No ano de 2023, Mato Grosso registrou 340 casos de suicídio, sendo o equivalente a um por dia.  Somente em Cuiabá foram 53 contabilizados. Isso representa a taxa de 9,29 por 100 mil habitantes. Já no Brasil, foram registrados aproximadamente 16,4 mil mortes, esses dados são do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.

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A situação é bem preocupante, e é um desafio para a saúde pública compreender o que provoca essas taxas crescentes a cada ano. Mas quando se trata do estudo conceitual do suicídio, Émile Durkheim é uma referência mundial no assunto.



Durkheim fundamentava suas teorias na concepção de que certos padrões e eventos observados na sociedade moldavam as ações das pessoas de acordo com uma consciência coletiva compartilhada. Esta consciência coletiva, por sua vez, exerceria uma influência direta sobre o comportamento humano e, por consequência, sobre a perspectiva individual em relação à vida e ao mundo.
Esses padrões e eventos, aos quais Durkheim atribuía o nome de fatos sociais, eram compreendidos como fenômenos coletivos e influentes, ocorrendo socialmente, independentemente das manifestações individuais que cada pessoa pudesse apresentar.

Baseado nessas concepções sociológicas, Durkheim dá início a seus estudos sobre o suicídio. Em 1897, ele escreve seu famoso livro, “O Suicídio”, em que explica suas teorias e descreve seus entendimentos a respeito desse fenômeno. Assim, Durkheim sustentava que o suicídio não era uma causa exclusivamente individual, mas que, na verdade, o suicídio tinha suas origens também em causas sociais, que deveriam ser observadas tanto quanto acontecimentos e elementos de origem individual.

Para Durkheim, o suicídio deveria ser explicado como uma questão social, que varia de acordo com a razão inversa do grau de interação social dos indivíduos com a sociedade, em que o elemento central seria a coesão social, e que quanto mais existisse coesão social, menor seriam as taxas de suicídio dentro dos grupos.

De acordo com essas considerações iniciais, Durkheim apresenta os quatro tipos de suicídio que observaria em meio a sociedade, apontando para suas causas sociais específicas e seus desdobramentos. Esses tipos seriam nomeados por ele como: suicídio egoísta; suicídio altruísta; suicídio anômico e suicídio fatalista.
 
Suicídio egoísta
Entende-se esse ato como um tipo de morte em que o indivíduo tiraria a própria vida em decorrência do enfraquecimento dos grupos sociais ao qual ele pertence, fossem eles grupos orientados por sua religião, sua família, seus amigos ou mesmo sua orientação política.
 
Suicídio altruísta
Enquanto algo inverso ao suicídio egoísta, Durkheim perceberia esse ato como um ato em que o indivíduo tiraria a própria vida ao sentir-se no dever moral de cometê-lo, como algo em prol do bem-estar de sua sociedade ou do grupo social no qual estaria inserido, fosse ele religioso ou advindo de uma outra origem.
 
Suicídio anômico
Considerado o mais presente nas sociedades modernas, estaria vinculado a introdução de novos modos de vida baseados na sociedade industrial, que segundo ele, tiravam o poder de regulação e coesão social da sociedade e sua consciência coletiva.
 
Suicídio fatalista
Nesses casos, ao contrário do que aconteceria nos suicídios anômicos, o excesso de regulamentação social e a falta de liberdades fundamentais do indivíduo seriam os elementos que levariam a esse ato. Podemos citar exemplos de sociedades sob regimes totalitários, famílias extremamente rígidas e a escravidão, dadas as devidas proporções de coerção e da falta de liberdades.

Em resumo, é difícil identificar empiricamente o que causou os 16,4 mil suicídios no Brasil em 2023, mas podemos ter uma noção das influências através dos estudos sociológicos de Émile Durkheim e da compreensão político, social e cultural do nosso país.