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Segunda-feira, 06 de maio de 2024

Notícias | Pecuária

Mercado de ovinos e caprinos ainda engatinha no Estado de Goiás

“Se o pecuarista fizer as contas para criar, em comparação com o gado bovino, ele chora”, brinca André Luís Rocha, produtor da raça White Dorper e veterinário responsável pela Cava Alimentos, que abate cerca de 500 animais por mês, número considerado bom por ele. “Já foi pior”, afirma.

A análise do veterinário e criador de ovelhas White Dorper tem também um tom de desabafo, dado o pouco aproveitamento das qualidades do rebanho ovino e caprino, bem como da grande procura pela carne. “Existe um grande mercado no Brasil”, diz. Em termos comparativos, de acordo com ele, o consumo de cortes de cordeiro per capita no Brasil é de 0,4 quilo por ano, enquanto no Uruguai e na Argentina o consumo chega a quase 20 quilos por ano.

André Rocha ainda aponta que o Brasil importa 60% da carne e, por falta de organização do setor, dos demais 40% produzidos no País, 90% são clandestinos, ou seja, não passam por frigoríficos fiscalizados, e não têm certificação de qualidade ou sanidade. Dessa forma, recorremos a outros países. “Importamos cortes do Chile, do Uruguai, da Austrália e da Nova Zelândia”, enumera o veterinário, que também é inspetor técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos (Arco), membro do colegiado de jurados The Dorper Sheep Breeders’ Society of South Africa, e criador de ovinos elite e carne.

Nas fazendas, os números também são muito pouco expressivos. Conforme dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiás conta com um rebanho de 226 mil ovinos, o que representa 18% do Centro-Oeste e 1% do País. Os números de caprinos são ainda menores: apenas 40 mil cabeças, e quase não aparecem no comparativo nacional e regional.

Os dados refletem também a falta de organização do setor, que não conta com associação de criadores. A Federação Goiana da Agricultura e Pecuária (Faeg), por exemplo, não possui registros de abate no Estado. “Já houve tentativas de organizar uma cadeia profissional, com terceirização de frigorífico próprio, mas não deu certo – os produtores não se adequavam, pois a atividade ainda não é a principal de seu negócio”, lamenta a assessora técnica da Faeg Christiane de Paula Rossi, que não perde o otimismo. “Quem está se profissionalizando, com investimento em genética e sanidade, vai deslanchar”, prevê.

Christiane conta que para tentar ajudar o gargalo do abate – na maioria informal – a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) criou uma planta de frigorífico que possa abater ovinos, caprinos, suínos e até bovinos. Tudo em conformidade com as legislações sanitárias e ambientais. O modelo está à disposição de criadores e futuras associações.

A principal causa da falta de estímulo à criação, segundo o veterinário e criador André Rocha, é o pouco conhecimento, sobretudo em relação à qualidade da carne. “É uma questão de cultura”, afirma. Ele garante que a carne do cordeiro é saudável, sem gordura trans e sem o cheiro desagradável atribuído ao animal de forma quase que lendária. “Isso acontece, sim, mas com carneiro velho”, rebate André – é possível identificar o cordeiro velho pelos testículos grandes. “Infelizmente, lotaram o mercado brasileiro com cordeiros velhos, vindos de fora. E isso ocorre principalmente em Goiás, onde não há mercado e existe muito animal clandestino”, explica.

Em artigo publicado no site da Safra, André fez um comparativo extremamente positivo para o criador de ovelha.

Também criadora de White Dorper, Noely Morais Araújo, de Uberlândia, se queixa da falta de incentivo do governo para o criador, além da baixa divulgação do produto nacional, que sofre, conforme diz, concorrência desigual com criadores do Uruguai. “Nós atendemos somente 10% do mercado nacional”, lembra Noely, que levou 38 animais de seu plantel para concorrer na Exposição Agropecuária de Goiás.
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