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Quinta-feira, 16 de maio de 2024

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'Pressionado' por pauta ambiental, Mauro foge da polarização e mostra credenciais no Roda Viva com defesa de leis mais rigorosas

Foto: Reprodução

'Pressionado' por pauta ambiental, Mauro foge da polarização e mostra credenciais no Roda Viva com defesa de leis mais rigorosas
O governador Mauro Mendes (União) foi bombardeado com perguntas sobre questões ambientais em grande parte do tempo em que esteve no centro do Roda Viva, tradicional programa de entrevistas da TV Cultura, exibido em todo o país e com grande presença digital. A participação de Mauro Mendes, exibida ao vivo na segunda-feira (30), foi uma chance para o governador mostrar suas ‘credenciais’ para o resto do país e, nessa perspectiva, ele modulou o discurso ao fugir da polarização do país, voltou a defender o endurecimento da legislação brasileira no combate ao desmatamento e soube sair sem arranhões dos questionamentos sobre a pauta ambiental. A imagem que Mendes buscou passar ao país foi de moderação.

 
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No ar há 37 anos de forma ininterrupta, o Roda Viva da TV Cultura pode não ter audiência expressiva nos lares brasileiros, mas é consumido por um público mais intelectualizado, composto por formadores de opinião, e as entrevistas concedidas lá repercutem em diferentes canais. Diante de uma vitrine dessa importância, Mauro foi cuidadoso ao abordar temas em que trata costumeiramente de forma mais “espontânea” no dia a dia. O caso do Marco Temporal é um exemplo disso. Mendes nunca escondeu que é a favor de que os povos indígenas só tenham direito a reclamar terras que ocupavam na data da promulgação da Constituição, em 1988, mesmo diante de estudos antropológicos que indiquem ligação ancestral de um povo com um determinado território em disputa. Ele sempre disse que o atual modelo causa insegurança jurídica no campo.
 
Perguntado sobre a tentativa de conciliação que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenta fazer sobre esse tema, diante da inconstitucionalidade da tese do Marco Temporal reconhecida pela própria suprema corte e da legislação aprovada em sentido oposto pelo Congresso Nacional, Mendes se disse a favor da preservação das terras indígenas com moderação e da melhoria das condições de vida dentro desses territórios. Na argumentação do governador, só terras não resolvem o problema. Ele se esquivou em ser taxativo sobre o Marco Temporal.
 
“Existe uma nova realidade. Precisamos adaptar essa cultura, garantindo a eles dignidade. Vejo com certa cautela essa relação dos povos indígenas com desenvolvimento econômico. Defendo que tenha sim essa preservação. Não precisamos ampliar muito. Temos reservas em Mato Grosso com mais de 300 mil hectares que tem lá meia dúzia de povos indígenas lá dentro”, exemplificou. Marco temporal é um vespeiro que envolve oposição de interesses ruralistas e direitos constitucionais assegurados aos indígenas. Até o léxico usado demonstra o cuidado de Mauro com a abordagem do tema, se referindo a um dos polos do debate como povos indígenas e povos tradicionais, termos nem sempre utilizados por quem se opõe a ampliação de reservas no território nacional.   
 
O cuidado na escolha das palavras foi o mesmo quando Mauro foi confrontado sobre sua relação com o “bolsonarismo”. Há duas semanas, em entrevista ao PodOlhar, Mendes foi questionado sobre a disputa política travada no campo da direita pelo “espólio político” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível. Na ocasião, Mauro falou que não vai se colocar no papel de “viúva” do ex-presidente. Essa fala de Mendes ao videocast do Olhar Direto foi citada pela âncora do Roda Viva, Vera Magalhães, e na resposta, Mendes foi mais cauteloso. Disse que a fala ao PodOlhar foi uma pequena 'brincadeira' e 'analogia', feita com todo respeito a Bolsonaro. A partir daí, Mauro elenca qualidades do ex-presidente na manutenção de uma base de apoio e cita nome de governadores que ele considera em condições de serem os candidatos a presidente em 2026 pelo campo da direita.
 
