Olhar Direto

Terça-feira, 30 de abril de 2024

Opinião

Karl Marx, o ídolo das esquerdas errou

Instigo o leitor a um pequeno exercício cognitivo. Imagine que você faça uma poupança por um período de dois anos e acumule um pequeno capital de R$ 20.000,00. De posse destes recursos monta uma pequena fábrica de confecção de peças de vestuário. Especializa-se na produção de camisas masculinas. Para tanto, adquire duas máquinas usadas, tesouras e outros objetos necessários à produção (bens de capital). Contrata uma costureira, remunerando-a com um salário mínimo (custando quase dois salários com os encargos). Com o restante dos recursos, adquire bens de consumo (matéria prima) para a fabricação das camisas.

Sua costureira consome duas horas para confeccionar uma camisa. Trabalhando oito horas/dia, produz quatro camisas ao final do expediente. Pergunta-se: qual o valor (preço) que você fixará para a venda deste produto? A quantidade de horas gastas pela costureira para confeccionar uma camisa (duas horas) será fundamental para a composição do preço? Um colega micro-empresário ao lado da sua confecção, trabalha com produção de sapatos. Seu funcionário consome quatro horas para fazer um par de sapatos. Pergunta-se: duas camisas da sua confecção equivalem a um par de sapatos da fábrica ao lado?

Não tenho dúvidas de que você, intuitivamente, mesmo que não conheça nada da teoria econômica, já depreendeu que o trabalho humano para criação de uma mercadoria constituirá parte dos custos de produção (trabalho é um fator de produção) e, consequentemente, deverá fazer parte da composição do preço final.
Contudo, pergunto: e se ninguém da sua cidade usar camisa? Se, nesta cidade, todos os homens usam apenas camisetas? Suas camisas, por mais que foram bem confeccionadas e sua costureira gastou duas horas para produzi-las, terá valor? Se ninguém demanda o seu produto, ele vale? Quanto? Contudo, em sua cidade os homens usam sapatos. A demanda é razoável e existem apenas três fábricas. Pergunto: o fabricante de sapatos trocaria um par de seus sapatos (que consumiu quatro horas para ser produzido) por duas camisas da sua fábrica (que consumiram também quatro horas para serem produzidas)?

Você deve estar pensando que o articulista é meio “retardado” para fazer perguntas tão óbvias. Provavelmente você já deduziu que produzir camisas onde não há demanda é uma insanidade e, por mais que se invistam horas em sua fabricação, elas não terão valor no mercado. Jamais o fabricante de sapatos trocaria um de seus pares de calçado por suas camisas, independendemente de quantas horas você consumiu para produzi-las. Com efeito, você conclui, o valor de uma mercadoria não depende apenas da quantidade de trabalho gasto para produzi-la, ou seja, o valor da mercadoria não é “objetivo” mas sim “subjetivo” (é o sujeito que valora a mercadoria de acordo com sua necessidade, ou seja, depende do uso e do grau de importância pessoal).

E como nosso glorioso filósofo Karl Marx (1.818 / 1.883), sustentado (financeiramente) pelo seu amigo Friedrich Engels (1.820 / 1.895), quando escreveu sua mais famosa obra, “Das Kapital” (O Capital) descreveu esse fenômeno? Nesta obra, escrita em 1867, Marx faz uma análise crítica sobre o modo de produção capitalista, o qual vivia seu auge no século XIX com a Revolução Industrial. As condições de trabalho nas fábricas, à época, comparada aos dias de hoje, realmente não eram as melhores. Contudo, Marx teorizou que o valor de uma mercadoria dependia diretamente da quantidade total de trabalho utilizada em sua produção. Por isso é que, para Marx, duas camisas (quatro horas para produzir) da fábrica do nosso exemplo, valem o mesmo que um par de sapatos (quatro horas para produzir) da outra fábrica.

Como explicou Carl Menger (1.840 / 1.921; fundador da escola austríaca de economia) o valor de um bem não deriva da quantidade de trabalho despendida em sua fabricação. Um homem pode gastar centenas de horas fazendo sorvetes de lama, mas se ninguém atribuir qualquer serventia a estes sorvetes de lama — e, portanto, não os valorizar o suficiente para pagar alguma coisa por eles —, então tais produtos não têm nenhum valor, não obstante as centenas de horas gastas em sua fabricação.

