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Quarta-feira, 06 de novembro de 2024

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suposto gesto supremacista

Pesquisador analisa polêmica envolvendo Abílio: 'engano achar que é gesto inocente e não pensado'

Foto: Câmara de Deputados

Pesquisador analisa polêmica envolvendo Abílio: 'engano achar que é gesto inocente e não pensado'
O professor em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e líder do grupo de pesquisa Midiaticus, sobre mídia política e democracia, Bruno Araújo, fez uma análise sobre as cenas que o deputado federal Abílio Júnior (PL) tem protagonizado na CPMI do 8 de Janeiro, como a vista na última quinta-feira (24), quando o parlamentar supostamente fez um gesto supremacista com as mãos. Ao Olhar Direto, o estudioso explica sobre o movimento bolsonarista, formado pelos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e as atitudes “pensadas” para mobilizar a atenção pública para além das redes sociais.


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Deputado Federal nega ter feito o gesto supremacista. Em sua defesa, Abílio afirmou que na transmissão fez o sinal do número três com a mão, mantendo um círculo com os outros dedos.

“O bolsonarismo tem um método e aposta nessa estética, que ele já entendeu que mobiliza as pessoas que pensam como eles. É um engano achar que é um gesto inocente e desconectado de outros, igualmente racistas, antidemocráticos, e que fazem apologia ao nazismo, como os que nós assistimos nos últimos anos”, diz Bruno sobre o movimento bolsonarista e o gesto realizado por Abílio.

O deputado mato-grossense fez o gesto, que se assemelha com um “OK”, utilizando três dedos para formar um “W”, que pode significar “White”, branco em inglês e os outros dois dedos formam a letra “P”, que pode significar “power”, poder em inglês. Ou seja, a expressão “White Power” tem caráter racista e antissemita, significando “poder branco”.

A Liga Antidifamação (Anti-Difamation League – ADL), principal organização mundial que monitora os crimes de ódio, classifica o gesto como um sinal utilizado por supremacistas brancos para se identificarem entre si. Além disso, esse e outros símbolos têm sido usados como uma “tática popular de trolagem” por pessoas da extrema-direita.

Na esfera política, os parlamentares de extrema direita usam esses gestos para espalhar seus discursos de ódio, como racismo, homofobia e antissemitismo, nas reuniões públicas, com o intuito de forçar uma entrada no discurso público, amplificando a intolerância e intimidando grupos marginalizados da sociedade. Segundo o vice-presidente do Centro ADL sobre Extremismo, Oren Segal, “os extremistas tornaram-se cada vez mais visíveis e encorajados nos últimos anos”, sendo necessário o combate a esse movimento.

“Ele [Abílio], assim como outros políticos bolsonaristas entenderam como mobilizar esse símbolo de extremistas para manter ativo uma certa militância que pensa igual. Então nesse sentido, eu penso que ele age e ele descobriu, agora na CPI dos Atos Antidemocráticos, como mobilizar a atenção pública para além da rede, porque não se trata só de mobilizar o seu eleitorado radical por meio das redes e de uma comunicação direta, ele também consegue furar o espaço das redes e ganhar espaço na própria cobertura jornalística, na medida em que, ao verem os absurdos que ele tem feito, o tumulto que ele tem causada na CPI, os jornais dão alta cobertura ao caso. Então ele consegue de alguma maneira aumentar sua visibilidade”, explica o professor.

“Os bolsonaristas, como Abílio e José Medeiros apostam em um tipo de comunicação digital que tenta emular, ou seja, tenta reproduzir um tipo de estratégia comunicacional de políticos populistas da extrema direita, como por exemplo nos Estados Unidos, mas que também estão presentes em outras partes do mundo, que o bolsonarismo soube se apropriar, para mobilizar setores da população que são mais radicalizados e que são abertamente racistas, antidemocráticos, que tem visões extremistas sobre as coisas”, complementa.

Bruno afirma ainda que ao longo do governo Bolsonaro, a população brasileira enxergou várias demonstrações de como os apoiadores do ex-presidente emulavam, se apropriavam de simbologias extremistas, supremacistas, racistas, de apelo ao nazismo. O pesquisador cita três exemplos.

