Olhar Direto

Domingo, 28 de abril de 2024

Opinião

O monstro chamado fobia social - você conhece?

Convido você a pensar no seguinte caso, você escuta na rádio a seguinte encenação:
 
"Ouvi de longe o barulho de seu calçado tocar ao chão como que cronometrado, toc, toc, toc, toc por segundo.
 
Vinha em minha direção com um olhar firme, com foco, sabia o que tinha de fazer e faria da melhor forma possível, afinal, é esse o seu trabalho, sua profissão".
 
Este é um fato. 
 
Dicaticamente usado só para mostrar como nossa história de vida influencia em nossos pensamentos.
 
A depender de suas experiências, de seu contexto social, de sua cultura, seus costumes, a pessoa pode fazer diferentes interpretações.
 
Olhe só o caso de um possível homem.
 
A) Poderia pensar ser uma garota de programa para qual alguém acabou de ligar (alguém muito ligado à sexualidade).
 
B) Poderia ser uma faxineira do shopping após ver a pessoa derrubar seu sorvete todo no chão (alguém muito ligado a comédia ou diversão).
 
C) Poderia ser a professora ao ver alguém colar na prova (alguém muito ligado a desafios e estudos).
 
Mas se for mulher pode funcionar também. Veja, vamos agora pensar na reação, sim, na reação, pois um fato gera uma interpretação que responde com uma reação consciente ou não do cidadão ou cidadã, como será apresentado para os casos a seguir.
 
A) Se for o garoto de programa, a mulher irá se acomodar na poltrona para aproveitar a história que se seguirá, ou mudará a frequência do rádio.
 
B) Se for o faxineiro, provavelmente ela imagina a pessoa desastrada ir se desculpar.
 
C) Se for o professor, é possível que a pessoa imagine a pessoa tentar se livrar das evidências e passar a negar o fato até não mais resistir.
 
Trata-se de uma simples equação de primeiro grau A+B=C (fator gerador) + (interpretação) = (reação) que a Teoria Cognitivo Comportamental (TCC) usa para tentar nos ajudar a interpretar e reconfigurar nossos pensamentos nos ajudando a reagir contra o que chamamos de reações a pensamentos negativos.
 
Este exercício pode funcionar também em uma reflexão sobre o que se passa na cabeça de quem sofre com fobia social, em situações reais. 
 
Segue um exemplo:
 
Sua chefia te olha firme na reunião e te pergunta se você sabe o que significa sua apresentação, com voz moderada (fato gerador).
 
Você pode ter diferentes interpretações:
 
A) achar que seu trabalho não vale nada;
 
B) acredita que a chefia não entendeu o que você quis apresentar;
 
C) você acredita que ele entendeu o impacto importante que seu trabalho irá provocar.
 
Aqui dei três exemplos de interpretação.
 
A) leva em consideração um histórico de insucesso;
 
B) de apresentações não muito bem-sucedidas;
 
C) histórico de vitórias.
 
E sua reação pode também variar, em:
 
A) você ficará nervoso e encolhido, não consegue responder;
 
B) você tentará explicar com humildade, mas está acanhado e não sabe como iniciar, mas o faz;
 
C) se alegrará e por se sentir confiante dirá: "é a cereja de nosso bolo chefe!"
 
A+B=C.
 
Ocorre que talvez a equação não responda a todas as questões.
 
Vou exemplificar,
 
Um dia, enquanto esperava minha vez de ser atendido em um cartório da cidade, vi passar em minha frente um casal de idosos que fizeram parte da minha infância.
 
Pessoas que trazem boas lembranças, que me ensinaram muito.
 
E o que fiz? Me escondi.
 
E o que senti? Desconforto.
 
Existe alguma razão? Não sei. Não consigo explicar.
 
Precisei refletir e exercitar minha mente durante um tempo para o desconforto sumir, precisei me questionar a razão de me sentir assim, de não os querer ver, de tentar evitar contato.
 
Funcionou, logo os vi novamente e não me senti mal. 
 
Contudo, a oportunidade passou e eu não pude aproveitar.
 
Não sei qual foi a significação que meu inconsciente fez, não tenho lembranças que me fizesse fugir de algo bom, nada contra estas pessoas.
 
Talvez seja o simples medo de ter medo de não saber me comportar.
 
Esta é na verdade a única explicação que tenho até então, e a equação volta então a funcionar.
 
Esta reflexão é resumidamente uma parte do livro: Fobia Social – o diário de quem enfrenta esta luta com serenidade. Fica aí então uma sugestão de leitura.
 
E por qual razão estou falando sobre isso? 
 
Por que se trata de um problema social, em crescimento, que tem provocado danos implacáveis na vida de muitas pessoas.
 
Por que se trata de um problema cujo tratamento não é de fácil acesso, e muito provavelmente caro para a maior parte das pessoas.
 
Por não ser um tema presente em novelas, filmes, estudos em escolas e universidades, programa de governo, ou mesmo veiculado nas redes sociais.
 
Até acredito que muita gente o tem sem saber e acha normal, ser só medo, vergonha, timidez, ser natural. 
 
