Homens do Exército e da Força Nacional de Segurança fecharam as rodovias federais BRs 242, 158 e 080 e a MT 432, que dão acesso à terra indígena Marãiwatsédé, remanescente da antiga fazenda Suiá Missú. O ato das forças policiais é para notificar cerca de 7 mil pessoas, entre eles proprietários de terra, que precisam desocupar o distrito de Posto da Mata/Estrela do Araguaia, que fica no território da Suiá Missú.

Moradores da região relatam situação tensa, com sobrevoo de helicópteros e veículos do Exército e forças auxiliares. “Aqui está parecendo um campo de guerra, exército, helicóptero e agora estão fechando as saídas, estou desesperada, fico me perguntando o que será de nós”, informa a moradora Margarida Nogueira, de Alto Boa Vista à Agência da Notícia. Além do município, o distrito pertence também a São Félix do Araguaia.

Sete mil pessoas devem sair de Suiá Missú até o dia nove de dezembro

Desde julho, as forças policiais estão na região, primeiro em levantamento da situação da área, e desde a semana passada, para preparar a desocupação. Uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) determinou a saída dos fazendeiros e pessoas comuns da área, cuja terra está em conflito há três décadas entre índios e não índios (cidadãos, proprietários de terras, entre outros). O Supremo Tribunal Federal (STF) ratificou a decisão. A área tem 168 mil hectares.

Moradores de Alto Boa Vista informam que um comboio de carros da PRF partiu rumo ao distrito de Posto da Mata na manhã de hoje. De acordo com a Associação dos Produtores da Suiá Missú (Aprosum), o clima no local é tenso e as três saídas do distrito de Posto da Mata estão bloqueadas por homens do Exército fortemente armados.

Um helicóptero do Exército fez voos rasantes no distrito na manhã desta sexta-feira. Segundo a Aprosum, os moradores estão desesperados e sem saber o que fazer. Algumas equipes de reportagens estão escondidas no local, por que não podem trabalhar por ordem do Exército.

Produtores já disseram estar prontos para a luta, uma verdadeira guerra está se formando, já que os produtores afirmam que estão dispostos a matar e morrer pela causa, mas não vão deixar a área.

Polícia

O inspetor Sérgio, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que está no Posto da Mata, informou que apenas a BR-158 está “com restrição” para as pessoas serem notificadas. Devido à tensão do local, foi feito o bloqueio da BR-158, segundo informa.

“Estamos retendo o pessoal e liberando aos poucos, porque estamos fazendo notificação. O trânsito está seguindo com restrição”, explica ao Olhar Direto o inspetor. Ele relata que profissionais da imprensa estão no local e não há qualquer impedimento, ao ser questionado sobre a restrição.

Histórico

Em 1998, o então ministro da Justiça Maurício Corrêa, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, criou por decreto a área indígena demarcada para a etnia Xavante. A gleba originalmente tinha 680 mil hectares e foi vendida pelo desbravador da região, Ariosto da Riva, a fazendeiros em leilão. Posteriormente, a área em disputa ficou com cerca de 168 mil hectares.

Durante a Eco 92 (Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), foi discutido que uma das proprietárias de parte das terras à época, a empresa italiana Agip, que tinha o Vaticano entre seus acionistas, doasse aos índios. O que não foi feito. Desde então, o conflito entre índios e não-índios se acirrou. (Com informações da Agência da Notícia)


Atualizada às 12h04. Segunda atualização às 14h13