Mário Marques de Almeida Um tal de Pedro Abramovay, nomeado a menos de um mês, nem chegou a esquentar a cadeira e foi demitido da chefia da Secretaria Nacional sobre Drogas, ligada ao Ministério da Justiça, pela presidente Dilma Roussef. Ganhou o olho da rua por defender - pasmem! - que “pequenos traficantes” (coitadinhos!) não sejam condenados pela Justiça e presos. Sequer processados na forma da lei, de acordo com o cretino ponto de vista desse sujeito. É o mínimo que se pode dizer dele e da sua tese calhorda. Na cabeça confusa desse cidadão, a descriminalização do tráfico de drogas, como o crack – substância química que mina as defesas orgânicas de dependentes e os mata rapidamente -, a maconha e a cocaína, dentre outras, deve ser aplicada quando esse crime for praticado pelos “varejistas”, também conhecidos como “aviãozinhos”. Por esse viés cafajeste e distorcido, só porque não vendem toneladas de drogas, podem traficar à vontade. Mantendo seus pontos de traficância, as “bocas” malditas. É o que se deduz dessa sugestão de perfil diabólico. Pelo inusitado, o que chama atenção nesse episódio, é tentar saber como alguém, com essa idéia de “jerico” (pedindo perdão aos úteis muares, pela comparação infeliz), foi parar em uma secretaria do governo federal incumbida de encontrar soluções para combater a prática de um crime que ele, abominavelmente, propôs liberar. Um cargo para o qual Pedro Abramovay não deveria sequer ter sido nomeado! Dependente, também – mas da falta de juízo, quando não de caráter, considerando o absurdo da sua proposta – demonstra ser o Abramovay. Ao sugerir não se condenar, enquadrando no Código Penal, conforme ele defende, traficantes de entorpecentes no varejo, que fornecem diretamente aos consumidores, sob o pretexto de que, deixando esses bandidos livres, leves e soltos, estar-se-ia também contribuindo para evitar a superlotação dos presídios. Genial! Exoneração para um sujeito desses é pouco. Deveria ser indiciado por defender uma atividade criminosa altamente prejudicial à humanidade, especialmente no Brasil onde milhões de pessoas, notadamente jovens, inclusive crianças, se afundam no consumo de drogas. Em particular o crack, cujo consumo se alastra numa escala aterradora. Aumento da demanda impulsionado por seu relativo baixo preço, fato que torna essa droga mais consumida por viciados pobres e mendigos. E não só por estes, pois, segundo relatórios das autoridades que se debruçam sobre o grave problema (na realidade, a maior tragédia do país hoje), o uso do crack já invadiu redutos da classe média. Perfazendo uma trajetória caótica em seu rastro de dor e destruição. Esvaindo vidas, atormentando familiares de viciados e, não raras vezes, prejudicando, com mais danos, a sociedade como um todo. Por ser esse tipo de vício a principal porta de entrada para a prática de crimes mais graves, como roubos e assaltos a mão armada. Em cujos desatinos, drogados - menores ou maiores de idade - matam vítimas indefesas, ainda que estas não esbocem qualquer reação. Vista em sua dimensão real, a proposta de Pedro Abramovay, na prática, mais do que evitar presídios entulhados de criminosos, se fosse acatada, significaria esvaziar as cadeias do país. Considerando que um percentual elevado, talvez a maioria dos presos, seja composto por pequenos traficantes. Até porque, esses malfeitores formam a grande maioria dos que enveredam pela senda tortuosa do tráfico. Quanto aos barões do tráfico, além de serem, obviamente, em menor número que seus “mulas” e revendedores na ponta de consumo, raramente são flagrados, condenados e presos. Seja porque estão no topo da pirâmide, seja porque tem muito dinheiro e uma vasta rede de proteção. Infelizmente, é a realidade. Mário Marques de Almeida é jornalista. www.paginaunica.com.br. E-mail: mario@paginaunica.com.br Sugestão para o olho Por ter idéia de “jerico”, o sujeito foi demitido de um cargo para o qual não deveria sequer ter sido nomeado