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Segunda-feira, 06 de maio de 2024

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Luciana Souza concorre ao Grammy misturando jazz e música brasileira

Com emoções de felicidade e luto se misturando à sua volta, a cantora de jazz Luciana Souza encontrou dificuldades para trabalhar em seu novo álbum.

Com emoções de felicidade e luto se misturando à sua volta, a cantora de jazz Luciana Souza encontrou dificuldades para trabalhar em seu novo álbum. No espaço de nove meses, a artista brasileira enfrentou as mortes de seu pai e da sua mãe, enquanto celebrava o nascimento do seu primeiro filho.


Mas ela pôde contar com o apoio do seu parido e produtor Larry Klein, que a encorajou a continuar trabalhando no disco “Tide”, onde ela enfatiza pela primeira vez as suas próprias composições, cantadas em inglês.

“Eu simplesmente não estava no clima para parar e escrever novas músicas, e ele foi fundamental em me arrastar até o piano e o violão e dizer, ‘continue’, porque a música vai continuar persistindo na minha vida, não importa o que acontecer”diz Souza sobre a o período de dificuldades, entre 2008 e 2009. “Foi uma época difícil, lidar com tantas emoções e eu comecei a usar a música (...) como um lugar de conforto, onde eu poderia me acalmar”.

Agora “Tide” está concorrendo ao Grammy no dia 31 de janeiro – é o quarto (em um total de oito) dos seus álbuns a ser indicado na categoria de melhor álbum de jazz vocal durante a década passada. Apesar de ainda não ter recebido uma estatueta por seu trabalho solo, a cantora de 43 anos já foi agraciada com um Grammy de melhor álbum há dois anos, como cantora no disco “River: The Joni letters”, de Herbie Hancock.

Em família

E a cerimônia deste ano será um tanto familiar para Souza. Klein, que já ganhou quatro Grammys de melhor produtor por discos de Hancock e de sua ex-esposa Joni Mitchell, recebeu sua primeira indicação de produtor do ano, por seu trabalho em “Tide” e também em álbuns de Madeleine Peyroux, Melody Gardot e Tracy Chapman, entre outros.

Souza diz que a indicação é especialmente gratificante, já que a mãe de primeira viagem não pode entrar em turnê para divulgar “Tide”, escolhendo ficar em casa cuidando do filho Noah, que agora tem quase um ano e meio.

“Ter sido indicada desta vez foi uma grande surpresa pra mim”, diz Souza, falando da sua casa em Los Angeles pelo telefone, em um inglês praticamente sem sotaque. “Como brasileira (...) ser reconhecida pelos meus pares como uma legítima cantora de jazz é incrível, e é um grande incentivo para eu continuar fazendo o que faço... ‘Tide’ é a representação perfeita do que eu gosto de cantar ao vivo”.

Repertório brasileiro

Souza se diferenciou de suas colegas indicadas ao prêmio com um repertório que não se baseava em starndards norte-americanos. Ela escolheu em “Tide” uma lista de faixas que reflete “o eixo gravitacional tanto do Brasil quanto dos EUA” – misturando os ritmos de seu país natal com a liberdade do jazz.

O repertório tem poemas de amor de e.e. Cummings musicados por ela, clássicos brasileiros como os hinos dos expatriados “Adeus América” e “Eu quero um samba”, oferecidos como uma homenagem ao mestre da bossa João Gilberto, e novas faixas escritas em parceria com Klein e o letrista David Batteau.

“Queríamos expressão o sentimento dos altos e baixos. Como você faz para se manter constante – sem subir e descer com a maré – com tantas emoções vindo, tanta alegria e luto ao mesmo tempo”, explica Souza.

Paul Simon

A cantora encerra o álbum com “Amulet”, uma assombrosamente terna canção sem palavras de Paul Simon, que apresentou a composição para ela quando tocaram juntos em 2008 em um show no Brooklyn Academy of Music. Simon diz que a versão dela para “Amulet” o impressionou tanto que ele está considerando incluir a música em seu próximo álbum apenas como um instrumental ao violão.

“A Lu tem um tom muito lindo na voz”, diz Simon por telefone. “Ela canta com uma entonação afiada, com clareza, e ela tem um grande senso rítmico. (...) Ela tem uma posição única, onde ela pode aproximar as duas culturas musicais – trazendo um insight brasileiro para a música de língua inglesa”.

Filha da bossa

Souza é literalmente uma filha da bossa nova. Ela começou cantando jingles aos 3 anos em um estúdio de gravações administrado pelos seus pais. Seu pai, o violonista e compositor Walter Santos, cantava vocais de apoio com o amigo de infância João Gilberto. Sua mãe, a letrista Tereza Souza, criou nela um amor pela poesia que a inspirou a gravar posteriormente discos com interpretações musicais de poemas.

Souza deixou para trás uma promissora carreira de cantora no Brasil para ir morar nos EUA aos 17 anos, mal sabendo falar inglês, para estudar composição de jazz no Berklee College of Music, em Boston. Ele mais tarde se tornou habitué da cena de jazz de Nova York, gravando seus discos de maneira independente e explorando a nova música erudita.

Depois de uma apresentação em 2005 com a Filarmônica de Los Angeles, Souza conheceu Klein e se mudou no ano seguinte para a Costa Oeste quando eles se casaram. Ele acabou produzindo o primeiro álbum dela para a Universal Music France, “The new bossa nova”, encorajando ela a seguir a ideia de fazer versões de canções pop norte-americanas que gostava na juventude “através de lentes da bossa brasileira”. O seu disco de 2007 inclui faixas dos Beach Boys, Mitchell e Leonard Cohen, alémd e um dueto com James Taylor em “Never die young”.

Souza acha que seu espírito aventureiro e a vontade de cruzar barreiras musicais vem de um conselho oferecido pelo seu padrinho, o multi-instrumentista Hermeto Pascoal, que ensinou todo o cancioneiro brasileiro a ela. “Eu estou fazendo o que o Hermeto me falava. Eu tinha medo de fazer algo de errado, e ele dizia, ‘não se preocupe, é apenas música’”.
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