Só que não.
 
Trata-se de um verdadeiro monstro que habita na mente de muita gente, inclusive na minha, e por esta razão resolvi ajudar.
 
O primeiro passo é exercitar a auto aceitação, é entender que esta é uma característica sua, e que você deve aprender a lidar com ela. O uso da equação A+B=C pode ajudar.
 
Outra atitude a ser tomada é mudar o hábito de remoer pensamentos negativos sempre que um fato gerador te perturbar.
 
Para não delongar, vamos apenas apontar rapidamente algumas sugestões de como lidar com isso:
 
- Não faça tempestade em copo d'água (coloque seus pensamentos em perspectivas, considere possíveis explicações positivas sobre o fato, reflita sobre as evidências e mantenha seu foco);
 
- Evite pensamentos extremistas (evite ter de escolher entre tudo ou nada, seja mais realista em sua avaliação);
 
- Você não tem o poder de prever o futuro (evite fazer previsões, mas se fizer, pense nas suas previsões, avalie cada uma delas, se prepare para aceitar riscos, e entenda que experiência passada não determina fato futuro);
 
- Não arrisque sua sorte em palpites (modere seus palpites, informe-se sobre o fato, considere as possibilidades);
 
- Exercite o raciocínio emocional (sentimentos não são fatos, não misture emoções com razões, e não tome decisão embasada em emoções);
 
- Abandone o hábito de fazer julgamentos (evite rotular as pessoas ou os fatos, não tenha medo da complexidade);
 
- Evite se cobrar demais (abandone as expectativas e as placas dos outros, não tente alcançar a aprovação de todos, entenda que o mundo não usa as mesmas regras que você);
 
- Mantenha sua mente aberta (aceite diferentes posicionamentos, entenda que há muitas ideias diferentes das suas por aí);
 
- Separe pensamentos bons de pensamentos ruins (aceite e valorize os elogios, saiba lidar com as críticas sem lhes dar mais atenção do que o necessário); 
 
- Não se coloque como centro das atenções (a culpa das coisas não é sua, as pessoas não devem nada a você); 
 
- Lembre-se que você pode suportar frustrações maiores dos que acredita em poder (o ser humano é forte, adaptável, você é prova disso, sua melhora irá mostrar que você é capaz de crescer a cada dia).
 
 
Vou deixar aqui um exercício de reflexão em passo a passo que tem me ajudado. 
 
O recebi em parte de uma psicóloga que faz meu acompanhamento.
 
Sempre que estiver em um conflito emocional, responda para você o máximo de perguntas apresentadas a seguir:
 
Estou preocupado com o quê?
 
Estou ansioso com o quê?
 
Qual a real seriedade disso?
 
O que está ao seu alcance fazer?
 
O que não está?
 
O que fazer para me tranquilizar?
 
O que fazer diferente da outra vez?
 
Esse pensamento é verdadeiro? Importante?
 
Há um modo mais tranquilo de tocar a situação?
 
Qual a probabilidade desta preocupação realmente acontecer?
 
Se a probabilidade é baixa, quais as possibilidades mais reais de acontecer?
 
É um pensamento útil?
 
Me preocupar com isso será útil ou prejudicial?
 
O que eu diria a um amigo que tenha esta mesma situação?
 
 Em seguida:
 
Descreva 5 coisas que você vê.
 
Descreva 4 coisas que você pode tocar.
 
Descreva 3 coisas que pode ouvir.
 
Descreva 2 coisas que você pode sentir.
 
Descreva 1 coisa pela qual você é grato.
 
E lembre-se:
 
Assuma uma mentalidade de auto aceitação.
 
Reduza a ruminação de pensamentos.
 
Reconheça seus pensamentos negativos como sintomas, não como fatos.
 
Liste os episódios das situações que te fazem mal.
 
Liste seus comportamentos de segurança e como eles te ajudam.
 
Repita sua exposição às situações gradativamente, e na medida que puder, vá retirando os componentes de segurança, aumentando o tempo de exposição sem tentar controlar a situação.
 
Sempre escreva sobre a experiência, reflita sobre o que funcionou e o que não, pense em novas possibilidades, registre e tente novamente.
 
A única regra é nunca desistir. Recaídas acontecerão, pode acreditar. Mas as utilize como fonte de aprendizado e vá em frente.
 
E acredite. 
 
Existe um Deus que quer estar junto com você e lhe ajudar a vencer este momento. Veja como sei disso:
 
Aquietai-vos e sabeis que eu sou Deus. Salmos 43:10
 
Invoca-me e te responderei. Jeremias 33:3
 
Não te mandei, eu ser forte e corajoso? Josué 1:9
 
Entendeu? Ele sempre quis estar conosco, e porque não aceitar?
 
Aceite a presença do Senhor Jesus em sua vida e controle suas expectativas sobre suas ações.
 
Espero que este artigo possa ter ajudado alguém.
 
E que Deus nos abençoe.
 

Ricardo Augusto de Oliveira
Servidor público da educação de Mato Grosso 
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