Com três filhos pra criar, André Luis dos Santos, 51 anos, é brasileiro de estatura mediana e o mais novo herói nacional do meio ambiente. Aderiu à causa verde e saiu do interior de Minas Gerais com direção ao Rio de Janeiro para crucificar-se sob o sol escaldante em frente à entrada da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20) para... ser fotografado.
Desde a última terça-feira (12) ele está acampado no mesmo lugar; ficará torrando no calor e provocando o campo de visão dos transeuntes até o próximo dia 19 ou até quando os seguranças das Nações Unidas, que até agora o ajudam com água, permitirem.
Enquanto a esposa o espera em casa, o publicitário ajuda a quebrar a sisudez oficial das discussões do Rio +20 com seu ativismo inusitado em meio a outros “figuras” que povoam o Riocentro, sede da Rio +20.
Se a intenção, ele diz, é conscientizar as pessoas impactando-as visualmente, ele passa protetor solar no rosto e mantém a postura sofrida de Cristo, punhos amarrados nas extremidades de uma cruz de madeira com pouco mais de dois metros e repleta de cartazes pendurados com mensagens em prol da preservação ambiental e das mais diversas outras causas – da luta contra a fome à soberania argentina sobre as Falklands (Ilhas Malvinas, para os platinos).
“A minha atuação é como ser humano, né? Eu luto contra a corrupção, contra os absurdos, contra o meio ambiente, contra a crueldade e luto contra a fome do mundo”, anuncia o herói polivalente, esperançoso em relação às negociações na Rio +20 e confiante de que sua atuação modesta, mas peculiar, ajude em alguma coisa.
Como bem mostram os cartazes, André já deixou várias vezes sua rotina de trabalho em Ponte Nova-MG, onde trabalha com mídias visuais, para girar Brasil e mundo em intervenções públicas.
Seu “currículo” é recheado: em 2010, fez greve de fome por cinco dias em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília durante a votação da lei da Ficha Limpa; carregou a mesma cruz durante o último caos nos aeroportos; desfilou na Parada Gay; fez protesto em Vitória-ES em memória do ex-prefeito de São Gabriel da Palha, assassinado há mais de 25 anos; reivindicou o fim da violência após o massacre de Realengo no ano passado e, mais recentemente, fez troça da corrupção na política sul-americana com um cartaz anunciando “compra-se ratos”. Sempre crucificado.
“Na Argentina mesmo eu coloquei: ‘André Luis, brasileño, compra-se ratos no Executivo, Legislativo e Judiciário. Ratas pequeñas, 99 centavos. Ratones, 15 centavos’... E foi uma repercussão a nível mundial! Eu estava em frente ao Congresso Nacional naquele negócio da YPF [estatização da petroleira pela presidenta Cristina Kirchner].”
“Tive a coragem de estar lá e estou aqui; quer dizer, não me mataram. E eu enfrento todo mundo”, relata, num tom meio quixotesco. Só não o agrada ser denominado um “aglutinador de causas”, como ousou cutucar este repórter. “Sou um homem de visão”, retrucou, bastante sério.
“Eu não sou cidadão da minha terra, eu sou cidadão do mundo. Nós estamos olhando sempre para os nossos umbigos, não para os nossos irmãos. Eu sou o cidadão que vai a eventos que dêem repercussão mundial porque as pessoas vão estar me vendo. A intenção é aparecer, com certeza. Eu quero falar com a TV, ser fotografado, ser entrevistado. Todo protesto é para você aparecer, senão você fica escondido, vai ficar em casa. Eu não acho e penso, eu faço. Eu quero ver a mudança na minha casa, mudança nos meus hábitos. Eu quero ser visto pelo mundo inteiro. Por isso estou aqui”.
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