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Sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

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Comemos formigas na Amazônia, uma mujica ‘diferente’ e a ficha caiu: a culinária cuiabana é indígena

Foto: Pelos Brasis

Pratos servidos no Biatuwi - primeiro restaurante indígena do país

Pratos servidos no Biatuwi - primeiro restaurante indígena do país

Olá, viajante. Estamos em Manaus! Capital do Amazonas, metrópole amazônica com mais de 2 milhões e meio de habitantes, polo industrial e potência cultural do Norte do país. Nossa chegada até aqui não foi fácil (como relatamos na coluna passada), mas cada partícula de poeira que respiramos na BR-319 valeu a pena. Manaus tem uma cena cultural muito própria e intensa, em grande medida puxada e fomentada pela presença do Teatro Amazonas, imponente obra de estilo renascentista do século 19, fruto da fortuna levantada nos ciclos da borracha. A cidade também tem como ponto forte a gastronomia, com identidade indígena preservada – e muitas semelhanças com a nossa.


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Banhada pelo Rio Amazonas, Manaus oferece grande variedade de peixes, um deleite para cuiabanos apaixonados pela culinária ribeirinha. Tambaqui e pirarucu são as principais estrelas dessa festa gastronômica, mas apenas duas opções em meio ao sem número de espécies que vivem no mais caudaloso rio do mundo. O tambaqui sem espinha assado é um clássico onipresente nos restaurantes, mas há oferta de peixes fritos, ensopados, em caldeirada, ao molho de tucupi, marinados, secos (em preparo semelhante ao bacalhau) e até onde a imaginação alcançar.



Os peixes tradicionais na culinária cuiabana se fazem presentes também, mas o pacu, ao invés de fatiado em ventrechas, é frito inteiro. O nosso pintado, aqui conhecido como surubim, não é tão valorizado, mas é disponível e, até por isso, por valores mais acessíveis. Aqui, a culinária indígena aparenta ser mais preservada, com uma identidade clara. E como em muitos casos os preparos são semelhantes, nos fez perceber que em grande medida, a gastronomia cuiabana é herança direta dos povos tradicionais.
 

Isso nos ficou mais evidente ainda quando fomos conhecer o Biatuwi, uma casa de comida indígena instalada no centro histórico de Manaus. Aliás, é o primeiro restaurante de comida indígena do país – destaque até no jornal The New York Times. A ideia do restaurante é manter a hábitos ancestrais, sob o elo de cultura e alimentação, e reconstruir a tradição indígena. Provamos lá dois tipos de formigas, presentes em diferentes preparos, mas também comemos pratos que foram absorvidos pela cultura não-indígena.
 

No Biatuwi tem matrinxã assada em folha de cacau, banana da terra assada e um prato chamado mujeca. Apesar da grafia diferente e de pequenas mudanças, a comida é muito semelhante à mujica “cuiabana”. A diferença é que o peixe é desfiado e o caldo é engrossado com goma, ao invés de ser com pedaços de mandioca. Encontramos mais variações da nossa mujica – na grafia e no preparo - no resto de nossas andanças pelo Norte do Brasil (preparos com camarão e outras proteínas), mas cada coisa no seu tempo. O foco hoje é Manaus.


Cartaz sobre hábitos alimentares indígenas no Museu da Amazônia (Musa) mostra grafia diferente e outro modo de preparo da mujica.
 
Mas vale uma ressalva aos que talvez nos dirijam impropérios na caixa de comentários. Estamos falando de origens de preparos que foram incorporados por não indígenas e que sofreram mudanças e adaptações através dos anos. Temos noção disso. Lembrando também que estamos aqui apontando semelhanças com hábitos alimentares de povos do Baixo Amazonas e do Alto Rio Negro e que a gastronomia cuiabana bebe em mais fontes, em mais mistura de povos e tem influência também de sua localização geográfica. Aliás, quando estivemos em Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso, entrevistamos a líder chiquitana Vanda Vilas Boas que apontou mais hábitos alimentares cuiabanos que advém de povos indígenas que habitavam a região fronteiriça entre o que hoje é Brasil e Bolívia. Veja abaixo:



Cultura
 
Não dá para falar de Manaus sem pontuar as opções culturais da cidade. A capital do Amazonas tem estruturas históricas que remontam ao ciclo da borracha, fase em que o Brasil era o único fornecedor do mundo da matéria-prima para a fabricação da borracha. Já abordamos em outras colunas e no nosso canal como a exploração do látex foi desigual e explorou a mão de obra de gente pobre (inclusive de trabalho escravo) e enriqueceu uma elite.
 
Para se ter uma ideia do grau de desigualdade que estamos falando, enquanto seringueiros viviam na floresta em condições de miséria trabalhando nos seringais, os comerciantes do látex no mercado internacional mandavam suas roupas de navio para serem lavadas na Europa, por acharem que as águas escuras da Amazônia não seriam suficientes para limpa-las.
 
Em meio a essa riqueza concentrada nas mãos de poucos, que Manaus viveu sua belle époque. Foi a primeira cidade a ter calçamento com ondas em branco e preto, antes de o Rio de Janeiro instalar a famosa passarela de Copacabana. Aqui, a combinação de cores simboliza o encontro do Rio Negro com o Rio Solimões.
 
Pelo centro da cidade, estão espalhadas heranças deste período. A mais vistosa de todos é a obra do Teatro Amazonas, principal cartão-postal da capital. O local restaurado e em atividade. Há um esforço em manter uma programação permanente lá, o que faz com que Manaus tenha uma constante agenda cultural, com atrações diversificadas, com circuito de música clássica, festival de jazz, cinema, teatro, exposições etc.
 
Riqueza Amazônida
 
Metrópole encravada no coração da Floresta Amazônica, Manaus tem opções para quem quer conhecer a fauna e a flora. O Musa – Museu da Amazônia tem farto registro desde o período dos dinossauros até hoje, com réplicas de ossadas de animais extintos e espécies vivas que podem ser observadas. Isso além de logo catalogo e informações sobre a vegetação. Há também um mirante que possibilita a observação da floresta de cima.



Cachoeiras nos arredores
 
A cerca de 130 km de Manaus está o município de Presidente Figueiredo, ligado por uma estrada em ótimas condições e cercada de “cafés regionais” – restaurantes com fartas opções de tapiocas, farofas e quitutes locais como o x-caboquinho (combinação de pão com queijo coalho e tucumã). Mas os atrativos de Presidente Figueiredo não estão na culinária. O município tem centenas de cachoeiras, rios, igarapés e fervedouros. Passamos uns dias lá. Veja no vídeo abaixo como foi:
 

 



 


 

A coluna Pelos Brasis é assinada pelos jornalistas Lucas Bólico e Isabela Mercuri. Acompanhe o projeto no InstagramTikTokYoutube e Spotfy

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