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ENTREVISTA

Empresário que "pagou" R$ 50 milhões a João Emanuel sofre ameaças; mais 100 podem ter caído em golpe

20 Set 2016 - 13:40

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Sede do grupo

Sede do grupo

Apresentando um suposto dono de banco chinês, endereço de escritório em Nova York, jatinhos e jantares sofisticados, a Soy Group, liderada pelo ex-vereador João Emanuel Moreira Lima, teria enganado o empresário Edson Vieira dos Santos, dono da Criativa Construções. Hoje, lesado em suas propriedades, vê sua empresa falida e sofre ameaças constantes de agiotas. Ele garante: é “vítima das circunstâncias”, “sofreu estelionato” do político e como ele, “outros 100 empresários podem ter sido enganados”. O empresário narrou, em coletiva realizada nesta terça-feira (20), como João Emanuel teria lhe arrancado 40 cheques totalizando R$ 50,5 milhões para um projeto inexistente.


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“Perdi tudo, uma empresa de 20 anos, carro, moto...”, avalia Edson Vieira dos Santos, que pouco falou e pediu para ter sua imagem preservada. Delegou a seus advogados a explicação do golpe que afirma ter sofrido. A eles coube narrar os fatos. Teria sido o técnico de segurança Roney quem lhe apresentou ao presidente da Soy Group (traduzindo, “Grupo Soja”), João Emanuel Moreira Lima.

A ele foi apresentado um empreendimento “perfeito”. Uma área de 6.900 hectares na Amazônia. Nela seriam construídas torres de apartamentos com a assinatura da Criativa Construções, que ficaria com 5% sobre os lucros, algo em torno de R$ 170 milhões ao mês. Além disto, uma terceira torre, que seria localizada em Cuiabá. O primeiro empreendimento renderia R$ 5 bilhões, o segundo, R$ 1.07 bilhão e o terceiro, R$ 30 milhões.

Para compor o projeto, Edson Vieira dos Santos disponibilizaria o que, de fato, interessaria ao grupo criminoso, segundo revelam as investigações: 40 cheques que totalizam R$ 50,5 milhões. Como caução e garantia, 10% do valor, isto é, R$ 5,5 milhões seriam depositados na conta do investidor em fevereiro de 2016. Não o foi. João Emanuel depositou apenas R$ 3 milhões. Foi então que Edson percebeu que havia caído em uma arapuca. Momento que decidiu sustar os cheques.
 

* Cópia de alguns dos cheques fornecidos. Foto: Olhar Direto
 
A bem da verdade, efetivamente,  a vítima não “perdeu” estes R$ 50,5 milhões, uma vez que os cheques foram sustados. Perdeu uma moto e um carro, mas, principalmente, sua credibilidade. Afinal, sua empresa hoje se vê falida por falta de contratos e seu nome sujo na praça, pois 40 cheques não compensados rondam pela cidade na mão de empresários truculentos e agiotas misteriosos. De acordo com a vítima, eles teriam sido trocados por João Emanuel na continuação das “falcatruas”. Os seques serviriam como “capital de giro” para o esquema.
 
Quando questionado se possuía advogado para acompanhar a efetuação do contrato de investimento, Edson Vieira nega. Diz que o único advogado envolvido foi Lázaro Moreira Lima, irmão do ex-vereador e denunciado na “Operação Castelo de Areia”.

Alguns pontos, entretanto, deixaram a desejar aos olhos da imprensa, que esteve em peso presente no escritório de advocacia do empresário. Por exemplo, quando questionado se havia, Edson Vieira, pesquisado a vida pregressa de João Emanuel, ele nega. Alega que  morava em Cuiabá e sim em Tangará da Serra e por isso desconhecia. 

Dessa forma, desconhecia que o denunciado se tratava de vereador; ex-genro do ex-deputado e réu em centenas de ações penais, José Geraldo Riva; que se tratava de denunciado e preso temporário das operações “Aprendiz”, que investiga desvio de dinheiro da Câmara Municipal e transferência de terreno de forma fraudulenta; que se tratava de denunciado da “Assepsia”, acusado de corrupção ativa, por tentativa de compra de decisões judiciais, no valor de R$ 1 milhão, para que fosse colocada em liberdade uma família presa por tráfico de drogas. Edson Vieira, questionado se nunca havia sido alertado sobre estes fatos, nega.

