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Xavante anuncia resistência em caso de reviravolta política ou judicial

06 Dez 2012 - 15:45

Da Reportagem Loca - Renê Dióz - Enviado Especial

Foto: José Medeiros - Fotos da Terra

Xavante anuncia resistência em caso de reviravolta política ou judicial
Seja lá qual for a reviravolta política ou judicial que porventura suspenda o processo de desintrusão da terra indígena de Maraiwatsede, o cacique Damião Paridzané, principal líder dos xavantes, insistirá até o fim pelo retorno de seu povo aos 165 mil hectares disputados hoje com produtores rurais no nordeste de Mato Grosso.


O recado é de um dos sobrinhos de Damião, Augusto Werehite, 65 anos, vice-cacique da comunidade xavante em Sangradouro. Ele falou com a reportagem do Olhar Direto na manhã desta quinta-feira (06) em Primavera do Leste, véspera da data a partir da qual Polícia Federal e Força Nacional estão autorizadas a fazer uso de força caso os não-índios ocupantes de Maraiwatsede - uma população de 7 mil, segundo eles, e de 2,5 mil segundo fontes oficiais - se recusem a deixar as terras que preferem chamar de gleba Suiá Missú.

“Ele é guerreiro. Meu tio não tem medo nenhum, meu tio está firme. Ele não quer abrir a mão, não quer sair de lá”, enfatizou Werehite, reforçando o prenúncio de violência caso seja cumprida a ordem judicial de desintrusão da terra indígena. Meses atrás, o próprio Damião já anunciara que os índios são capazes de morrer lutando pelas terras tanto quanto os ocupantes não-índios estão dispostos a fazê-lo para permanecer ali.
                                                                                                                                                       Foto: José Medeiros - Fotos da Terra



Retorno


Embora registrado em Poxoreo, Werehite se diz xavante nascido em Maraiwatsede. Saiu de lá a pé aos 15 anos em direção às terras de sua família da parte de pai, que tentava reunir todos os membros. Isso foi antes da retirada em massa dos xavantes por parte da Força Aérea Brasileira (FAB), episódio da década de 60 relatado por seus líderes como o marco da diáspora.

“Foi opção do nosso pai. Mas meu pai já morreu e minha mãe já morreu. A família deles queria ficar junto. Mas agora não temos mais pai, os irmãos dele todos morreram. O único parente por parte de pai ficou na aldeia São Pedro, mas está velho e só fica na cama ou na cadeira-de-rodas”, relata Werehite durante uma parada num posto de gasolina em Primavera, do qual partiria rumo a Sangradouro com familiares – inclusive uma sobrinha vestindo uma camiseta estampada do cantor canadense Justin Bieber.

Direito

Werehite, cujo nome significa “coisa crua, defende o direito natural dos xavantes de seguirem seu ciclo migratório próprio do caráter seminômade da etnia, uma das mais numerosas do país. “Lá é o primeiro território. É o nosso território”, sustenta. Para ele, a saída de Maraiwatsede - embora em seu caso tenha ocorrido por uma decisão particular do pai – não anula o direito de retornar à terra que, durante séculos, diz ter visto pegadas de índios chegando e saindo.

“Os fazendeiros que encheram a terra de Maraiwatsede começaram dentro de politicagem. Foi candidato que queria passar as terras para fazendeiros para poderem votar nele. Foi isso aí que aconteceu”, protesta, denunciando também que posseiros “comparam índios para fazê-los negar a ocupação tradicional de Maraiwatsede.

Agora, na iminência de ser cumprida a ordem judicial de desintrusão dos não-índios, Werehite só não toma um ônibus para a terra natal por uma suposta ordem da Polícia Federal de manter afastadas as lideranças indígenas. “Falaram para nós para nós aguardarmos com calma para ninguém ficar indo de cima para baixo, não querem que a gente viaje”.
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