Olhar Direto

Domingo, 28 de abril de 2024

Opinião

Vidas terceirizadas

Nossas atividades diárias têm-se aumentado à medida de nossos avanços tecnológicos, nos tornando tão máquinas quanto nossas ferramentas. O que viria para facilitar nossas vidas, está nos escravizando, nos transformando em certo ponto mais dos mesmos. E muitos se sobrecarregam incessantemente para de diferenciar e um dia chegar no pódio do sucesso, com status perante a sociedade, familiares e afins.

E muitos desses desejos nem mesmo são os nossos de fato, nossas convicções de coração. Realizamos o desejo imposto moralmente por esse pessoal aí de cima, e em alguns casos em que podiam ser breves mas por circunstâncias diversas impôs nossos estudos, nossa profissão e tornou o nosso estilo de vida. E nosso estilo de vida é feito tanto de ação quanto de omissão. O quanto nos omitimos com nós mesmo, com nossas vontades estagnadas buscando agradar terceiros, sendo covardes com nossas essências.

O que gostaríamos de fazer, com paixão, por vocação, aquilo que faríamos sem ver a hora passar, foi colocado em escanteio. A bem da verdade, fracionamos a vida em antes e depois. Estamos constantemente sabotando eventualidades com os amigos, com o companheiro, com os filhos, para lá na frente ter condição de ter um bom momento com eles, como se resumisse num final feliz de novela.

Um verdadeiro paradoxo.

Estamos sabotando bons momentos para futuramente ter bons momentos. As buscas incessantes nos cegam em achar que um dia estaremos realizados e nosso presente acaba nunca sendo presente.

Tardiamente descobrimos que nossas realizações eram poucas nossas, fizemos o que fizemos para agradar terceiros e nossa realização pessoal vai ser imposta agora aos nossos filhos, por meio de nossos sonhos. Talvez nossas realizações até fossem de fato nossas convicções, nossos desejos. Mas todos os sabotamentos foram desproporcionais demais.

Vimos todos os dias o crescente número de suicídio, mais frequente em países onde a imposição da sociedade se faz primária que a do indivíduo, como no Japão. Lá, o cidadão coloca a sociedade em primeiro plano, o negócio e a família em segundo e o que sobra é dele. O resultado disso é um suicídio a cada 17min.

Um aprendizado dessa realidade japonesa é conciliar os prazeres, ou seja, nossas realizações, desejos pessoais, com as todas as demais obrigações adultas, sejam conjugais, profissionais, religiosas e afins, dosando sabotamentos com realizações na medida do possível simultaneamente.

Isto é, não vamos prostituir nossos sonhos, terceirizar nossas vidas, nossos momentos buscando desejos que nem são nossos. Ou ainda que sejam, mas colocados num futuro muito distante. It's time. Estejamos certos de que estamos com doses diárias de obrigações mas também de bons momentos hoje, e primariamente nossos. Nossa frustração ou satisfação depende disso, se for para fazer ou se omitir, que seja por nossas próprias convicções.

E esse policiamento cabe a vários horizontes. Se por um lado têm-se o protagonista de nossas vidas, podemos estar sendo o carrasco psicológico de alguém também, impondo nossas convicções culturais, religiosas, morais a bem de nossos interesses pessoais.

Vigiai-nos.


Rodrigo Rocha de Oliveira é funcionário público, formado em Recursos Humanos e em Direito.
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