Ronaldo precisou de poucos treinos e jogos para mostrar aos dirigentes do Cruzeiro que não se tratava de um atacante comum. Os adversários, porém, olhavam a jovem promessa da Raposa com certa desconfiança. Pela ótimo desempenho com apenas 16 anos, alguns dirigentes chegaram a levantar a suspeita que o craque teria a idade adulterada, o popular "gato".

O atacante chegou ao Cruzeiro em fevereiro de 1993, participou dos primeiros treinos com a equipe juvenil, mas logo acabou incorporado aos juniores. Lá, começou a brilhar, com os títulos da Supertaça Minas Gerais e da Taça Belo Horizonte da categoria. Em ambos, foi artilheiro.

- Os dirigentes dos outros times diziam que não tinham condições de jogar contra ele, que era gato e fora da curva. Teve muita desconfiança sobre ele. As pessoas falavam mesmo. Mas ele fazia muitas coisas em campo que os outros duvidavam. Sempre foi acima de todos – conta Anderson Nunes, lateral-esquerdo daquela equipe e companheiro de quarto de Ronaldo nas concentrações.

Foi na Taça Belo Horizonte de 93, aliás, que Ronaldo começou mostrar seu poder contra o Atlético-MG. Na decisão, fez os três gols do empate por 3 a 3 (a Raposa acabou campeã pela melhor campanha). Um ano depois, repetiu a dose na vitória por 3 a 1, já pelo Campeonato Brasileiro, no jogo que ficou marcado pela série de dribles que deu no zagueiro uruguaio Kanapis, famoso por ter marcado Romário com precisão em uma partida das eliminatórias.

O Cruzeiro não chegou a desconfiar da idoneidade dos documentos de Ronaldo, mas tratou de verificar todas as certidões para que não se envolvesse em um escândalo. Com tudo em ordem, a Raposa constatou: tratava-se de um gênio.

- Todo jogador que sobressai nas categorias de base, e com o Ronaldo foi demais, sempre surge essa conversa. Nós tínhamos a preocupação de verificar a situação cartorial para não termos assuntos desagradáveis. Com ele, não tinha nada errado. Já era um excepcional jogador – contou o supervisor de futebol do Cruzeiro, Benecy Queiroz.