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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Notícias | Meio Ambiente

20 anos de espera

Cacique de terra Maraiwatsede envia carta a presidente Dilma Rousseff

Foto: Renê Dióz/OD

O cacique Damião Paridzané

O cacique Damião Paridzané

O cacique Damião Paridzané, da comunidade indígena xavante de Maraiwatsede, encaminhou carta clamando a presidente Dilma Rousseff (PT) que providencie o quanto antes o retorno de sua etnia à terra em questão, objeto de litígio com fazendeiros há décadas.


A carta redigida em nome do cacique marca vinte anos de espera por parte dos xavantes por reaver a terra apontada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como tradicionalmente ocupada pela etnia.

Em 1992, o cacique Damião participou da Eco-92 – conferência das Nações Unidas que estabeleceu a agenda ambiental mundialmente – e desde então vem cobrando da Justiça e das instituições responsáveis a devida desintrusão dos não-índios da área demarcada. O líder indígena teve de praticamente repetir o discurso durante a Rio+20, conferência sucessora da Eco-92, realizada ao longo das últimas duas semanas no Rio de Janeiro.

No último sábado, Damião proferiu discurso emocionado reivindicando as terras e cobrando o cumprimento da última decisão judicial pertinente ao caso – desta vez, do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1), determinando que a Funai elabore um plano de desintrusão para proporcionar o retorno dos xavantes à terra indígena. A reportagem entrou em contato com a Funai em Brasília para tentar averiguar se a instituição já foi notificada da decisão judicial, mas não obteve resposta da assessoria de imprensa.

Confira abaixo a íntegra da carta redigida em nome do cacique Damião a presidente Dilma, disponibilizada no blog maraiwatsede.wordpress.com, supervisionado pelos próprios índios da comunidade xavante de Maraiwatsede.

Eu, cacique Damião Paridzané, vim à Rio+20 com representantes do povo Xavante exigir que o governo brasileiro garanta a implementação imediata do plano de desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsédé (MT), permitindo a ocupação integral do nosso território, que foi prometido 20 anos atrás na Eco 92.

Nesses 20 anos que se passaram, Marãiwatsédé se transformou na Terra Indígena mais desmatada da Amazônia brasileira, envergonhando todo o nosso país com a devastação criminosa que produtores de soja e de gado estão ainda fazendo na nossa terra sagrada. Vinte anos também não foram suficientes para que a Justiça brasileira tivesse a força necessária para fazer valer a decisão que respeita a Constituição Federal e os povos indígenas, tomada por unanimidade e determinando a retirada dos invasores, pois todos entraram em nossa terra ilegalmente, de má fé.

Apesar de termos nosso território reconhecido, demarcado e homologado desde 1998, ocupamos 5% da área que é de nosso direito porque fazendeiros e políticos nos ameaçam, destroem a nossa mata em Marãiwatsédé deixando nossa comunidade sem caça, sem frutos e sem os remédios tradicionais de que precisamos. Eles também despejam agrotóxicos nos rios que abastecem a nossa aldeia, por isso muitas crianças estão doentes, com diarreia, vômito e pneumonia. Enquanto estamos aqui no Rio de Janeiro, recebemos a notícia de que mais uma criança faleceu na aldeia por desnutrição.

Nós lutamos e sofremos muito para estar aqui hoje. Não queremos perder a viagem. Viemos a Rio+20 pedir que o governo federal finalmente cumpra a decisão da Justiça, que no mês passado derrubou a liminar que suspendia a retirada dos fazendeiros. Agora, a desintrusão está novamente autorizada. Queremos que o governo permita uma transição rápida da terra invadida ao povo Xavante, garantindo assistência para a nossa integridade física, cultural e a recuperação das áreas devastadas nesses 20 anos.

Vinte anos de espera é muito tempo.

Eu fui criado em Marãiwatsédé antes do contato com o homem branco. Estou lutando há 46 anos. Eu era criança quando o governo retirou minha comunidade nos aviões da FAB em 1966. Desde aquela época estamos lutando para voltar e retomar nossa terra. Estou cansado. Mas não vou desistir. Nunca.

Cacique Damião Paridzané



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