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Domingo, 26 de maio de 2024

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Sistema unificado de vestibular divide opiniões, mas deverá ser aprovado

Foto: Thalita Araújo/OD

Sistema unificado de vestibular divide opiniões, mas deverá ser aprovado
No dia 25 de março o Ministro da Educação, Fernando Haddad, apresentou um projeto que pretende unificar os vestibulares das universidades federais do país. Isso aconteceria com a extinção das provas seletivas de cada instituição, e com o uso dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio, Enem, como critério de seleção, criando, assim, o Sistema de Seleção Unificada.


Uma das justificativas de Haddad para tal mudança é o fato de que o aluno não precisará fazer vários vestibulares, mas apenas um, que terá validade nacional. Outra é que o país precisa de um tipo de exame que tenha conteúdo inteligente, julgando a capacidade analítica dos alunos, o que refletiria na atuação dos professores em sala de aula.

O projeto prevê que cada universidade terá a opção de participar ou não do sistema integrado. O Enem foi modificado e o novo formato apresenta provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (incluindo redação), Ciências Humanas e suas tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. As inscrições e o sistema de informações serão todos centralizados na internet.

O candidato poderá escolher até cinco opções de cursos e instituições de sua preferência, independentemente do lugar onde mora. O participante poderá, também, conferir as notas de corte de cada curso e alterar as suas opções quando quiser e quantas vezes quiser, até o encerramento do prazo de inscrições, tudo isso para aumentar suas possibilidades de seleção.

Esse sistema unificado, tão diferente dos moldes atuais, está causando uma divergência de opiniões. Maria Lúcia Cavalli Neder, reitora da Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT, diz que é favorável ao vestibular único e cita, inicialmente, dois argumentos para tanto. “O primeiro deles é a dimensão de maior democracia no processo seletivo, já que oportuniza aos candidatos de baixa renda concorrer em mais de uma universidade. A outra dimensão é a atuação direta que esse exame vai ter no ensino médio”. Ela diz que hoje o ensino médio é trabalhado não pelas diretrizes educacionais que já existem, pautadas, dentre outras coisas, pela interdisciplinaridade, mas prepara o aluno para os exames vestibulares que existem. “Exames esses que, em sua maioria, privilegiam a memorização em detrimento da construção do conhecimento”, explica a reitora.

Um dos argumentos contrários ao novo sistema de ingresso é a hipótese de que as universidades em regiões que apresentam um déficit maior na educação teriam maior parte de suas vagas preenchidas por estudantes de regiões em melhor posição, já que muitas pessoas, hoje, deslocam-se para outras regiões para tentar uma vaga em universidade pública.

Maria Lúcia acha que é um equívoco pensar que um aluno que more em regiões como sul ou sudeste vá colocar como primeira opção uma universidade do Centro-Oeste. A reitora acredita que os alunos sempre colocarão a sua região como a primeira opção e, assim, as pessoas ficarão encaixadas em seu Estado na medida do possível. Ela contesta, mostrando que essa migração de estudantes já é algo que acontece, independente do sistema adotado para ingresso.

Na UFMT, no curso de Medicina, por exemplo, que é o mais concorrido em qualquer instituição pública, das 80 vagas atuais, apenas 28 são preenchidas por alunos mato-grossenses. O restante é de alunos de várias partes do país, especialmente de Goiás, estado vizinho. “O vestibular unificado vai é privilegiar os moradores locais, pois a maioria deve escolher sua região como primeira opção”, conclui a reitora.

O secretário de Estado de Educação, Ságuas Moraes, tem a mesma posição de Maria Lúcia. Ele acredita que esse sistema facilitaria as opções de cursos e mobilidade. “O vestibular hoje é mais memorização, excesso de conteúdo e não explora a interpretação e a criatividade”, diz o secretário.

Ságuas ainda encontra no sistema a solução para alunos de baixa renda que não podem viajar para outros estados para tentar vagas em universidades federais. Seria um processo mais democrático, incluindo chances iguais a estudantes de classes inferiores.


O outro lado

Há opiniões contrárias ao sistema unificado de vestibular. Como, por exemplo, do professor de Literatura da UFMT (e Doutor em Jornalismo pela USP) Roberto Boaventura. Ele acredita que nenhum tipo de vestibular seria capaz de reverter a “tragédia do ensino”, muito menos a proposta de Haddad.

“A proposição do MEC aponta para o reforço do desconhecimento, coroa a ignorância e desvia o foco do caos na educação. Ainda retira a autonomia das universidades”, diz o professor. Ele explica que esse sistema serve para mascarar quão mal preparados e sem conteúdo estão saindo os alunos do ensino médio brasileiro.

Porém, Boaventura diz que esses aspectos educacionais já ficaram em segundo plano pois, agora, o pronto crucial é como o sistema está sendo implantado no país. Em sua opinião, de maneira bastante autoritária.

Ele diz que a discussão para aceitar ou não o sistema ainda não foi feita com a academia. E ele acredita que nem chegará a ser. “Se seguir a linha, vai ser aprovada sim, sem ser discutida”, diz Boaventura.

Já na próxima quarta-feira, 22, o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), órgão deliberativo superior da UFMT, já irá se reunir extraordinariamente, no campus de Cuiabá, para discutir sobre a adesão ao novo sistema de seleção. O problema é que o Conselho não se reuniu com as bases, nem promoveu qualquer tipo de discussão, não fez audiências públicas, não consultou a quem deveria representar.

Boaventura diz, ainda, que acredita que essas discussões não foram viabilizadas porque já é fato que o vestibular unificado será aprovado, porque, segundo ele, a rejeição ao programa sugerido pelo MEC significaria, certamente, cortes orçamentários na instituição. “É balela dizer que as instituições poderão optar ou não pela adesão. As ameaças são descaradas”, revela o professor.

O presidente da Associação dos Docentes da UFMT, Adufmat, Carlos Alberto Eilert, apoia as declarações de Roberto, posicionando-se contra o sistema unificado e, principalmente, contra a maneira pouco democrática como está sendo feita. Ele afirma que o anseio dos docentes é que pudessem ter tido, ou ainda ter, caso haja tempo, de participar das discussões sobre a aceitação ou não do novo tipo de vestibular.

Carlinhos, como é conhecido, também acredita que esse sistema de ingresso fere a autonomia da universidade, ferindo, portanto, a Constituição Federal, no Artigo 207 (“As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão).
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