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Terça-feira, 30 de abril de 2024

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Estudo: pessoas têm dificuldade de compreender passagem de tempo

A pergunta mais alarmante na manhã do Ano Novo  "Oh-oh, o que eu fiz noite passada?" pode parecer benigna se comparada às que talvez surjam mais tarde, como "Mm, o que exatamente eu fiz com o ano passado?" Ou, "Espere um momento ¿ a década já passou?"


Passou. Em algum lugar entre a trigonometria e a colonoscopia, alguém deve ter apertado o botão de avançar rápido. O tempo pode marchar, desacelerar, se dispersar ou rastejar, mas no início de janeiro parece que ele dispara como um convidado furioso, deixando conversas por terminar, relacionamentos ainda travados, maus hábitos persistentes e metas inconclusas.

"Acho que, para muitos, quando pensamos em nossas metas e nada aconteceu, de repente parece que foi apenas ontem que as estabelecemos", disse Gal Zauberman, professor associado de marketing da Escola de Negócios Wharton. Porém, a sensação de passagem do tempo pode ser bem diferente, disse Zauberman, "dependendo do que e como você pensa".

Na verdade, cientistas não sabem ao certo como o cérebro registra o tempo. Uma teoria sustenta que existe um conjunto de células especializadas que separam intervalos de tempo; outra afirma que uma ampla variedade de processos neurais atua como um relógio interno.

De qualquer maneira, segundo estudos, esse marca-passo biológico tem uma fraca apreensão de intervalos mais longos. O tempo de fato parece desacelerar durante uma tarde vazia e correr quando o cérebro está absorto em um trabalho desafiador. Estimulantes, inclusive a cafeína, tendem a fazer as pessoas sentirem que o tempo passa mais rápido; tarefas complexas, como organizar o imposto de renda, podem parecer se arrastar mais do que de fato demoram.

E eventos emocionais - como o fim de um relacionamento, uma promoção, uma viagem ao exterior transformadora - tendem a ser percebidos como mais recentes do que realmente são, por meses ou até anos.

Em resumo, segundo alguns psicólogos, as descobertas sustentam a observação do filósofo Martin Heidegger, de que o tempo "persiste meramente como uma consequência dos eventos que ocorrem nele".

Agora cientistas estão descobrindo que o inverso também pode ser verdade: se muito poucos eventos surgem na mente, então a percepção do tempo não persiste; o cérebro encurta o intervalo que passou.

Em um estudo na edição de dezembro da publicação especializada Psychological Science, Zauberman liderou uma equipe de pesquisadores que testou a memória de universitários em uma variedade de eventos noticiados, como a indicação de Ben S. Bernanke para presidente do banco central americano (33 meses antes do estudo) e a decisão de Britney Spears de raspar a cabeça (20 meses). Em média, os estudantes subestimaram em três meses quanto tempo havia passado, revela o estudo.

Isso não é uma surpresa total. Em um experimento clássico, um explorador francês chamado Michel Siffre viveu em uma caverna por dois meses, isolado dos ritmos da noite e do dia e de relógios humanos. Ele saiu convencido de que esteve isolado por apenas 25 dias. Relegado a seus próprios recursos, o cérebro tende a condensar o tempo.

Mas a maneira pela qual ele fixa a temporização relativa dos eventos depende da memória, descobriu o novo estudo. Quanto mais os estudantes se lembravam de desenvolvimentos relacionados ao evento original - a complicada vida amorosa de Spears, por exemplo, ou as intervenções de Bernanke na economia -, mais distante o evento parecia. Em uma série de experimentos, os pesquisadores testaram memórias pessoais e memórias de trechos de filmes vistos em laboratório. O padrão se manteve: quanto mais desenvolvimentos relacionados de intervenção vinham à mente, mais distante o evento original parecia estar.

!As pessoas têm muita dificuldade para compreender a passagem do tempo", disse Zauberman, "e para entendê-lo se agarram a algo que compreendem" - o desdobramento de eventos.

Seus coautores foram Jonathan Levav, da Universidade de Columbia, Kristin Diehl, da Universidade da Califórnia Meridional, e Rajesh Bhargave, da Universidade do Texas, em San Antonio.

Em trabalhos anteriores, pesquisadores descobriram uma dinâmica similar em funcionamento na assimilação que as pessoas fazem de intervalos que duram apenas momentos. Estímulos relativamente esporádicos, como flashes ou sons, tendem a aumentar a velocidade do marca-passo interno do cérebro.

Em um nível óbvio, esses tipos de descobertas explicam por que os filhos das outras pessoas parecem crescer tão mais rápido do que os nossos próprios. Pais presentes estão muito envolvidos em cada soluço, lábio rachado e primeiro passo de seus próprios filhos; enquanto isso, ver o filho do primo uma vez a cada alguns anos, sem a intervenção da memória, contrai o tempo.

Em outro nível, a pesquisa sugere que o cérebro tem mais controle sobre sua própria percepção da passagem do tempo do que as pessoas podem perceber. Por exemplo, muitos têm a sensação de derrota de que foi apenas ontem que fizeram as resoluções do ano passado; o ano encerrou abruptamente e as pessoas não começaram a escrever seu romance ou a frequentar a aula de pilates. Mas é precisamente porque não executaram seu plano que o tempo pareceu ter ido embora.

Em contraste, sugere a nova pesquisa, focar em metas ou desafios que realmente envolveram a pessoa durante o ano - sendo ou não classificadas de "resolução" - dá ao cérebro a oportunidade de preencher o ano passado com memórias, e tempo perceptível.

Finalmente, a mente é perfeitamente capaz de interpretar um ano, ou década, que passou rápido como outra coisa que não a perda de oportunidades para se melhorar. Em outra série de experimentos publicados na Psychological Science, psicólogos descobriram que quando as pessoas são levadas a acreditar que passou mais tempo do que o real, elas presumem que estão se divertindo mais. A percepção aguçou sua fruição de música e diminuiu sua irritação durante tarefas chatas.

"Algo que a psicologia social nos ensina constantemente é que a mente é um maravilhoso aparelho criador de sentido, que pega informações confusas ou ambíguas e as simplifica de acordo com a prática", disse Aaron M. Sackett, psicólogo da Universidade de St. Thomas, em Minnesota, que foi o principal autor do estudo.

"Nesse caso, a sensação de tempo fica menor, mas sabendo que ele é inflexível, precisamos confiar em nossas próprias crenças para dar sentido à diferença. E uma delas é 'O tempo voa quando estamos nos divertindo'."

Um ano como 2009 certamente não foi apenas diversão. Mas parte dele certamente foi - e qual melhor desculpa para negligenciar nossas exigências fatigantes de aprimoramento pessoal?
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