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MORTA PELO EX-MARIDO

O ânimo criminoso do macho: assassinato da juíza Glauciane completa 4 anos nesta quarta

07 Jun 2017 - 09:20

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Reprodução

Glauciane Chaves de Melo

Glauciane Chaves de Melo

Há exatos quatro anos, Mato Grosso sofria um duro golpe à segurança de seu sistema judiciário. Revoltado com o término do relacionamento, o enfermeiro de 45 anos Evanderly de Oliveira Lima se dirigiu ao Fórum de Alto Taquari, a 509 km de Cuiabá, com uma missão: assassinar a ex-esposa, a juíza de Direito Glauciane Chaves de Melo. Na frente da assessora, durante o expediente, ela foi morta com dois tiros, no dia 07 de julho de 2013. 
 
Três dias depois, o assassino foi encontrado, em um matagal há 20 km de Alto Taquari. Se disse arrependido, tudo o que queria era, com um revólver na mão, reatar seu relacionamento à força. Dois anos depois, receberia sua pena: 18 anos e seis meses de prisão.

"O ânimo do macho. O sentimento masculino em não suportar a superação de qualquer forma, em especial o provocado pela fêmea que o dispensa", consta da sentença. Relembre detalhes desta tragédia:

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Após os disparos efetuados por Evanderly de Oliveira Lima, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi acionada para bloquear as estradas e impedir que o suspeito deixasse a região. A Coordenadoria Militar enviou o BOPE para ajudar nas buscas ao acusado.
 
O então presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), Orlando Perri, viajou naquele mesmo dia para a Comarca de Alto Taquari. O presidente da Associação Mato-grossense de Magistrados (Amam), desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha, designou o juiz José Arimatéa Neves Costa, da Comissão de Prerrogativas, para também acompanhar o caso. Mato Grosso havia registrado a segunda morte violenta de um magistrado.
 
Três dias depois, o assassino foi finalmente encontrado. Ele estava escondido em um matagal nas redondezas de Alto Taquari. Durante interrogatório, Evanderly dizia ter esperanças de reatar seu relacionamento com a juíza e que tinha ido até o Fórum para conversar com a magistrada e retomar o casamento.
 
Ao delegado da Polícia Civil Arnaldo Agostinho Sottani, o acusado relatou que pensou em se entregar, mas ficou com medo de morrer por conta do cerco policial, que caminhou 20 km em meio ao matagal, que sentia câimbra e fome. Diversas outras perguntas foram feitas, mas poucas delas foram respondidas, o suspeito dizia não se lembrar de detalhes do crime.
 
O julgamento

No dia 29 de abril de 2015, cerca de 80 pessoas foram ao Fórum de Alto Araguaia para assistir ao julgamento que durou mais de 17h.  Envergonhada e entristecida, Lurdes Chaves de Melo pediu que seu próprio filho, o réu, se retirasse da sala de audiências para que ela pudesse testemunhar. Chorando muito, prestou 40 minutos de depoimento.
 
Oito testemunhas de defesa e acusação contribuíram para a elaboração da sentença. De cabeça baixa, Evanderly chegou a chorar durante interrogatório, dizendo-se arrependido do crime cometido e reforçou a explicação que havia dado dois anos antes. Estava inconformado com o fim do relacionamento de 10 anos com a juíza Glauciane, que se negava a reatar o relacionamento, não havendo outra solução se não tirar-lhe a vida.
 
Não houve dúvidas, era culpado. O juiz Carlos Augusto Ferrari proferiu sua sentença: 18 anos e 06 meses de prisão em regime fechado, sendo 02 anos de prisão por porte ilegal de arma, (ela não estava registrada) e 16 anos e 06 meses pelo homicídio.  Ainda de cabeça baixa, ao final do julgamento, Evanderly Lima foi levado de volta para a Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá. Pouco tempo depois, iniciou o cumprimento da pena.
 
Para o juízo, Evanderly Lima demonstoru “total desprezo pelo gênero feminino, pela paz no trabalho e pelo Estado Brasileiro, agindo simbolicamente contra uma mulher que desempenhava sua função de distribuir justiça em nome de seu povo".
  
Ânimo do macho
 
"A motivação dos crimes foi analisada pelo conselho de sentença, sendo evidentemente o ânimo do macho. O sentimento masculino em não suportar a superação de qualquer forma, em especial o provocado pela fêmea que o dispensa. Ainda que difícil superar o sentimento da rejeição, a sociedade brasileira, na busca da evolução do espírito e em respeito aos direitos mínimos da pessoa humana impõe o autocontrole masculino que deverá se conformar e buscar a felicidade em outra relação se for do seu desejo".
 
"Há de se mencionar que o réu matou uma mulher que se lançou à vida produtiva, em seu local de trabalho, no exercício de suas atividades fora do expediente necessário, dentro das dependências do Poder Judiciário, na presença de servidoras que lhe acompanhavam, atingindo a vida, a fragilidade de uma mulher e secundariamente a República Federativa do Brasil".
 
O magistrado conta que o crime atinge a República brasileira. "Nós afirmamos no campo legislativo que não aceitamos mais a violência de gênero como no caso analisado hoje, no qual a vítima é uma mulher. Considerando essa questão social, o Estado brasileiro é vítima. Numa análise secundária, não se pode dissociar, que o crime ocorreu dentro de um prédio público do Poder Judiciário, um do três poderes que compõe a República Federativa do Brasil", explicou Carlos Augusto Ferrari.
 
Uma juíza com muitos sonhos
 
Glauciane Chaves de Melo havia assumido os trabalhos em Alto Taquari no dia 18 de junho de 2012, depois de um longo tempo que o município passou sem ter um magistrado residente na cidade. Natural de Belo Horizonte-MG, e aprovada em 19º lugar para exercer o cargo de juíza de direito.
 
Em sua posse, Glauciane se declarou feliz e dizia que desejava realizar um bom trabalho no município. “Como eu disse nas minhas breves palavras introdutórias, estou muito feliz de estar aqui em Alto Taquari, foi uma cidade que eu realmente pude escolher. Ainda que eu estivesse em melhor colocação, escolheria aqui porque é um clima gostoso, um clima que lembra a minha origem lá das Minas Gerais. Alto Taquari é uma cidade em constante desenvolvimento, é uma cidade tranqüila pelo o que eu pude pesquisar. Eu escolhi por isso”, falou a juíza.
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