Olhar Direto

Domingo, 05 de maio de 2024

Opinião

Barão de Melgaço e a lei do transporte zero

Quando ainda guri, jogávamos futebol em um campinho improvisado, no quintal do Sr. Júlio Muller. Nessa época ele tinha um frigorífico que trazia peixes de couro, (Cachara, Pintado e Jau) de Barão de Melgaço, congelava e ele era distribuído para podo o país. A concorrência aumentou tanto e já com idade avançada ele acabou saindo do ramo. Em qualquer restaurante no país em que se pedia peixe de Rio e indagado de onde vinham, logo informavam; Mato Grosso.

Barão vivia o auge do seu progresso; agências bancárias, diversos frigoríficos, pousadas, restaurantes e acampamentos de pescadores de todo o país, atraídos pela fartura dos peixes. O dinheiro corria solto na Cidade.

Passei a frequentar a região a partir de 1977 e a pesca era sempre proveitosa, com poucas horas, estávamos de volta a nossa propriedade na Baia de Chacororé, com peixe para o almoço e jantar. Nunca transportei um exemplar sequer.

Com o passar dos anos essa fartura se transformou em miséria, refletindo em sua população, que basicamente passou a viver de benesses dos Governos. Bolça Família e outras esmolas.  O salário concedido durante o período de defeso, aos pescadores profissionais, foi mais uma dessas esmolas mal administradas. O pior de tudo é que continuaram pescando e fazendo uso de instrumentos predatórios durante esse período, apesar de receberem um salário mínimo para que parassem a atividade e a natureza cuidasse de repovoar o Rio. Na Baia de Chacororé, redes de mais de 1500m são usados e para que esse feito seja mais proveitoso, destroem a barragem que mantem  minimamente o seu níveo.  Dessa maneira, concentrando os peixes na pequena porção de água, que já foi no período de seca de 10.000ha e hoje, pelo menos 50% do que já foi água, é ocupado por pastagem e gado. O pior de tudo, é que esse peixe não dava entrada nos restaurantes locais, que por diversas vezes, teve de oferecer galinha com arroz aos turistas, pois os predadores eram obrigados a enviar o peixe pego de maneira proibida, para Cuiabá, “são os atravessadores”.

A pá de cal nessa fartura que era essa região, se deteriorou ainda mais, com o fechamento dos corixos, construção de diques marginais artificiais e estradas diques. A implantação de tablados e sevas, foi a gota d’água para matar de vez a piscosidade do Rio Cuiabá, uma vez que da cidade de Santo Antônio até  Barão de Melgaço, 1500 equipamentos desses, estão operando, jogando no Rio toneladas de milho e soja podres e fazendo do peixe preza fácil, além de serem exemplares abaixo da medida estabelecida. Essa prática, impediu o ciclo natural que é o peixe, sair gordo do Pantanal na vazante e subi-lo, queimando gordura e desenvolvendo o aparelho reprodutivo, “produzindo ovas” que nas primeiras chuvas dessem o Rio; as fêmeas lançando as ovas e os machos o esperma, perpetuando e transformando o Rio Cuiabá, naquele que já foi o mais piscoso, apesar de estar em uma área muito populosa.

O Pantanal é pródigo para a reprodução dos peixes, no entanto apesar dessa sua natureza, estamos retirando do Rio, mais do que ela é capaz de repor, portanto essa pausa é importante para a sua recomposição, desde que as obras criminosas realizadas, fechamento de corixos, tablados e sevas, etc.........,sejam banidas.
O resultado desse descaso com as questões ambientais, e a procura por um meio de vida mais digna, fez sua população em 12 anos, decrescer em 8,89%. O mais sério ainda, é que entre os 141 Municípios, cuja população no total cresceu mais de 20% e com ela a riqueza, a renda per capta de município de Barão de Melgaço, é a mais baixa do Estado, R$201,00.

Triste fim para um Município agraciado pela natureza pelo Rio Cuiabá e Baias entre tantas; Recreio, Buritizal, Chacororé, Sai Mariana, etc......
Tenho certeza que os arautos do conhecimento pessimista e falsos defensores ambientais, me contestarão; e os esgotos? e o lixo? e eu esclareço desde já. Análises feitas no Rio Cuiabá na ponte JK, mostra que o oxigênio dissolvido, está na faixa de 6mg/l, muito maior que em diversos pontos no Pantanal por causas naturais. O Lixo, esse sim nos preocupa, pois agride a beleza cênica dessa bela e inigualável região, porem sem interferir na renovação e manutenção dos cardumes.

Meus parabéns ao Governo e Deputados que aprovaram essa Lei e meu desprezo à aqueles que a rejeitaram.
O tempo de cinco anos, podendo pescar, apenas não podendo transportar, dará vida nova ao Rio e emprego e renda a essa população escravizada de Barão de Melgaço.


Rubem Mauro Palma de Moura 
xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet