No dia 25 de abril de 1984, foi dado início à sessão da Câmara dos Deputados responsável por votar a emenda Dante de Oliveira. Nesse dia histórico, a Câmara dos deputados foi tomada por artistas e intelectuais, a população organizou buzinaços, panelaços, e multidões lotaram galerias do Congresso.

Mesmo com todas as manifestações da população, não foi obtido o número de votos necessário para a aprovação da emenda. No dia 26 de abril, foi anunciado que os votos não poderiam ser alcançados. As multidões, decepcionadas, entoaram o hino nacional pelas ruas. Foi uma mobilização popular jamais vista e que mudou os rumos da história do Brasil.

“Jamais passou pela cabeça do Dante que a emenda se transformaria num fantástico movimento de massas", revelou a ex-deputada Thelma de Oliveira, viúva do deputado federal Dante de Oliveira, autor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de 2 de março de 1983 que estabelecia eleições diretas para presidente e seria o estopim do movimento.



O acervo da Folha de São Paulo informa que a primeira grande manifestação pública de apoio ao PEC de Dante de Oliveira ocorreu em um debate político sobre eleições diretas realizado no auditório da Universidade de Goiânia, para o qual afluíram muitas pessoas, inclusive líderes petistas e o deputado Ulisses Guimarães.

Depois, os partidos oposicionistas – PMDB, Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Democrático Trabalhista (PDT) e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – começaram a buscar acordos com o governo para garantir a aprovação do voto direto para presidente nas próximas eleições. Com a maioria de representantes no Congresso formada pela base governista do Partido Democrata Social (PDS), conseguir a adesão à emenda era muito difícil.

O grito dos artistas

Curitiba foi escolhida para sediar o primeiro de uma série de grandes comícios, no dia 12 de janeiro de 1984, por ser a cidade que, segundo seus idealizadores, melhor condensa as características das capitais brasileiras. Seria o primeiro teste para a campanha. Nele, estavam presentes, além das 30 mil pessoas no público, artistas do porte de Martinho da Vila, Elba Ramalho, Raul Cortez e Dina Sfat. Osmar Santos, popular locutor esportivo, foi o animador do evento, e a partir de então se tornaria uma espécie de animador oficial da campanha.

No dia 25 de janeiro 200 mil pessoas lotaram a Praça da Sé, em São Paulo, e em Belo Horizonte foram 250 mil na Avenida Afonso Pena, a 24 de fevereiro. A campanha das diretas ultrapassou, em tamanho, as históricas manifestações em defesa da criação da Petrobrás, na década de 50, e as marchas pela democracia de 1964.



E a lista de estrelas continuava: Morais Moreira cantou o “frevo das diretas”, Simone emocionou o público com “pra não dizer que não falei de flores” (de Geraldo Vandré), Fafá de Belém, Fernanda Montenegro, Milton Nascimento, Sônia Braga, Bruna Lombardi, Irene Ravache, Ziraldo, Maitê Proença, Lucélia Santos, Christiane Torloni, Milton Gonçalves, e até... Xuxa – que na época iniciava a carreira de apresentadora infantil na TV Manchete – subiu ao palanque do Rio de Janeiro para colaborar, mesmo que com um simples assobio.

Eleger o presidente da República, depois do mais longo ciclo de militarismo republicano, era um sonho distante. Qualquer mudança não seria fácil em um país sem tradições de rupturas. O fator mais importante de toda esta mobilização em favor das eleições diretas é que elas não ocorreram em prol de nenhum candidato específico nem de algum partido político, mas em torno de uma idéia comum, de um ideal democrático.

Com a derrota do projeto, em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito no Colégio Eleitoral para um mandato de seis anos. Ele recebeu 480 votos, contra 180 de Paulo Maluf, candidato da ditadura. Mas Tancredo morreu antes de assumir, dando lugar ao vice, o atual senador José Sarney.