Em uma década que Whitney Houston e Elza Soares estavam no auge de suas carreiras, uma boate LGBTQIA+ também fazia sucesso em Cuiabá. Localizada entre as avenidas Fernando Corrêa e Miguel Sutil, a Pantera se tornou no final da década de 1980 um local acolhedor para a comunidade marginalizada e contou, inclusive, com uma visita de Gretchen. A história da boate é contada pelo projeto
“Pelos Olhos da Pantera”.
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Pantera foi resultado das reuniões no Jejé’s Dancing, um bar para a comunidade “GLS” - termo não usado nos dias de hoje. Localizado no Beco do Candeeiro, não demorou muito para que o bar ficasse pequeno, então o grupo foi para a boate Apocalipse, que mais tarde acabou se tornando Panteras.
Segundo os entrevistados pelo projeto, os discos dance eram trazidos diretamente de Londres, na Inglaterra, pelo gerente do estabelecimento e garantiam a trilha sonora que deu fama e a diferenciava das outras casas de shows. Panteras ainda possuía performances de drag queens, que passavam por uma seleção e os shows eram submetidos a uma escala.
“A gente fazia um apanhado na quinta-feira com todo mundo para pegar os melhores. Aí no sábado a gente já levava o filé para as pessoas verem o que tinha em Cuiabá de bom”, explica o designer de fantasias Luciano Sousa, um dos responsáveis pela escolha dos shows. “Lá ia todo mundo: gay, hétero, travesti. Tinha famílias que iam assistir aos shows. Era um lugar acolhedor, sem violência, uma pessoa conhecia a outra e uma protegia a outra”.
Em um dos pontos mais altos desta trajetória, o pastor Joelson de Souza lembra que a cantora Gretchen chegou a rebolar no palco, se apresentando ao seu lado. “Meu papel nessa época era a Gretchen. No dia, eu estava me preparando para o meu show quando chegou o aviso nesse dia que eu ia dublar com a Gretchen de verdade. Fiquei assustadíssimo. Ela disse que eu estava muito bem. Eu fico na minha modéstia.”
Panteras fechou suas portas em 1992. O que permanece unânime e intacto entre eles, contudo, é a saudade e o orgulho. “Nunca me senti mulher, meu desejo não era esse. Mas tinha a coisa do desafio da transformação. Quando você conhece alguém fora do palco e depois vê a drag no palco, é outra pessoa. Isso que fascinava a gente.”, conclui o professor aposentado Adão Lesco.
Os relatos de Adão Lesco, Ju Silva, Luciano Souza e Joelson de Souza compuseram o projeto “Pelos Olhos da Pantera”. Com recursos da Lei Aldir Blanc, o projeto conta com um minidocumentário, que será lançado em breve e playlist com as principais músicas tocadas à época. Para acessar o site,
clique aqui.
“Pelos Olhos da Pantera” conta com pesquisa e curadoria do jornalista André Garcia e produção visual do fotógrafo Henrique Santian.
(Com assessoria)