Dos 305 homicídios registrados em Cuiabá e Várzea Grande no ano de 2009, nada menos que 278 tiveram o autor do crime identificado, o que significa um recorde nacional de solução nos casos de assassinatos, com um percentual de 91,14% identificações. Entretanto, esse número parece ser inversamente proporcional à quantia de assassinos presos, pois mais da metade dos criminosos está em liberdade.

Do total de homicidas identificados, 195 ainda estão sem prisão decretada, ou seja, 64%. De acordo com Márcio Pieroni, delegado titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), isso ocorre porque a legislação criminal brasileira beneficia a liberdade dos infratores.

Para o delegado, esse fato contribui para que a população desconsidere todo o trabalho realizado pela polícia. Contudo, quando questionado sobre a responsabilidade do Poder Judiciário, o delegado limitou-se a dizer que “algo tem que ser feito nesse sentido”.

Um dos índices que mostram o quanto a lei tem sido branda e parece beneficiar a liberdade de bandidos é o número de assassinos que se entregaram à DHPP em 2009. No total, 102 homicidas se encaminharam à delegacia para confessar o crime.

O comandante geral da Polícia Militar, coronel Campos Filho, chama atenção para este mesmo fato durante todos os balanços da corporação. Segundo ele, a sensação de impunidade motiva a ocorrência de novos crimes.

Campos Filho, inclusive, costuma apresentar dados dos alvarás de soltura expedidos pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Segundo dados apresentados no balanço das operações de fim de ano da PM, só em Cuiabá foram expedidos 4.742 alvarás de soltura para o sistema de detenção durante o ano de 2009.

Neste mesmo balanço, o coronel Joelson Sampaio lembrou uma pesquisa publicada pela revista Veja, a qual aponta uma taxa de 75% de reincidência. “A sensação de impunidade é grande em todas as classes. Desde quem rouba milhões a quem rouba uma roupa no varal. (...) Dá vontade de ir para casa e não fazer mais nada”, desabafou na ocasião.