Na verdade, para ser justo com Marx, essa teoria do valor-trabalho não é criação dele. Ocorre que os economistas clássicos, como Adam Smith (1.723/1.790; autor de “A Riqueza das Nações” – 1776) também cometeram esse erro. Marx, no afã de comprovar sua teoria da “exploração capitalista” apropriou-se da teoria do valor objetivo da mercadoria e sobre ela construiu toda a sua tese econômica. Assim, para nosso Marx, essa teoria do valor-trabalho constituía o “cerne” de porque o capitalismo estava fadado ao fracasso e seria substituído pelo socialismo em um primeiro estágio, culminando com o comunismo (onde desapareceria a figura do estado). Marx nunca explicou como se daria essa passagem. Dessa forma, ele “provava” que os lucros dos capitalistas eram “apropriados” dos pobres trabalhadores, sendo que o correto e moral seria que estes ficassem com o valor daquilo que produziram.

Reza a lenda que Menger teria enviado sua obra para Marx, que então teria desistido de publicar os volumes seguintes de “O Capital”, visto que toda a base de sua teoria havia desmoronado com a revelação da verdadeira origem do valor.

Mas é só isso? Você pergunta. Não é possível que o famoso Karl Marx, tão decantado em prosa e verso nos meios acadêmicos e intelectuais tenha errado tanto? Pois é meus amigos, é exatamente isso. Essa confusão fundamental sobre o valor do trabalho é o cerne da crítica marxista ao capitalismo.

Ludwig Von Mises (1.881/1.973), ainda em 1920, já declarava em suas obras de economia para o fato de que sem a propriedade privada dos meios de produção, torna-se impossível a formação real dos preços no mercado. “Se os meios de produção (fábricas, máquinas e ferramentas) não possuem proprietários definidos (eles pertencem ao estado), então não há um genuíno mercado entre eles.  Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços.  Se não há formação de preços, não há cálculo de lucros e prejuízos e, consequentemente, não há como direcionar o uso de bens de capital para atender às mais urgentes demandas dos consumidores da maneira menos dispendiosa possível”. Com efeito, conclui o economista, sem preços livres, e sem poder fazer cálculo de custos, é impossível haver qualquer racionalidade econômica, significando, na prática que o modo de produção socialista/comunista (propriedade estatal dos meios de produção), ou seja, uma economia centralizada/planejada constitui na verdade um paradoxo: ela é impossível.

Mas, porque ainda existem tantos defensores de tal modelo econômico? Ou, melhorando a pergunta: quem são os defensores deste modelo? Não sabem eles de tudo o que foi demonstrado de forma superficial aqui? Para responder essas questões, lembre-se de que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ao desintegrar-se em 1991, estava repleta de milionários e bilionários. Como poderia haver milionários em uma sociedade socialista/igualitária? Simples, socializa-se apenas a pobreza. Sempre existirá uma casta de privilegiados nesses sistemas que estarão muito longe desse coletivismo. Todo esse arcabouço insano de organização social é mantido e legitimado pelo trabalho de intelectuais a serviço do estado socialista. Ou seja, “pobre” não sabe o que é isso. Nunca passou nem perto de qualquer literatura de tais pensadores. O que existe é um discurso de caráter proselitista, gestado principalmente nas universidades públicas (departamento de humanas), que visa convencer e converter a população jovem utilizando-se de argumentos falaciosos e sofismáticos.

Assim, discursa-se a teoria da “exploração”, da “mais-valia”, das “classes”, dos “injustiçados”, da “crueldade” do capitalista e do “explorado” proletariado (“coxinha” versus “mortadela” aqui no Brasil). Toda a teoria não resiste a uma investigação à luz da razão. Já foi sumariamente desconstruída por economistas aqui citados, entre eles destacamos ainda Friedrich Hayek (1.899/1.992; prêmio Nobel em economia de 1.974), o qual demonstrou de forma admirável que, no mundo real, a informação está dispersa entre uma imensidão de indivíduos, daí, novamente, a impossibilidade teórica e prática de haver um planejamento central da economia, como restaram comprovadas em todas as fracassadas tentativas de imposição desse modelo econômico.

Esta é a breve história de como um modelo de sociedade foi pensada, testada e reprovada, mas ainda assim, fascina tanta gente. Se quiserem conferir, basta ler os estatutos de partidos comunistas no Brasil e verão que o objetivo principal de sua atuação política é chegar a implantação desse paradigma de sociedade. Alguns vão amenizar o nome para “socialismo democrático”, contudo, é apenas eufemismo para socialismo/comunismo.

Os modelos de organização social pensados em termos de igualdade material, suprimiram a liberdade. Independente de qual espectro político você defenda, estou convicto que a saída é sempre lutar pela liberdade e a igualdade perante a lei. Se esta for a proposta da direita, então sou um defensor!
 

Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado. (rodriguesadv193@gmail.com)
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