O primeiro exemplo é o da cena do grupo “300 do Brasil”, liderado pela ativista Sara Winter, no ato antidemocrático diante do Supremo Tribunal Federal (STF), quando eles copiaram a estética da Ku Klux Klan, com tochas na mão e máscaras com capuz.

O segundo foi protagonizado pelo assessor de Bolsonaro, Filipe Martins, que reproduziu o mesmo gesto que Abílio fez na última quinta-feira.

O terceiro exemplo é quando o secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, faz referência direta de um discurso do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, durante uma fala pública. Ele foi exonerado em seguida.

“O bolsonarismo ainda que seja um movimento heterogêneo, que reúne uma série de segmentos da sociedade, tem no seu interior franjas que são absolutamente extremistas, antidemocráticas e que apelam a teses incompatíveis com a democracia, como o próprio nazismo, e racismo e outras formas que causam divisões sociais, ou que apelam para uma visão que divide a sociedade entre aqueles que são bons e puros e aqueles que seriam inimigos a serem combatidos e derrotados”, afirma Araújo.

“É essa a mentalidade que organiza a comunicação populista de uma maneira geral, e no caso da extrema direita não é um antagonismo qualquer ou uma divisão qualquer, é a divisão que aponta um outro como o inimigo, a ser derrotado, e no caso brasileiro, você tem desde a esquerda, apontada como inimiga, a partir de um discurso anticorrupção, até mesmo grupos vulneráveis socialmente, indígenas, quilombolas, população LGBTQIAP+, mulheres, então, por isso é que a gente vê a reprodução dessas simbologias extremistas, incompatíveis com a democracia”, complementa.
 

Punições

Segundo Bruno Araújo, é fundamental que esses casos observados nos últimos tempos durante a ascensão do bolsonarismo, sejam punidos e tratados com os nomes que eles têm, no caso, apologia ao racismo, ao nazismo, à homofobia e outros.

“É crime na legislação brasileira e a gente não pode normalizar isso, porque a normalização desse tipo de atitude é o que transmite a imergência de visões extremistas e autoritárias no seio da sociedade. Não foi porque a democracia foi, digamos, leniente com o que Bolsonaro foi fazendo ao longo dos seus mandatos, que nós chegamos ao quadro que a gente se encontra, de ampla polarização e de normalização de visões extremistas que atentam contra a democracia e contra a liberdade”, afirmou.

Método bolsonarista

Conforme estudado pelo grupo de pesquisa Midiaticus, o bolsonarismo tem um método de agir, como passar a imagem que os políticos são figuras espontâneas e autênticas.

“Veja o Bolsonaro acusado de roubar joias, que são do povo brasileiro, ele dá uma entrevista tomando um pingado com pão na manteiga, como se ele fosse um homem simples, do povo. Então o bolsonarismo tem método e aposta nessa estética, que ele já entendeu que mobiliza as pessoas que pensam como eles”, disse o líder do grupo, Bruno Araújo.

“É um engano achar que é um gesto inocente e desconectado de outros gestos igualmente racistas e antidemocrático, e de apologia ao nazismo, que nós assistirmos nos últimos anos. É mais uma cena da estética antidemocrática do bolsonarismo, que deve ser tratado com o máximo desprezo e com rigor da lei sim. Acho que não há espaço para tolerar esses discursos na sociedade brasileira”, finaliza.

Outro lado

O deputado federal Abílio Júnior (PL) declarou que iria registrar um boletim de ocorrência contra os parlamentares da base do governo Lula, que o acusaram de fazer o gesto supremacista, em apologia ao “White Power”, ou “Poder Branco”. Ele chegou a trocar ofensas com o senador Rogério Carvalho (PT-SE) no corredor do Senado sobre o fato.

“Esse tipo de atitude, de sair inventando que eu fiz gesto, isso não é verdade, eu não admito isso. Estou indo na polícia agora, vou fazer uma denúncia sobre isso, vou fazer um boletim de ocorrência”, afirmou o deputado. 

Em sua defesa, Abílio afirmou que na transmissão fez o sinal do número três com a mão, mantendo um círculo com os outros dedos.
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