Olhar Direto

Quarta-feira, 01 de maio de 2024

Opinião

Reação alérgica pode matar

Jovem de 24 anos, alérgica a proteína do leite de vaca, morreu por anafilaxia após usar colher já utilizada em leite.

Em outubro de 2022, um dos boletins Livre Alimentar veiculado no jornal Mato Grosso no Ar, teve por tema: “Não meta a colher.” E agora em janeiro de 2023, o tema se aplica totalmente a trágica morte da jovem Jess Prinsloo de 24 anos, na cidade de Joanesburgo, por reação alérgica alimentar, e quatro dias após ter sido pedida em casamento por seu namorado Craig McKinnon.

Um trecho do boletim diz o seguinte: “então fica a dica por favor: não meta a colher onde não é o lugar dela. Se a colher é do arroz, não deve ser utilizada para servir nenhum outro alimento além do arroz.”

Ouça o boletim:

https://livrealimentar.com.br/2022/10/07/boletim-livre-alimentar-nao-meta-a-colher/

No caso da jovem Jess, de acordo com tudo que foi noticiado, ela teria usado uma colher para mexer seu chá, sem saber que a mesma colher já havia sido utilizada em leite. Portanto, a colher que havia sido exposta ao leite, transportou proteína do leite de vaca para o chá da jovem, que acabou sofrendo a reação mais grave por alergia alimentar, que é a anafilaxia.

Jess Prinsloo havia sido diagnosticada com alergia a proteína do leite de vaca aos 9 meses de vida. Segundo seu noivo Craig, ela havia lhe relatado pelo menos duas reações graves ao longo da vida, portanto, era muito consciente de sua condição, como também muito bem orientada em relação a utilização do dispositivo auto injetável de adrenalina, que é a única medicação capaz de interromper uma reação alérgica grave e salvar a vida do alérgico. No entanto, mesmo tendo utilizado a caneta de adrenalina durante a reação pós utilização da colher que levou leite para o chá que tomou e tendo sido socorrida e levada para o hospital, Jess morreu no dia seguinte, dia de ano novo.

Não se sabe exatamente porque Jess acabou morrendo, apesar de ter utilizado o dispositivo de adrenalina, ter sido socorrida e levada a uma unidade hospitalar. Algumas possibilidades cogitadas são de que apenas um dispositivo de adrenalina foi insuficiente ou que tenha sido aplicado cedo demais.

Em 19 de janeiro de 2023, a pequena Emerson Kate Cole de 10 anos de idade, também morreu, vítima de uma reação alérgica anafilática nos Estados Unidos. Emerson teria sofrido uma reação alérgica na escola onde estudava, foi socorrida e levada ao hospital, porém também acabou não resistindo e veio a óbito.

Certamente toda a comunidade mundial de alergia alimentar ficou em choque com essas duas mortes em menos de 20 dias. Todos se solidarizam com os familiares e amigos. Além disso, o medo também se espalha rapidamente, podendo inclusive fazer com que essas pessoas que de certa forma estavam saindo da bolha, assumindo suas condições e lutando por conscientização, voltem a ficar mais introspectivas e se isolem por medo e insegurança.

Mesmo diante desse cenário tão triste e incerto, ainda nos deparamos com pessoas que brincam com a alergia alimentar, colocando em risco suas próprias vidas e de outros que incentivados por elas, decidam se testar também, esquecendo que reações alérgicas são imprevisíveis e a gravidade pode variar.

Recentemente o perfil no Ig @_maycontain, fez uma denúncia sobre um perfil de uma jovem influencer com alergia alimentar no tik tok, após ela postar um vídeo comendo diversos tipos de alimentos e dizendo coisas do tipo “vamos ver o que vai me dar reação”. Após comer algumas coisas, ela sai correndo dizendo que algo deu errado.

Alergia alimentar não é brincadeira! Um gole, um pedacinho ou um toque pode matar!

https://livrealimentar.com.br/2022/09/26/um-gole-pode-ser-fatal-jovem-de-18-anos-morre-apos-experimentar-drink-de-amigo/

Sobre o medo que se abateu sobre a comunidade, deixo aqui um trecho de um texto que a Dra. Ariana Yang, médica alergista, especialista em alergia alimentar, escreveu:

“Alguns negam o medo, mas esse não é o caminho. Sentir medo é normal, e funciona como um mecanismo de proteção; um alerta para agir quando estamos em perigo. O medo e a dor preservam a vida. Porém, o medo não deve ser uma forma de vida, em excesso impede novas experiências e oportunidades.”

Ela encerra dizendo o seguinte:

“O que temos é hoje, para aprender, para melhorar, para construir. Vivo diariamente situações de risco, já tive mito medo de fazer tudo que eu faço, aprendi dar passos pequenos e seguros, fui mais longe do que imaginei que conseguiria ir, ainda enfrento desafios, eu também tenho medo... o que eu faço? Estudo, me preparo, oro... e confio.”

Assim também encerro esse texto longo, que escrevi com muito cuidado, tristeza e respeito pelos que se foram, pelos familiares, amigos e toda a comunidade enlutada e respeito também pela alergia alimentar sim. Afinal, ela é grave, pode ser fatal, já ceifou a vida de tantos de forma tão precoce e até hoje rouba a qualidade de vida de tantas famílias, como roubou da minha por anos. Portanto, após o diagnóstico concluído, é preciso respeitá-la para que se possa ter vida e vida em abundância.

Ah, já ia esquecendo. Enquanto isso no Brasil, não temos acesso ao dispositivo auto injetável de adrenalina.

Até quando? Quantas pessoas mais precisarão morrer para as autoridades começarem a se importar e o processo andar?

https://livrealimentar.com.br/2022/06/30/boletim-livre-alimentar-109-aconteceu-e-nao-virou-noticia-por-que-nao/

Leda Alves

Para acessar os links citados acima, clique aqui:

https://livrealimentar.com.br/2023/01/27/jovem-de-24-anos-morre-por-reacao-alergica-anafilatica/
 
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