Olhar Direto

Domingo, 28 de abril de 2024

Opinião

Carne levare

O Carnaval tal qual conhecemos atualmente no Brasil com plumas, paetês, confetes e serpentinas, batuques e enredos, escolas de samba e bloquinhos, com máscaras e fantasias, brilhos e purpurinas, que movimenta a economia em vários segmentos sendo considerado um dos maiores eventos que ocorre simultaneamente em todo o país, nem sempre foi assim!
 
Sua origem remonta o período medieval e possivelmente foi trazido da Índia para o Ocidente pelos portugueses, os povos indianos já realizavam festival colorido bem antes da passagem de Cristo pela Terra, o festival Holi ou festival das Cores, é um grandioso evento indiano onde as pessoas saem as ruas e jogam pó colorido para o alto e no próximo, a simbologia do Holi é sobre a vitória do bem contra o mal. Como todo ritual que é espelhado em outra cultura, este também sofreu transformações adequando-se a sua própria simbologia.
 
Para além do contato dos portugueses com as festividades praticadas na Índia, festas e festivais em homenagem aos deuses ou a chegada de alguma estação do ano sempre foram realizadas. As Sacéias na Babilônia, por exemplo, era uma celebração em que um prisioneiro representava durante alguns dias a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado. Na Mesopotâmia, ocorria um ritual em que o Rei perdia seus emblemas de poder e era surrado no templo de Marduk, para eles o rei era humilhado no entendimento de submissão à divindade. Os romanos promoviam festas dionisíacas, regadas pelo vinho, pelos prazeres da carne, e com inversão de papéis, eram a Saturnália que ocorria no solstício de inverno, em dezembro e a Lupercália, em fevereiro, que seria o mês das divindades infernais e também das purificações.
 
Nos países de religião católica, o entrudo, que ao pé da letra significa entrada, ou seja, o que precede a “entrada do corpo e espírito na quaresma”. Existiam dois tipos de entrudo, o popular: onde as pessoas e no caso dos países colonizados os escravos também podiam participar, jogavam água umas nas outras, isso dependendo da região, em outros lugares jogavam ovos e bolas de cera. A outra era o entrudo familiar: acontecia em grupos fechados e os participantes divertiam-se jogando uns nos outros, limão ou laranjeira de cheiro que consistia em pequenas bolas de cera recheadas com águas perfumadas.
 
No Brasil, a prática do entrudo está relacionada a nossa colonização, a partir de 1641, na cidade do Rio de Janeiro, não à toa é a capital que promove o espetáculo carnavalesco mais famoso do país - quiçá do mundo. Porém, a Igreja Católica nunca viu com bons olhos essa folia, entendiam que a inversão de papéis também era uma inversão do sagrado e profano, além dos exageros cometidos pelos foliões. Neste contexto, a Igreja Católica, resinificou a festança criando a Quaresma onde os quarenta dias que antecedem a Páscoa deve ser de jejum e oração. Assim, a origem da palavra Carnaval do latim “carne levare, que significa “afastar-se da carne”. Antes de afastarem-se da carne, os foliões entregam-se ao Carnaval!
 
O Carnaval brasileiro se tornou nas primeiras décadas do século XX um grande espetáculo do mundo capitalista, gerando emprego e renda, das grandes as pequenas cidades sendo transmitido pela mídia, dos bloquinhos as escolas de samba, dos camarotes onde desfilam figuras públicas aos anônimos que brilham sambando em seus quinze minutos de fama. O Carnaval de hoje como o dos tempos idos traz em si as mesmas representações, permanece a essência de preceder a Quaresma, porém com transformações que se movimentam conforme a sociedade faz seu caminhar!
 
Para alguns é uma festa de profanação, para outros de liberação!
 
Lidiane Álvares Mendes é doutoranda em Estudos de Cultura Contemporânea/ UFMT. Bolsista CAPES. Autora do livro: Na esteira da loucura: Colônia de Alienados Eduardo Ribeiro – Manaus/AM – 1894-1930
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