Primeiro-secretário à época de um suposto esquema na Assembleia Legislativa, prestou depoimento na tarde desta quarta-feira (9) o deputado estadual Mauro Savi (PR), arrolado como testemunha no processo que corre na Vara Especializada Contra o Crime Organizado, da juíza Selma Arruda. Os fatos investigados pelo Ministério Público Estadual, em consequência da Operação Ventríloquo, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), versam sobre um possível desvio, a mando de José Geraldo Riva, de aproximadamente R$ 9 milhões do Lesgislativo estadual. Momentos antes de ser chamado para prestar depoimento, o deputado conversou com o Olhar Jurídico:

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Deputado, qual a razão de sua presença aqui hoje?

“Fui arrolado como testemunha de defesa do Julio [César Domingues Rodrigues], uma das pessoas que, pela Justiça, supostamente, estivesse envolvida nessa negociação. E vim aqui prestar esse esclarecimento. Acho que é o mínimo que posso fazer”.

O senhor ocupava o cargo de primeiro secretário e na época o delator do caso disse que o senhor não teria influencia nenhuma nas negociações. Isso procede?

“Fui Primeiro secretário na época”, mas “eu não participei das reuniões de elaboração, dos supostos pagamentos. Eu participei do pagamento. Fiz o pagamento mediante o crivo da Assembléia, da Procuradoria, da Contabilidade”.

O deputado Romoaldo Junior (PMDB) e Gilmar Fabris (PSD) foram indiciados no Tribunal de Justiça, nesta mesma ação. O senhor acredita na inocência dos dois?

“Olha, esse senhor aí que supostamente foi procurador do Bamerindus. Ele tinha mais negócios. Cabe às pessoas que foram arroladas [no processo] provarem a origem dos pagamentos, da maneira que foram feitos. Não cabe a mim dizer se eram ou não inocentes”.

Qual o papel do Primeiro Secretário?

“Coordenar despesas, é o mesmo caso do material, certo? Eu não tenho a obrigação de estar lá no caminhão esperando o material chegar para ver quantos tipos de papel e quantos tipos de toner, certo? Eu tenho as pessoas que trabalham na Assembléia e são responsáveis por isso, para passar por todo esse tramite. Ao passo que, a questão de uma obra. Existem pessoas no governo que não são obrigadas a saber se uma obra foi bem feita ou mal feita. Elas passam por engenheiros, por técnicos até chegar ao secretário que vai assinar. Mesma coisa. Agora, se houve problema, a justiça ainda vai procurar”.

Você conhece o Júlio César Domingues Rodrigues e o Joaquim Fábio Mielli Camargo?

“Joaquim não conheço, não sei quem é. Julio César esteve em meu gabinete após a negociação. Eu disse claramente que não o conhecia e não sabia da contratação”.

Entenda o caso:

A Operação Ventríloquo teve início com a delação premiada do advogado Joaquim Fábio Mielli Camargo, que representava o HSBC. Segundo o MPE, o então presidente afastado da Assembléia Legislativa de Mato Grosso, José Riva, teria determinado o pagamento de uma dívida na integralidade de R$ 9,6 milhões, em face ao banco HSBC, relativa a débitos em atraso da contratação de seguros saúde para os servidores da Casa de Leis, desde que metade do montante fosse desviado para o grupo organizado pelo ex-parlamentar.

No processo, após o recebimento das informações levantadas na quebra de sigilo, Selma Rosane decidirá sobre um pedido de revogação de prisão requerido por Julio Cesar Domingues. O Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Sérgio Ricardo de Almeida, também é esperado como testemunha, ainda sem data definida para audiência.