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FORÇAS DE SEGURANÇA NO LOCAL

Moradores resistem à desocupação de área no Contorno Leste: 'não temos para onde ir'; veja vídeos

11 Mar 2024 - 10:59

Da Redação - Mayara Campos / Do Local - Gustavo Castro

Foto: Olhar Direto

Moradores resistem à desocupação de área no Contorno Leste: 'não temos para onde ir';  veja vídeos
Centenas de pessoas resistem à desocupação de uma área na região no entorno do Contorno Leste, em Cuiabá. Decisão judicial de 27 de fevereiro determinou a reintegração de posse ao autor da ação, a Avida Construtora e Incorporadora S.A., e a saída das famílias que vivem no local receberam a data limite desta segunda-feira (11). Com isso, Forças de Segurança estão na região para prosseguir com a desapropriação.


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O Olhar Direto esteve no local e conversou com um dos moradores, Creonir Vicente Rangel, que informou sobre a ida da Polícia Militar até o local na noite de domingo (11) para tentar "intimidar" as famílias. Ele também afirma que ninguém recebeu qualquer visita da Assistência Social ou representantes do Poder Público. A grande maioria não tem para onde ir.

“Nós fomos surpreendidos por uma atitude, assim, que a gente achou como se eles estivessem antecipando a ilegalidade, era para hoje a ordem judicial, e ontem não era dia de ninguém vir aqui para botar medo em morador, ameaçar, botar o dedo na cara de ninguém. E é o que fizeram ontem, às 21h, chegaram aí, várias viaturas e entraram, coagindo o pessoal, botando medo, e dizendo ‘vocês vão ver, amanhã vocês vão estar todo mundo fora daqui’”, disse Rangel.

Ele disse que PMs não chegaram a agir de maneira truculenta, mas sim, inconveniente. “Eles atrapalharam o nosso sono, a gente se sentiu que parece que tinha uma intenção de tirar o nosso sossego em uma véspera. Ao invés de deixar a gente dormir em paz para o outro dia ver o que ia acontecer, o que aconteceu foi que a gente foi incomodado numa véspera do dia indicado da liminar”.

Os moradores não tem para onde ir, e a grande maioria vive em condições muito precárias, em barracos de lonas, pois não tinham como construir nem barracos de madeira ou paletes. Cleonir questiona para onde eles vão, visto que não receberam nenhuma atenção das entidades, como o Centro de Referência da Assistência Social (Cras), ou Secretarias de Assistência Social do Estado e Município.

“Para onde vão essas pessoas que não estavam conseguindo pagar aluguel? Se é para desocupar hoje, para onde vai? Para debaixo daquela ponte ali? Não cabe. Debaixo das árvores, onde vamos ficar? Nas avenidas? Competir com as pessoas que já são moradores de rua? Quer dizer, é isso, tudo isso que a gente vê um desprezo da parte de quem deveria olhar por nós”, afirmou o morador.

“A gente ficou imaginando que durante essa semana, nessa véspera, ia aparecer alguém da Assistência Social, do Cras, o pessoal da prefeitura mesmo, e viesse visitar as famílias aqui para gente mostrar as pessoas que precisam de apoio nesse momento. Não apareceu ninguém. Só avisa que vem, aparece essa ordem judicial, e a gente só fica esperando a casa cair. Quer dizer que é só isso? Como se nós fossemos criminosos. E a gente sabe muito bem que essa área aqui não pertence a uma família. Era uma área pública, e alguém está se sentindo o dono daqui, mais do que as pessoas carentes que estão morando aqui”, completou.

Rangel ainda reforçou que ninguém busca confrontar a polícia ou as autoridades, mas imploram por uma atenção, pois estão desesperados sem ter onde ficar ou dormir. Muitas das famílias trabalham e tentam ganhar dinheiro para o sustento, mas não é o suficiente para pagar os aluguéis.



“Então é isso que a gente espera, que as autoridades enxerguem isso, essa realidade. E que a gente acredita que ainda moramos em um país que ainda preza pelos direitos humanos. E pensar a favor de uma pessoa privilegiada e desprezar centenas, milhares de pessoas. De brasileiros e estrangeiros que estão aqui contribuindo, que estão trabalhando e ajudando a construir essa cidade, esse país”, disse Cleonir.

No local vivem muitas famílias venezuelanas, em sua maioria, que fugiram de seu país em busca de condições melhores de vida. Há também haitianos, colombianos, além dos cuiabanos.

Um dos venezuelanos conversou com a reportagem e falou um pouco sobre as dificuldades em seu país natal e como essa situação da desapropriação está se assemelhando no Brasil.

“Eu sou um cara que vim da Venezuela, eu fui policial lá. Eu sei muita coisa que está acontecendo na Venezuela e eu vim para cá buscar a melhoria, sempre. Para o Brasil. Para eu manter um aluguel, eu ficava longe da minha casa, dois, três dias, viajando só para conseguir um dinheirinho extra para manter minha família. Eu tenho dois filhos, de um ano e quatro anos. Se eu sair daqui, para onde eu vou? Como que eu vou sustentar minha família?”, disse o venezuelano, que preferiu não se identificar.

“Muito complicado, né? Porque, eu estou aqui, já vou fazer seis anos e pouco, no Brasil. Eu tive sete anos e pouco na polícia. Eu mesmo vivi lá, desse mesmo jeito que tá fazendo a polícia aqui. Eu fugi de lá, da Venezuela, porque a polícia fazia muita coisa errada com o povo. Eu não gostava, porque eu tenho minha família. Se nós não fazíamos, nós íamos para cadeia, mesmo sendo polícia, quando não acatava as leis. Mas como que eu, sendo polícia, vou fazer besteira com o povo?”, completou.

Outro morador, não identificado, também afirmou que não importa a quantia de dinheiro que as famílias investiram no local, já que as casas e barracos estão prestes a serem demolidos, eles apenas pensam em um lugar para morar.

“A gente não está preocupado com o dinheiro que a gente gastou aqui, não. A gente está preocupado de um lugar para a gente morar. Um lugar para nós morar. Um lugar para a gente morar. Certo. A gente não está preocupado com o dinheiro que a gente perdeu, que a gente investiu aqui. Dinheiro a gente trabalha e consegue, mas a gente só quer um lugar pra gente ficar. Pra gente morar”, disse.

Veja o vídeo
 


Forças de Segurança

Na manhã desta segunda-feira (11), diversas equipes das Forças de Segurança foram mobilizadas para cumprir a desocupação da região do Contorno Leste. Estão presentes no local: Polícia Militar, Rotam, Corpo de Bombeiros Militar, Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, Serviço de Operações Especializadas (SOE), Polícia Penal, Perícia Técnica (Politec), a Ciopaer, com um helicóptero, e a concessionária Energisa.

Enquanto a reportagem estava no local, uma equipe da Energisa realizou o desligamento do fornecimento de energia na região.

Decisão judicial

Na decisão proferida pela juíza Adriana Sant’Anna Coningham, foi dado o cumprimento da liminar concedida há mais de um ano, pois houve tentativas de realizar a desocupação de forma humanizada, no entanto, também após audiências para conciliação, a saída voluntária não foi feita.

A intimação foi determinada em caráter de urgência, para os requeridos que se encontram no local, informando a data de 11 de março para cumprimento da ordem. Ficou facultada a desocupação voluntária, permitindo a retirada com tranquilidade dos pertences e alocação em local adequado, inclusive material de construção que puder ser reutilizado.

A autora da ação também foi intimada para fornecer transporte para as famílias que ali forem encontradas, bem como local para a guarda dos bens essenciais, se necessário.
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