Olhar Direto

Sábado, 27 de abril de 2024

Opinião

A Capela dos Ossos

Construída na cidade de Évora em Portugal, nos ides do século XVII, período da contrarreforma religiosa, a Capela dos Ossos, teve como objetivo demonstrar a sociedade da época não somente a religiosidade, mas, a transitoriedade da vida, em sua entrada está cunhada a frase "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos". A Capela dedicada ao Senhor dos Passos, fora construída no local onde abrigava um dormitório fradesco, seu espaço físico conta com três naves que entram luz por pequenas frestas, suas paredes de oito pilares são “decoradas” com ossos humanos. Estima-se que para tanto, cinco mil ossos foram usados. Os ossos em questão vieram dos 42 cemitérios que ocupavam os espaços físicos de Évora e que por fins diversos precisaram ser removidos. Daí partiu a ideia de três monges franciscanos em construir e ornamentar a igreja com os ossos, que em seu interior ainda expõem dois esqueletos pendurados, sendo um deles de uma criança.

Mas, por que refletirmos sobre a Capela dos Ossos e a frase que saúda seus visitantes? "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos"? Uma vez que, nos soa um tanto quanto macabro a ideia de decorar uma capela com ossos humanos! A proposta é que nós seres mortais possamos entender sobre a perspectiva de que tudo passa, a vida é efêmera, nossas certezas só nos são válidas até nosso último suspiro. Assim como a vaidade, arrogância, soberba, a sensação de sermos insubstituíveis, as contendas e conflitos que por vezes causamos, por vezes nos causam.

A Capela dos Ossos, não é uma homenagem aqueles que já caminharam, ela é a reflexão para os que estão caminhando, em vida, cheios de utopias da idade e vida perfeitas, da falsa sensação de felicidade virtual ou presencial, da simbologia do status, das irresponsabilidades afetivas e profissionais, do achismo, do não ter empatia, do falso merecimento de classe, das buscas vãs por coisas ermas. Refletir sobre o fim é entender que nosso caminhar deve ir para além das coisas, sermos menos em atitudes de desamor e mais em empatia e compaixão. A mensagem que ela representa é que tudo passa, que nos cemitérios ou em quaisquer práticas de enterramentos, todos morrem, os novos, velhos, moribundos e saudáveis, e que a morte é a certeza da vida!


Lidiane Álvares Mendes é mestra em História pela Universidade Federal do Amazonas. Professora da rede privada em Cuiabá/MT.

Autora do livro: Na esteira da loucura: Colônia de Alienados Eduardo Ribeiro – Manaus/AM – 1894-1930. Acesso em: https://www.pimentacultural.com/_files/ugd/18b7cd_923a6555af464622b7d23a104d19d3a1.pdf
Contato por e-mail: lidianemendes2@hotmail.com -Instagram: @lidihistoria
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