Em 39 anos de atuação na área médica mato-grossense, vivenciei muitas histórias. Nasci em Cuiabá, mas me formei em Medicina em Curitiba (PR). Formado, retornei à Capital e comecei a trabalhar no Hospital Geral – que fica no mesmo lugar até hoje.

Trabalhava dia e noite e chegava a fazer cinco, seis cirurgias diariamente. Era uma rotina extenuante, mas um período de conhecimento extremamente precioso para um médico em início de carreira.

Exercia ainda a função de médico legista. As atividades eram realizadas em condições precárias e, no momento oportuno, apresentei ao governador Garcia Neto (à época) a real situação. Foi então que, em 1978, fui nomeado diretor do Instituto Médico Legal. Um prédio, na Prainha, que abrigava uma cadeia com prisioneiros de alta periculosidade, foi desocupado, reformado e passou a ser a sede do IML do Estado.

Após quatro anos de uma rotina intensa de trabalho, decidi que aquele era o melhor momento para iniciar um audacioso projeto. E, em 1980, fundei o primeiro hospital privado de Cuiabá, o Hospital Infantil e Maternidade Femina.

Inicialmente, a Femina ficava no bairro Bandeirantes e apesar de ser um empreendimento novo, contávamos com uma boa infraestrutura e tecnologia moderna. Anos depois, necessitamos de um prédio maior e nos instalamos próximo à avenida do CPA – onde estamos até hoje.

Atuei em Cirurgia Geral por 19 anos, depois optei somente pela especialidade de Ginecologia e Obstetrícia. Ao todo, realizei mais de 40 mil partos em Cuiabá. E quando passei a ter muitas pacientes de mama, me especializei em Mastologia, área que permaneço até hoje.

Durante todo esse período de trabalho – entre implantar o primeiro IML, o primeiro hospital privado de Cuiabá, passar por três especializações – exerci, de forma ativa, militância na área médica.

Sou associado da Unimed Cuiabá há 20 anos e ocupei o cargo de presidente por dois mandatos: entre os anos de 2004 até 2010. A primeira eleição foi um marco porque houve uma mudança de grupo e, naquele período, a Unimed passava por dificuldades financeiras e a remuneração dos médicos não era favorável.

Foi então que cessamos a tomada de empréstimos bancários, o que estava ocorrendo de forma sistemática na entidade. O valor era financiado para realizar os pagamentos dos honorários dos cooperados. Abandonamos esse modelo, deixamos de arcar com os juros mensais e rateávamos com os cooperados somente o valor remanescente.

Conseguimos melhorar a remuneração médica e instituímos um encontro mensal, o que possibilitou que o cooperado e a sua família ficassem mais próximos da Unimed. Com o tempo, nos tornamos uma grande família. E essa mudança foi percebida no dia a dia. À medida que o cooperado foi ficando satisfeito, passou a se relacionar melhor com o próprio cliente.

Também regularizamos a questão tributária, pois até aquele período, a Unimed não recolhia impostos. A partir daí a cooperativa passou a ser Substituta Tributária, responsável em recolher os impostos de hospitais e laboratórios e repassar à Prefeitura de Cuiabá. Essa ação foi muito benéfica tanto para a Unimed quanto para a administração pública municipal.

Para atender as demandas sociais, criamos, em 2004, o PróUnim - Programa Unimed de Ação Social -, que obteve a autorização do Ministério da Justiça para atuar como Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).

Naquele período, a Unimed Cuiabá foi considerada uma das melhores do Brasil. E para ser considerada ideal, a cooperativa deve atender bem o cliente e garantir uma boa remuneração ao cooperado. A existência de uma cooperativa, invariavelmente, depende dessas duas condições.

A minha trajetória profissional confunde-se com a história da área de saúde do Estado porque participei ativamente de questões que envolvem a saúde pública e privada de Mato Grosso. O passado nos mostra que a junção de esforços pode resultar em avanços ágeis e concretos. Com dedicação e empenho podemos promover mudanças e obter grandes conquistas.

Kamil Hussein Fares é médico Mastologista em Mato Grosso