laranja") Kelmon (PTB), a função de atacar adversários diretos e defender seu mandato. Destes, o último teve o mais empolgante discurso de encerramento, em contraste com Lula (PT), que apresentou um discurso morno e de baixa vibração, desperdiçando uma chance ímpar de arrancar votos úteis de Tebet e Ciro.

No geral, o debate da Globo (que apresentou média de audiência de 26 pontos, bastante abaixo de um dia comum da novela "Pantanal) foi aquém do esperado. Debates ruins, poucas propostas, tempos de réplica e tréplica bastante curtos e muitos sarcasmos e ironias. Não era, certamente, o que esperava o eleitor.
O impacto disso nas eleições que se avizinham talvez seja o mínimo. Lula pode oscilar minimamente para baixo e Bolsonaro, para cima. Se a variação causada pelo impacto do debate da Globo será suficiente para consolidar um segundo turno, só o tempo dirá. O fato é que Lula (PT) perdeu uma boa oportunidade de empolgar, de contagiar e avançar sobre indecisos, roubando votos úteis. Sua presença no debate da Globo, ontem, foi pouco útil nesse sentido. 

PAULO VICTOR FANAIA TEIXEIRA é jornalista e mestre em sociologia
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