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Sábado, 27 de abril de 2024

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POVOS ERAM CONTRÁRIOS

Após 12 anos em processo, licenciamento ambiental da UHE Castanheira é indeferido pela Sema

Após 12 anos em processo, licenciamento ambiental da UHE Castanheira é indeferido pela Sema
O processo de licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica (UHE) Castanheira foi indeferido e arquivado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), na segunda-feira (18). Em tramitação desde 2012, o processo gerou mobilizações sociais e resistência da comunidade local e povos indígenas, contrárias à medida.


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O parecer técnico da Sema indicou que o arquivamento foi protocolado um dia depois que a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF) ingressaram com Ação Civil Pública (ACP) pedindo a suspensão e a federalização do licenciamento.

"Durante o processo de licenciamento o interessado não apresentou informações e estudos técnicos exigidos pela SEMA", informou a Secretaria sobre o motivo do arquivamento.

O interessado é o governo federal, que mantinha a hidrelétrica no Plano de Parcerias e Investimentos (PPI), fazendo deste um projeto energético prioritário. Por meio da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Estudo de Impacto Ambiental foi entregue em 2015, não sendo mais atualizado. Este foi um dos motivos alegados pela SEMA para não prosseguir com o licenciamento.

"Este é um projeto que desde o início se mostrou muito frágil, com estudos desatualizados, uma série de lacunas, e a falta de informações para a população", contou Liliane Xavier, da Rede Juruena Vivo. "Quando isso é ouvido pelas autoridades e é respeitado, para nós é uma conquista", disse, observando, porém, que por muito tempo não foram escutados.

"Foi uma alegria imensa quando a gente recebeu a notícia", disse Dilma Maria Mani, da Terra Indígena (TI) Apiaká-Kayabi. Ela contou a ida dos empreendedores em sua terra e o papel das mulheres ao negar o empreendimento.

"Tomamos uma decisão de falar um não para os empreendedores que estavam aqui. Hoje os homens agradecem às mulheres Kawaiwete, que tomaram essa decisão sem medo", disse. Apesar da negativa do povo para a EPE, o processo seguia tramitando.

Com uma área alagada de 94,7 km2, a usina também atingiria diretamente moradores urbanos, rurais, agricultores e empresários no município de Juara, de Novo Horizonte do Norte e de Porto dos Gaúchos.

O Estudo do Componente Indígena (ECI) apontava a inviabilidade do empreendimento do ponto de vista do impacto sobre os povos indígenas. Exemplo disso é o risco direto aos povos da TI Apiaká-Kayabi para a realização da festa tradicional dos tracajás. Para os Rikbaktsa, também havia preocupação com a perda da arte plumária, caças, peixes e, sobretudo, das conchas usadas no ritual de casamento.

"Dos imensos impactos, o que mais preocupou a nós, Rikbaktsa, foi a perda da matéria prima que só existe lá naquele rio, que é o tutãrã, que usamos muito nos rituais de casamento tradicional do povo", destacou o professor Juarez Paimy, da TI Erikpatsa. Além deles, os povos Munduruku, Apiaká e Tapayuna seriam diretamente afetados pela usina.

O secretário-executivo do Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), Herman Oliveira, destacou a vitória do indeferimento para os movimentos sociais de base e o envolvimento da sociedade civil para impedir o andamento do processo aos primeiros sinais de irregularidades, que teve três tentativas de audiências públicas de forma apressada e sem consulta às comunidades.

"Atribuo primeiramente ao exercício de controle social pelas organizações a partir do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema). Depois, a todo o processo de organização interna de visitas, projetos, com todos envolvidos e imbuídos do mesmo espírito que era inviabilizar a realização de audiência pública como o início do processo de licenciamento de fato da usina", lembrou.  

"Isso foi sacramentado na nossa última reunião junto com a SEMA, elencando os diversos problemas que cercam ou cercariam a continuidade do licenciamento e a possível construção dessa usina", explicou Herman Oliveira, citando o estudo que foi apresentado à equipe técnica da SEMA em maio de 2023 apontando falhas na avaliação de impactos cumulativos do empreendimento.

Jefferson Nascimento, do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), comentou o papel adequado da SEMA ao indeferir e arquivar o licenciamento e a importância disso para a sociedade civil ver como é possível, de forma organizada e coletiva, reverter um processo. "Isso é animador do ponto de vista geral de que a luta realmente dá resultado, dá ânimo para continuar".

Ele explicou, porém, que apesar da importante notícia sobre o encerramento do processo na SEMA, todos devem se manter organizados e em luta para retirar a UHE Castanheira do Plano Decenal de Expansão de Energia, do governo federal.

"Temos que comemorar esse momento, essa conquista dessa luta. E se Deus quiser, teremos a vitória maior que será cancelar mesmo essa usina", disse também Genir Piveta de Souza, da comunidade Pedreira, em Juara.

Liliane Xavier, da Rede Juruena Vivo, defendeu que os processos de licenciamento ambiental e outros com impactos para a vida das comunidades sejam construídos de forma participativa e dentro da legalidade. "Não somos contra o progresso, mas que seja um progresso responsável, que realmente se preocupe com a vida das pessoas que vivem, que moram, que trabalham nessa região, e que respeitem as leis, as normas, e as convenções às quais o Brasil é signatário", finaliza.

(com informações da assessoria)
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