Bastaram oito meses como gari para Alana passar a ver a multidão de um jeito diferente. “Nossa, péssima! Lixo no chão, a gente varre, as pessoas jogam, não têm respeito. Sensação péssima”, diz.

No Centro do Rio, é um trabalho sem fim. Limpa canteiro, desentope bueiro, enche o carrinho. Lixo que não demora para voltar às ruas.

“Questão de minutos, dois minutos, três minutos. Tu acabou de varrer, pode olhar para trás que vão colocar bolinhos de papel no chão, guimba de cigarro. Aqui nós praticamente estamos enxugando gelo”, lamenta um gari.

A Prefeitura do Rio acha que é sujeira demais e por isso decidiu instalar um relógio em Copacabana, na Zona Sul do Rio, que mostra a quantidade total de lixo recolhida das ruas durante uma semana. A ideia é tentar constranger a população e reduzir o trabalho dos garis em 8%.

O dinheiro que for economizado na limpeza pública vai ser investido nos bairros onde houver menos sujeira.

“Acho que o nosso sistema público de limpeza está dando realmente um puxão de orelha, para que as pessoas evitem jogar lixo nas ruas, para manter a cidade limpa”, disse o cantor Marcelo Horta.

Em SP, são três mil toneladas por dia

Na cidade de São Paulo, os garis recolhem das ruas três mil toneladas de lixo todos os dias. Em Belo Horizonte, são 550 toneladas. E no Rio, depois do trabalho diário dos garis, são 3.254 toneladas de lixo.

Só a Rio Branco, uma das avenidas cariocas mais sujas, é varrida seis vezes em um dia. Ao fim do expediente, os garis juntam meia tonelada de lixo.

E pode ser pior? Pode. Junte o lixo na rua com a chuva forte e o resultado é um dos maiores pesadelos das grandes cidades. Como viram os paulistanos nesta semana.

Segundo o engenheiro Paulo Canedo, especialista em limpeza de rios, as autoridades são obrigadas a oferecer sistemas de limpeza que funcionem. Mas, sem a ajuda da população, é difícil manter tudo limpo.

“É fundamental que a população se aperceba que aquele pequeno papel, resíduo que ele joga a rua, serão todos eles conduzidos para uma pequena área do bueiro e entope este bueiro”, diz Paulo Canedo, que é pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).