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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Opinião

Socorro Patrimônio Histórico

Cuiabá cidade verde ..., assim pensou D. Aquino Correa, e assim era um Cuiabá de outrora, contada em prosa versos e artigos de antes.

Sua origem do ouro ficou marcada na rua27 de dezembro, no beco do candeeiro. Suas ruas de baixo, do meioe de cima, cristalizam e configuram as ruas criadas ainda no século XVIII e XIX. Mas os casarões se foram e os que ainda restam,pouquíssimos são preservados, dos muitos que desapareceram em função da modernidade.

Os monumentos estão literalmente deixados para o tempo cuidar, a chuva que limpa e a poeira que encobre. Os antigos casarões, a igreja da Matriz,foram derrubados em nome do progresso e da mudança. Os bancos e casas comerciais sobrepuseram-se sobre os monumentos do capitalismo dinâmico, frenético que não aceita o antigo, visto comosinônimo de decrépito e ultrapassado. Diante da categorização de ultrapassado, deve ser desaparecido,criando o novo.

O novo no entanto, é sinônimo de anacronismo, pois nenhuma sociedade vive sem o seu passado, que lhe dá substância de raiz, de identidade e de força social. O ato de ser quem você é, é antes de tudo advindo de uma origem e, portanto de referência, seja familiar, seja macro social.

O homem não vive sem suas raízes esão suas estruturas vertebrais durante a vida inteira. As origensfamiliares demonstram o nosso umbigo cultural primário, Porto Seguro na Bahia, o umbigo cultural brasileiro. Em Cuiabá,igrejas, ruas, sobrados, monumentos, músicas e danças são nossa ligação com o passado que nos norteiam a ser Cuiabano do jeito que somos.

Preservar é a palavra que cabe aqui nesse artigo, pois falta isso em nossa administração local e Estadual. O fascínio do construir,do derrubar o natural, remodelar o que supostamente não comporta mais os apelos do consumo, é e foi a panaceia geral das administrações passadas. Hoje você anda no chamado centro Histórico equase não se ver nada. Mesmo algumas casas do inicio do século, estão escondidas em grandes apelos de propagandas, estampadas em placas luminosas.

Nesse momento da copa a euforia é geral,o governo estadual “esburaqueia” a cidade a mais de dois anos, transformando o trânsito num inferno geral. Tudo em troca de um futuro incerto e duvidoso de uma via pública melhor e,haja aditivo nos contratos que supervalorizam as obras divinas do futuro.

Eo passado, bem ele como no livro de George Orwell, “1984”, ele vai sendo construído, desconstruído e reformulado ao sabor da mídia, ops, do ministério da verdade, conforme o livro.

Nesse furor de alegorias futuristas,o VLT, depois de tanta problemática vem se arrastando ao longo da Avenida Fernando Correa e Avenida Rubens de Mendonça. Na Avenida Rubens de Mendonça tem um entrave Histórico. O que fazer com a praça e o monumento em homenagem a Ulisses Guimarães? Simplesmente acabar e guardar em um porão do Paiaguás, um dos símbolos da redemocratização do país após 1985, com a Nova República. Local de inúmeras manifestações populares, entre elas de Professores, Sem Terras, etc.

Do outro lado, acho mais crítica à situação. Na Avenida Fernando Correa, praticamente de frente ao bairroBandeirantes, se encontra uma estátua que sintetiza o início da colonização de Cuiabá e de Mato Grosso. Ela demonstra as três etnias que compõem o palmilhar daconquista de terras antes espanholas. Foi o ato encarniçado dos bandeirantes,a resistências e trabalhos de indígena e negros que na mistura criou nossa sociedade umbilical compondo assim nossa memória enquanto povo. Nascido aqui ou pau rodado que se estabeleceu nessa parte tão longínqua dos centros tradicionais brasileiros, não podemos ficar alheia a essa situação.

O IPHAN,Instituto do Patrimônio Histórico, representado aqui em um dos poucos casarões no centro Histórico, tem o dever legal de se pronunciar e se posicionar contra a extinção de mais um ente Histórico de nossa cidade e de nosso Estado. É preciso esclarecer a sociedade se nessas mudanças que afetam , entre outros a Igreja do Rosário, o morro da luz e o entorno da Avenida Tenente Coronel Duarte com estruturas seculares que serão afetados pelo bondinho miraculoso serão preservados ou mais uma vez mais extintos pelo sabor da copa de 2014?

A nossa memória de 1976 para hoje, vem de um gravedescaso com as estruturas históricas regionais que transformando-se em vagas lembranças mentais do passado e empoeiradas em mentes de idosos, tendem a ir para os caixões, virando pó na história.

Prof.Ms Pedro Carlos Nogueira Felix

(Professor de escola pública e privada de Cuiabá autor dos livros História de Mato Grosso ed KCM e Defanti, e do livro Cuiabá, centro da América do Sul, ed Cortez)

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