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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Há 40 anos o Unix era "apenas um jogo"

Quando Ken Thompson sentou-se à frente do PDP-7 para iniciar seu projeto pessoal nos laboratórios da AT&T, em 1969, sua intenção era portar para uma máquina mais barata um jogo chamado Space Travel, escrito por ele. O game rodava em um gigantesco mainframe General Electric 645 e servia para demonstrar o sistema operacional que estava sendo desenvolvido pela AT&T na época, o Multics.


Entretanto, a empresa cancelou o desenvolvimento do Multics no fim da década. Além disso, cada partida do jogo, calculados os custos computacionais, custava mais ou menos US$ 75 no GE-645 (US$ 370 ou cerca R$ 700, corrigida a inflação).

Para continuar com a jogatina, Thompson e seu colega Brian Kernigham decidiram criar um "Multics simplificado" que permitisse rodar o programa. Em apenas um mês, já tinham um sistema operacional rudimentar, um interpretador de comandos (shell), um editor de textos e ferramentas de programação. Kernigham batizou o sisteminha de Unics, numa alusão ao Multics, e foi logo rebatizado como Unix.

Aos poucos, o pequeno projeto (e a equipe em volta dele) foi crescendo. Em 1972, com a criação da linguagem de programação C por Dennis Ritchie, também da AT&T, o Unix foi reescrito e se tornou "portável" - ou seja, podia funcionar em máquinas de outros modelos e fabricantes sem precisar ser reescrito do zero, escapando do perigo da obsolescência causada pela morte do hardware onde rodava.

Mas o pulo do gato veio em 1974, com um artigo publicado na revista mensal da ACM (Association for Computing Machinery), que despertou o interesse de acadêmicos e instituições do mundo todo pelo novo sistema operacional. Como o código-fonte era distribuido livremente, começaram a surgir novas versões além da original da AT&T (rebatizada como System V); a primeira foi a BSD (Berkeley Software Distribuition), da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Em seguida, a partir de 1979, surgiram as implementações comerciais do Unix para servidores: Sun OS (da Sun, posteriormente rebatizado para Solaris), Xenix (curiosamente, da Microsoft), HP/UX (HP) e AIX (IBM) para citar apenas as mais conhecidas. Como as implementações de cada empresa eram ligeiramente diferentes entre si, a partir daí o Unix não era mais "o Unix", um sistema operacional, mas sim "um Unix", um tipo de sistema operacional.

No Brasil, a cultura Unix começou a tomar forma no início da década de 1980, mais precisamente em 1984. Empresas como Edisa, Cobra e Digirede estavam começando a oferecer minicomputadores com variações nacionais do sistema operacional. Um exemplo é o SOx, da Cobra. A reserva de mercado, que ajudava a manter longe a concorrência estrangeira, foi derrubada em 1991, o que levou as multinacionais IBM e Sun a entrarem com força no mercado nacional e a HP a adquirir a Edisa e suas operações Unix no país.

As "Guerras do Unix"
Nos anos 80, com a multiplicidade de empresas desenvolvendo e vendendo seu próprio "sabor" de Unix, houve uma certa contradição no mercado. Apesar de serem vendidos como sistemas abertos, cada fabricante tentava trancar os clientes com pequenos recursos e incompatibilidades entre a sua versão e a dos concorrentes.

A verdadeira guerra que se formou foi deletéria para a imagem do sistema: não havia mais Unix enquanto produto, havia AIX, HP/UX, Solaris e assemelhados. O Unix havia deixado de ser um sistema operacional único para ser, por assim dizer, um "selo" a ser dado a sistemas operacionais que se parecessem com o Unix original - o que causou uma confusão sem precedentes no mercado. Como se não bastasse, os fabricantes vendiam (e ainda vendem), de forma casada, hardware e software, por preços bastante elevados. O AIX, da IBM, só funcionava em máquinas IBM, enquanto o Solaris só rodava em máquinas Sun.

A escalada dessa "corrida armamentista" acabou afastando os potenciais compradores do Unix e aproximando-os de um outro sistema operacional de servidor, não-Unix, que despontava então: o Windows NT, da Microsoft. Além do próprio NT ser mais barato, o sistema rodava em PCs comuns de baixo custo.

Em pânico pelo avassalador crescimento do NT no mercado, várias associações de fabricantes surgiram na época, mas eram numerosas demais para chegarem a um consenso. Com o passar dos anos, e ainda movidas pelo pânico, essas associações foram se fundindo ou extinguindo.

Hoje, apenas uma associação, que representa todos os maiores fabricantes do mundo, tem o poder de certificar quem é e quem não é Unix: a The Open Group, que publicou a chamada Single Unix Specification, ou SUS (especificação única do Unix, na tradução). Qualquer sistema operacional que passe pelo teste do SUS pode se autointitular Unix.

Mas mesmo essa definição unificada não acabou com as incompatibilidades. Por exemplo, o Mac OS X, sistema operacional dos produtos Apple modernos, é um tipo de Unix certificado. Mesmo assim, um programa escrito para o SCO Unix, por exemplo, não funcionaria no Mac OS X. Na prática, a atual definição de Unix é apenas cosmética.

Futuro?
Além disso, depois dos sistemas Windows Server (ao NT seguiram-se as versões 2000, 2003 e 2008) surgiu na década de 1990 um outro sistema operacional para servidores e estações de trabalho que, paulatinamente, vem tomando mercado dos Unix tradicionais: o Linux, que além de gratuito, roda em hardware barato (PCs comuns, como os utilizados pelo Windows). O curioso é que, apesar de visualmente parecer-se com um Unix e respeitar grande parte das normas técnicas deste, o The Open Group não certificou o Linux como "Unix de verdade".

E pelo visto, nem precisa: segundo uma pesquisa do Gartner Group, há uma forte tendência nas áreas de TI de migrarem seus sistemas Unix para Linux. Com 18 anos de estrada, o sistema operacional criado por Linus Torvalds, que não usa nenhuma linha de código do Unix original, já é considerado por muitos como maduro o suficiente inclusive para aplicações de missão crítica - mesmo em hardware menos confiável.

Todavia, o funeral do velho Unix ainda está longe. Segundo uma pesquisa realizada em junho pela Computerworld, 90% disseram depender do Unix para alguma parte importante de sua estrutura de informática. Pouco mais da metade afirmou que o sistema é essencial em suas operações e o será indefinidamente, e apenas 12% esperam migrar para outras plataformas (incluindo Linux) no futuro.

Djanira Vicenzy, diretora da Vytech, tradicional centro de treinamento Unix em São Paulo, é ainda mais reticente. "O Linux, no meu modo de ver, está mais associado ao Windows", referindo-se ao mercado empresarial low end, que emprega servidores de baixo custo. "O Unix é imbativel como servidor. As arquiteturas RISC estão poderosissimas. Tudo vai depender do que o cliente precisa. Acho que em algumas situações o Windows até pode atender ao cliente, mas para quem já tem Unix, poderoso, seguro, confiável, mudar para Windows (ou Linux) é suicídio".
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