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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Mais que o dobro

Mato Grosso tem a maior taxa de feminicídio do Brasil durante a pandemia

Foto: Reprodução / AzMina

Mato Grosso tem a maior taxa de feminicídio do Brasil durante a pandemia
A ‘Revista AzMina’, em parceria com diversos institutos, publicou uma reportagem que mostra que Mato Grosso foi o estado com maior taxa de feminicídios durante a pandemia. O número é mais que o dobro da média nacional: 1,72 a cada 100 mil habitantes, contra 0,56 para cada 100 mil mulheres no resto do país. A matéria foi escrita por Jamile Santana e é resultado de uma parceria colaborativa entre as mídias independentes Amazônia Real, Agência Eco Nordeste, #Colabora, Marco Zero Conteúdo, Portal Catarinas, Ponte Jornalismo e Revista AzMina.


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Leia a íntegra (ou acesse AQUI):

Orany dos Santos, 28 anos, foi encontrada morta em um matagal na zona rural de Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá (MT), no dia 20 de agosto – o corpo já estava em decomposição. Ela desaparecera quatro dias antes e testemunhas relatam que o namorado teria sido o último a vê-la com vida. Ele foi preso como suspeito pelo crime, mas nega. Ele já havia sido denunciado à Delegacia da Mulher por agressão, pela mãe de Orany, o que não impediu que o destino dessa mulher fosse a morte. 

Orany é uma das 30 mulheres vítimas de feminicídio durante pandemia no Mato Grosso entre março a agosto, estado com a maior taxa de feminicídio no Brasil no período. Enquanto no Brasil a taxa de feminicídio foi de 0,56 para cada 100 mil mulheres, no Mato Grosso ela foi mais que o dobro: de 1,72 a cada 100 mil habitantes mulheres, de acordo com o levantamento nacional “Um vírus e duas guerras”, realizado pela Revista AzMina, Amazônia Real, Agência Eco Nordeste, #Colabora, Marco Zero Conteúdo, Portal Catarinas e Ponte Jornalismo. 

O estado teve um aumento no número de mortes de mulheres na zona rural. Do total, 12 foram assassinadas em casa e outras quatro mortas em áreas ou propriedades rurais. No mesmo período do ano anterior, não houve morte de mulheres na zona rural do estado. Além de Orany, outras três mulheres foram mortas em Brasnorte, Tabaporã e São Félix do Araguaia. Em todos os casos, as mulheres foram mortas por seus companheiros ou ex-companheiros.

O isolamento social deixou as mulheres do campo ainda mais ilhadas, de acordo com a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, Gláucia Amaral. Antes da pandemia, o Ônibus Lilás circulava pelos municípios do interior do estado, levando acolhimento e informações necessárias para o combate à violência, como auxílio jurídico. Mas o serviço foi suspenso no início da pandemia.  

“Em muitas cidades, o acesso à delegacias especializadas já é dificultado pela falta de unidade de atendimento ou pela distância até o serviço mais próximo. A pandemia ampliou essa dificuldade, uma vez que as mulheres do campo, ficando isoladas, perdem  a rede de apoio local, além da assistência do Estado. O ônibus ajudava a diminuir essa dificuldade, mas a suspensão do atendimento reflete diretamente na vida das mulheres que moram em zonas rurais”, destaca. 

Mato Grosso, que tem 141 municípios, contava apenas com nove Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres e apenas três unidades de serviços assistenciais para mulheres em situação de violência, em 2018, segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE.

“Sabemos da urgência e estamos trabalhando dia e noite para chegar até essas mulheres em situação de violência doméstica. Temos estudado alternativas online para colher denúncias, já que muitas delas não conseguem sair até uma unidade de atendimento, por exemplo”, explica Simone Machado de Souza, analista de Desenvolvimento Econômico e Social da Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania do Mato Grosso, e integrante do Núcleo Estadual de Política para Mulheres. 

AUMENTO NOS CRIMES BRUTAIS

O isolamento social tornou os casos de feminicídio ainda mais brutais: no comparativo com 2019, o número de assassinatos de mulheres praticados com arma de fogo se manteve, mas aqueles praticados com armas cortantes ou perfurantes (como facas, tesouras e lâminas, por exemplo) subiu de 10 casos, em 2019, para 17 em 2020. 

“A pandemia não transformou ninguém em agressor, mas dificultou as formas de prevenção, já que essas mulheres ficaram isoladas em casa, onde esse tipo de crime acontece. Nesse cenário, quem detém o poder de começar ou terminar uma relação, do ponto de vista da sociedade machista, é o homem. Ele não sabendo lidar com suas frustrações numa situação de isolamento, encontra na violência sua válvula de escape, então ele se utiliza de qualquer ferramenta para cometer essa violência e esse crime. Numa situação normal, o afastamento desse homem seria uma forma de evitar um desfecho de morte”, analisa Gláucia. 

Um dos casos aconteceu em Brasnorte, a 579 km de Cuiabá, quando um homem de 25 anos esfaqueou a mulher após uma discussão. “Para além do fortalecimento dos serviços públicos, precisamos também trabalhar culturalmente a questão do machismo. Estamos costurando com outras secretarias formas de chegarmos até esses homens para quebrar o ciclo de violência. O homem que bate em uma mulher aprendeu com alguém, e isso é cultural”, diz Simone. 

Os programas de combate à violência direcionados para homens e que são previstos na Lei Maria da Penha – como a frequência em grupos de reeducação e acompanhamento psicossocial de maneira obrigatória, por exemplo – ainda não têm data para serem implementados no estado. 

CENTRO-OESTE

Logo ao lado, Mato Grosso do Sul tem a segunda maior taxa de feminicídio do país no período entre março e agosto, com 1,16 caso a cada 100 mil mulheres. No período foram 16 feminicídios, uma queda de 16% em relação ao mesmo período de 2019. O estado não divulgou dados detalhados dos casos. 

Já o Distrito Federal ficou na 15ª posição entre os estados brasileiros. Foram oito mortes no período, uma queda de 56% em relação ao mesmo período do ano passado. O que está ligado ao fato de o combate à violência contra a mulher e ao feminicídio ser uma das principais pautas da Secretaria de Segurança do DF. 

A Polícia Civil informou que durante a pandemia disponibilizou o registro de ocorrências de violência doméstica e familiar também pela internet. Além disso, a  Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) e unidades locais também continuaram funcionando, mesmo com o isolamento social. 

Até o fechamento desta reportagem, Goiás não informou os dados de julho e agosto. Por conta disso, não foi possível calcular a taxa de feminicídio do estado no período analisado.

O monitoramento quadrimestral da “Um vírus e duas guerras” monitora os números da violência contra a mulher durante a pandemia do novo coronavírus e é resultado de uma parceria colaborativa entre as mídias independentes Amazônia Real, Agência Eco Nordeste, #Colabora, Marco Zero Conteúdo, Portal Catarinas, Ponte Jornalismo e Revista AzMina. Veja os dados do Brasil todo e demais regiões aqui. 
 
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