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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Novo romance de Grossman, "A Mulher Foge", sai no Brasil

David Grossman escreveu certa vez que a realidade é um ácido que corrói qualquer esperança. O conceito se aplicaria anos depois, de modo quase simultâneo, a sua obra e sua vida.


Em seu novo romance, "A Mulher Foge", a protagonista decide percorrer Israel para não correr o risco de receber em casa a notícia de que seu filho caçula morreu na guerra do Líbano. Ela passa a anotar tudo o que lembra sobre ele, como se palavras pudessem protegê-lo.

O israelense iniciou o romance em 2003. Seu próprio filho caçula, Uri, alistou-se no Exército seis meses depois, e Grossman sentiu que talvez aquelas palavras também o protegessem no conflito. Não deu certo. Uri morreu em 2006. O livro, já perto do fim, saiu em 2008.

"O sentimento mais profundo de um contador de histórias é o de que, se colocar toda a sua alma no que conta, pode criar algo verdadeiro", diz Grossman, 55, à Folha, por telefone, de sua casa em Jerusalém. O escritor esteve na Flip em 2005 e volta ao país na próxima sexta, para a Bienal do Rio.

O romance não teve o efeito sobrenatural de proteger Uri, mas consegue mostrar que entre israelenses e palestinos há muito mais do que se vê no noticiário. Para isso Grossman decidiu contar a história a partir de vivências de uma família.

"O conflito não é só político. Ele tem implicações na forma mais íntima, na maneira como as pessoas tratam umas às outras, como criam seus filhos. Tento descrever a complexidade da unidade familiar e colocá-la dentro da voz maior que é a do conflito entre dois povos."

A protagonista, Orah, está na ponta de um triângulo amoroso cuja história começa e muda por inteiro enquanto Israel passa por guerras. Em 1967, ela e os jovens Avram e Ilan se conhecem em um hospital, entre delírios de febre. Transcorre a Guerra dos Seis Dias, pano de fundo para diálogos mergulhados na escuridão do hospital.

Ao longo do romance, ficamos sabendo que a amizade deles se estendeu até 1973, quando, na Guerra do Yom Kippur, Avram e Ilan pedem a Orah que sorteie qual dos dois deve voltar para casa. O que era uma brincadeira acaba mudando a vida dos três, que será passada a limpo durante os conflitos nos anos 2000.

Mudança sutil


Grossman conta que o livro quase não sofreu alterações após a morte de seu filho. "Mudou a atmosfera, mudou o escritor. Foi sutil... De repente eu podia fazer as pessoas entenderem o real preço da guerra."

Ainda assim, ele sentiu que isso seria mais bem expressado na voz de uma mulher -- porque foram os homens, e não elas, os criadores da religião, do governo e do Exército.

"Orah age por intuição. Nenhum homem faria isso. Homens sentam e esperam, interpretam seus papéis na máquina de morte. Orah tenta mudar a realidade de forma estranha, mas ao menos faz algo."

A complexidade da convivência entre judeus e muçulmanos aparece na relação entre Orah e Sammy, o motorista de táxi que "é quase da família", mas árabe. Quando eles se veem em lados opostos, ela sem perceber se sente bem em subjugá-lo. "Não é algo que alguém goste de sentir", diz o escritor. É um exemplo das contradições que a TV não mostra -- no momento de confronto, cada um deles vira representante de seu povo, a despeito do que antes os unia.
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