A forte e constante chuva que caiu em Campo Novo do Parecis (444 km de Cuiabá), nos últimos dias evidencia a solidariedade da população. Os moradores  se uniram para ajudar ao próximo, cada um da maneira que pode. Enquanto uns emprestavam barcos, outros auxiliavam no esforço braçal. Quem tinha dois pacotes de arroz em casa, doou um para atender as famílias atingidas. O que se viu no município de quase 35 mil habitantes -segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) – foi um mão sendo estendida para ajudar a outra.

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A chuva teve início na tarde da última quarta-feira (09) e durou cerca de três horas, já causando problemas em praticamente toda a cidade. Depois, durante a noite e madrugada, a situação piorou. A Defesa Civil do Estado revelou que choveram 310 milímetros em apenas 48 horas, mais do que o previsto para todo o mês de fevereiro.
 
Quando souberam do acontecido, moradores da cidade se mobilizaram para auxiliar as famílias que foram atingidas no bairro Jardim das Palmeiras. Muitos emprestaram barcos, enquanto que outros auxiliaram no trabalho braçal. Móveis, eletrodomésticos, documentos e roupas se perderam em meio a lama e água.


 
“Nós tínhamos 40 barcos, parecia uma festival de pesca. Estava bonito de ver a união e solidariedade do povo de Campo Novo. Não existia bandeira politica, era gente cuidando de gente. Isso é muito importante registrar”, destacou ao Olhar Direto o prefeito da cidade, Rafael Machado (PSD).
 
As doações foram tantas, que o prefeito já estava pedindo para que fossem cessadas, no último domingo (12). Outras cidades mato-grossenses também se mobilizaram e enviaram roupas e alimentos: “Com 24 horas, já estou pedindo para cessar as doações. Não foi uma empresa que doou tantos quilos, foi cidadão que tirou da casa e levou um pacote de arroz e feijão. Foi irmão abraçando irmão. Ficou bastante marcado na minha vida isso aqui”, completa o prefeito.
 
O jornalista Willian Tessaro, que também auxiliou as famílias atingidas no temporal, também destacou a união dos moradores: “Há 25 anos moro em Campo Novo e nunca vi a cidade unida desse jeito. Motivo de orgulho ser dessa terra e ver que existem tantas pessoas boas. Jamais vou esquecer esse dia, onde a união e a força de vontade prevaleceram acima de tudo”.
 
Neste momento, o cenário no bairro Jardim das Palmeiras é um pouco melhor. A água baixou e nenhuma casa está alagada. Porém, as autoridades continuam em alerta, já que uma nova chuva com intensidade média ou alta pode fazer a água subir novamente. Uma draga faz o bombeamento da água para fora do bairro e uma maquina está escavando, aumentando o piscinão que existe no local.


 
O governador Pedro Taques (PSDB) visitou a cidade no último domingo (12) e também agradeceu o empenho da população: “Trouxemos engenheiros, técnicos, bombeiros militares, para estar fazendo o levantamento e ver qual a medida a ser tomada a partir de agora. Desde já quero agradecer a população que colaborou com as famílias desabrigadas, agradecer o prefeito Rafael Machado pelo trabalho até aqui e dizer que somos parceiros nessa luta”.
 
Preocupação
 
O prefeito de Campo Novo do Parecis disse, em entrevista exclusiva ao Olhar Direto, que a maior preocupação, após a chuva, é a da proliferação de doenças. Isso porque a maioria das casas do bairro Jardim das Palmeiras tem fossas sépticas, que transbordaram. Neste momento, apenas 15 famílias permanecem em escolas.
 
Rafael também explicou à reportagem que a Defesa Civil do Estado permitiu que os moradores retornassem para as suas casas: “Eles estão ajudando a descontaminar, entenderam a situação. Como não foi o rio que atingiu as casas, não teve correnteza, as residências não tiveram abalos. O que ficou foi a sujeira e o estrago causado”.
 
Jardim das Palmeiras
 
Os alagamentos são comuns no bairro. Nos últimos dias, a chuva já havia inundado as ruas, mas com a continuidade da precipitação a água avançou para as casas dos moradores.  O Jardim das Palmeiras é conhecido pelos moradores como “piscinão” por se tratar de um local por onde a água é escoada.
 
A Secid informou que em dois dias choveu 300 milímetros na região, fazendo rios e córregos que cortam a cidade subirem em 70 centímetros. Mais de 700 casas já foram invadidas pela água no bairro Jardim das Palmeiras, o maior da cidade, de acordo com dados divulgados pela Prefeitura Municipal. Ao todo, são quase três mil pessoas impactadas.
 
Uma equipe de engenheiros da Secid deve chegar a Campo Novo do Parecis no começo desta semana para fazer um estudo aprofundado da área e propor uma solução definitiva. "Claro que houve um excesso de chuva, mas é preciso preparar o bairro para impactos iguais a este ou superiores. Vamos analisar quais as contribuições de água que chegam ao bairro, se a drenagem feita é suficiente, se o chamado ‘piscinão’ tem escape. Vamos tratar o assunto com a responsabilidade que o caso requer", garantiu o secretário de Estado das Cidades, Wilson Santos (PSDB).
 
Previsão do tempo
 
A situação ainda é complicada na cidade e as autoridades estão em alerta. A previsão do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), instituto ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta que a possibilidade de chuva deve ficar entre 80% e 90% durante toda a semana.