Em meio aos nomes citados, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO) e Romeu Zema (Novo-MG), Mauro é questionado sobre a possibilidade de Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama, ser candidata a Presidência do Brasil. Mauro rechaça a ideia, mas volta a ser cuidadoso, para não cometer nenhuma gafe relacionada às questões de gênero. Diz que valoriza o empoderamento feminino, defende que mulheres continuem cada vez mais ocupando cargos na sociedade e diz que elas ‘podem ser tudo o que quiserem’. Ai vem a ressalva: acredita que Michelle não tem experiência, requisito que considera fundamental para um presidente da República.
 
Nesse momento, Vera Magalhães o rebate, citando que Tarcísio de Freitas é um iniciante na política. Ato contínuo, Mauro responde dizendo que não está se referindo a experiencia eleitoral, mas administrativa e lembra que o hoje governador de São Paulo já foi ministro de estado e desempenhou outras funções na administração pública, em governos anteriores. Essa foi uma das tréplicas em que Mauro foi bem-sucedido. Na primeira parte do programa, Mendes também se saiu bem em embates, quando foi insistentemente questionado sobre questões ambientais. Ele reforçou que Mato Grosso atua no combate ao crime ambiental dentro do que permite a legislação brasileira e defende um endurecimento da lei, como com a proposta de perdimento de terra para quem faz desmatamento ilegal.
 
Sempre quando voltava a ser pressionado, ele voltava a dizer que só pode atuar dentro do que a lei prevê e em dado momento perguntou aos jornalistas se a lei brasileira deve ser cumprida ou não. Eles, claro, assentiram. Ele também refez a pergunta quando foi questionado sobre seus posicionamentos contra a Moratória da Soja, iniciativa de multinacionais em não comprar o que for produzido no Brasil dentro de áreas desmatadas no bioma amazônico depois de 2008. Mauro sustenta que a legislação brasileira autoriza esses desmatamentos dentro de parâmetros que devem ser respeitados e que mesmo assim essas empresas não compram a soja lá produzida, o que, segundo ele, é um desrespeito ao ordenamento jurídico brasileiro.
 
Ao falar do presidente da França, Emamnuel Macron, e o posicionamento do lider europeu contra a construção da Ferrogrão, manteve o tom mais ameno que o habtual, mas defendeu a ferrovia e apontou interesse econômico estrangeiro em prejudicar a logística do agronegócio brasileiro. Segundo Mendes, a ferrovia é mais ambientalmente correta que o escoamento da produção pelas rodovias, por meio do transporte feito por caminhões movidos a óleo diesel. 

Em meio ao debate ambiental e questões do agronegócio, pontos que projetam a imagem de Mato Grosso para o Brasil e o mundo, ainda houve tempo para debates mais “paroquiais”, como a relação política com o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), a intervenção na saúde, e o trato político com o ministro da Agricultura Carlos Fávaro (PSD). Mendes não reproduziu os ataques que costumeiramente direciona a Emanuel, mas fez questão de ressaltar que seu adversário é alvo de dezenas de operações policiais. Com relação a Fávaro, o governador disse que não leva desaforo para casa, mas que conversa com o ministro sempre que o encontra, reforçando a imagem de moderado que buscou construir ao longo de todo o programa.
 
Sobre o futuro político, Mendes voltou a esquivar-se de uma fala mais comprometedora sobre seus próximos passos, como uma eventual candidatura ao Senado ou o possível sonho de alçar voos ainda maiores. Mesmo se distanciando da briga pelo espólio político de Bolsonaro, aproveitou o programa para posicionar-se para o público nacional no campo da direita, com imagem de político moderado, num movimento que não não começou agora. Horas antes, na mesmo segunda-feira, o governador havia concedido entrevista ao veículo nacional Exame, cujo foco da cobertura é a agenda econômica, também com público majoritariamente composto por formadores de opinião. De tempos em tempo, concede entrevistas em veículos de alcance nacional, sempre sobre temas específicos, e já buscou veículos mais populares, como o Pânico, da Jovem Pan. No entanto, uma conversa mais longa e conceitual como a do Roda Viva é uma chance rara para mostrar suas credenciais, oportunidade que o governador aproveitou e conseguiu sair sem arranhões, mesmo diante de temas desconfortáveis.
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