Da mesma forma, o empresário foi questionado se fez uma rápida pesquisa na internet para descobrir quais seriam (ou teriam sido) os empreendimentos já realizados pelo Grupo Soy, também nega. Edson Vieira desconhece outro projeto que a empresa de João Emanuel estaria desenvolvendo.

Perguntado se era normal, no seu ramo de construções, a prática de investimento mediante disponibilização de 40 cheques com valores astronômicos, nega. Diz que foi a primeira vez que tal procedimento lhe fora apresentado.

Da mesma forma, foi perguntado se teve curiosidade de pesquisar o endereço disponibilizado no site da “Soy Group”, onde supostamente seria localizado o escritório do grupo em Nova York, nega. Diz que “por não possuir domínio da tecnologia”, jamais buscou em aplicativos como “Google Maps” ou “Google Earth” o endereço indicado. Se tivesse feito, descobriria que o endereço remete à uma escola pública, em um bairro residencial do subúrbio de Nova York.
 
Também foi questionado se o empresário não desconfiou do chinês Mauro Chen, que se apresentava como dono de “banco chinês”, nega. Também foi perguntado qual o nome do suposto banco da China, desconhece. Por fim, também nega que tivesse estranhado a desenvoltura do ex-vereador cuiabano no seu papel de tradutor de mandarim (língua considerada de difícil entendimento até para os mais experientes linguistas). “Ele (João Emanuel) falava: ‘ó, esse é o cara que tem o dinheiro pra investir’”, diz Edson Vieira. Questionado se acredita que Mauro Chen tenha sido usado no esquema, a defesa da vítima nega. Crê que ele tenha feito parte do esquema ciente de sua ilegalidade.

Ainda que todos estes “detalhes” para efetuação de um contrato com um desconhecido investidor que solicita R$ 50,5 milhões em cheques tenham sido ignorados, Edson Vieira nega ter sido ingênuo, mas sim que foi enganado por um grande e bem arquitetado teatro montado, segundo ele, por João Emanuel e Walter Dias Magalhães. Responsabilidade que a defesa expressa como “50% para cada”.

A defesa do empresário e vítima adjetiva o luxuoso prédio do “Grupo Soy” como verdadeiro “cavalo de Tróia” e adverte: Edson Vieira é um entre outros mais de 100 empresários que podem ter caído no mesmo golpe. Hoje, a vítima sente medo dos agiotas que lhe cobram, razão pela qual solicitou que sua imagem fosse resguardada.

Boa parte das informações prestadas nesta terça-feira (20) à imprensa está presente no Termo de Declarações assinada pela vítima no dia 15 de agosto deste ano junto ao GCCO, ocasião que contou com a presença do delegado Diogo Santana Souza.

Entenda o Caso:

Trata-se da "Operação Castelo de Areia”, realizada pela Polícia Judiciária Civil. Ao todo, foram denunciadas oito pessoas por constituição de organização criminosa e estelionato. Entre os nomes estão o juiz aposentado Irênio Lima Fernandes (pai de João Emanuel) e o advogado Lázaro Roberto Moreira Lima (irmão do ex-vereador), os empresários Walter Dias Magalhães Júnior, Shirlei Aparecida Matsouka Arrabal e Marcelo de Melo Costa; o contador Evandro José Goulart; e o comerciante Mauro Chen Guo Quin.

De acordo com o Gaeco, a suposta organização criminosa tinha o seguinte modus operandi: inicialmente captavam pessoas que tinham interesse em obter empréstimos com juros menores ou de investir em empreendimentos imobiliários; em seguida acertavam o valor do suposto empréstimo ou do investimento, que são sempre de valores altíssimos; firmavam pré-contratos do suposto empréstimo/investimento; e, após, solicitavam determinada quantia (sempre valores altos, proporcionais ao valor do suposto empréstimo) que, segundo eles, era necessária para a concretização do empréstimo/investimento; após receber os valores repassados pelas vítimas começavam a dar 'desculpas', não empregavam os valores conforme prometido e tampouco devolviam as quantias pagas pelas vítimas”, diz a denúncia.

"Chega a ser surpreendente todo o mise en scène empregado pelos investigados para ludibriar suas vítimas (almoços e jantares em hotéis caros, viagens internacionais, utilização de um “falso dono de um Banco Chinês”, locação de imóvel luxuoso, etc)”, concluiu o Gaeco.
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