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Domingo, 28 de abril de 2024

Opinião

Obesidade: uma epidemia mundial

Na última terça-feira, 11 de outubro, foi celebrado o dia Nacional de Prevenção da Obesidade. Doença que atinge cerca de um em cada quatro brasileiros, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/2020) do Ministério da Saúde. Números que preocupam, já que esses casos têm crescido de forma significativa no Brasil e em todo o mundo. Para se ter ideia, de 2006 a 2019 houve um avanço de 72% na incidência da enfermidade, que saltou de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019.

Esses índices devem crescer ainda mais nos próximos anos, segundo o Ministério da Saúde. Um estudo realizado pelo governo indica que em 2030, cerca de 68% da população deve estar com excesso de peso e 26% com obesidade. Casos que não se restringem aos adultos. No Brasil, cerca de 12,9% das crianças com idades entre 5 e 9 anos sofrem com esse mal, assim como 7% dos adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos.

Devido ao crescimento da incidência em todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a obesidade uma epidemia mundial e estima que mais de 2 bilhões de pessoas sofram com ela. A entidade classifica a doença ainda como um dos mais graves problemas de saúde enfrentados pelo planeta e prospecta que em 2025, 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estarão acima do peso ideal, sendo 700 milhões com obesidade.

Se incluirmos as pessoas que estão com sobrepeso é ainda mais preocupante. De acordo com a pesquisa Vigitel 2021, quase 6 em cada 10 brasileiros estão fora do peso ideal, ou seja, 57,25% da população do país. Nesse contexto Cuiabá ocupa a 15ª colocação entre as capitais com maior incidência de sobrepeso.

Com esses dados é preciso explicar que a obesidade não tem uma causa única, mas multifatorial. Muitas coisas podem ocasionar um quadro, desde fatores de natureza pessoal, social, econômica, cultural e até ambiental. Isto é, nem sempre está relacionada diretamente a atitudes e comportamentos individuais.

Mas certamente, os hábitos de vida são os principais causadores da doença. A falta de atividade física, o consumo de alimentos ultraprocessados, o tabagismo e o estresse são os maiores geradores. Situações essas que, inclusive, foram potencializadas durante a pandemia.

É importante destacar que o excesso de peso e a obesidade podem gerar aproximadamente 30 tipos de problemas de saúde. Enfermidades que fazem parte das Doenças Crônicas não Transmissíveis, que incluem problemas cardiovasculares, respiratórias crônicas, cânceres e a diabetes mellitus. Esse conjunto é o que mais causa mortes em todo o mundo. Para se ter ideia, elas foram responsáveis por 55% das 738.371 mortes de adultos no país em 2019. Sendo que 56,1% foram em pessoas com idades entre 30 e 69 anos. Mortes consideradas prematuras e evitáveis.

Um levantamento feito pelo Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (USP), indica ainda que dos R$ 6 bilhões utilizados no tratamento de doenças crônicas, em 2019, foram cerca de 1,5 bilhão atribuídos ao tratamento de problemas causados pelo excesso de peso e a obesidade.

Apesar da sua origem estar relacionada com diversos fatores, a solução para esse problema de saúde costuma estar ligado diretamente com a adoção de hábitos saudáveis. Isto é, ingestão de alimentos bons e prática de exercícios físicos. Essas ações ajudarão a diminuir os níveis de insulina no corpo. Esse hormônio tem a função de levar a glicose para as células e nesse processo metabólico fornece energia para o funcionamento do organismo.

Contudo, quando está em excesso no sangue, favorece o acúmulo de gordura, gerando inflamações sistêmicas. Por esse motivo, a redução da insulina no corpo é a chave para o emagrecimento, já que um estilo de vida saudável resultará no tratamento da resistência à insulina.

De forma prática, a melhora da composição corporal acontece com uma alimentação adequada e a prática de pelo menos 150 minutos de exercício físico por semana. Nesse aspecto, os exercícios aeróbicos são benéficos, pois, diminui a sensibilidade à insulina. Os treinamentos de resistência também ajudam nesse processo, sobretudo pessoas sedentárias que têm mais de 35 anos.

É necessário frisar que ter uma boa saúde é uma construção, por isso, evitar comer alimentos que atuam como gatilho na compulsão alimentar é de suma importância. Alimentos como os salgadinhos, doces, chocolate, biscoitos, massa, pão branco, sorvete e vários outros “ricos” em açúcar refinado tem esse poder de ocasionar a compulsão alimentar, que é um dos principais fatores causadores da obesidade.

Abandonar alimentos desse tipo é fundamental para a perda de peso. Portanto, quem sofre com esse mal precisa ter um bom equilíbrio emocional. Nesse contexto, ter o suporte de um profissional é essencial para identificar a melhor forma de tratar o caso. Afinal, cada ser é único e os problemas que geram a compulsão são distintos. Ser acompanhado por pessoas treinadas e capacitadas é importante na construção de uma trajetória de eliminação de peso.

Na Unidade de Emagrecimento e Longevidade (UEL) do Hospital São Judas Tadeu tenho a oportunidade de acompanhar vários casos e sempre afirmo aos pacientes que a transformação pode não acontecer tão rapidamente quanto deseja, que pode não acontecer tão rapidamente como aconteceu com outros, mas vai acontecer. Basta continuar.

Cada indivíduo é único, tem sua própria genética, hábitos de vida, histórico alimentar e médico, por isso, é importante não ficar obcecado com o resultado da balança. O sobrepeso e obesidade vão além da balança. Em algumas semanas haverá uma grande diminuição do peso, mas em outras nem tanto, mesmo fazendo tudo certo. O que interessa é permanecer. A velocidade da perda de peso não é a mais importante. Se você está nesta situação, mude seus hábitos alimentares, comece a se exercitar e, principalmente, procure ajuda médica para iniciar o novo estilo de vida.


Dr. Arnaldo Sérgio Patrício - Especialista em Medicina Interna e Radiologia. Também é diretor da Unidade de Emagrecimento e Longevidade (UEL) do Hospital São Judas - Instagram @arnaldosergio.
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