Olhar Direto

Domingo, 28 de abril de 2024

Opinião

Fraude nas urnas

Os mais de 156 milhões de eleitores, no Brasil e no exterior, utilizaram em 2022, 2.637 zonas eleitorais e 496.856 seções eleitorais para exercer sua cidadania. Em 147 seções 100%, dos votos foram para apenas um candidato, deste total, em 144 delas Lula venceu, as outras 3 foram vencidas por Bolsonaro. O discurso divulgado e propagado nas redes indica que seria muito difícil um candidato obter 100% de votos em um país tão dividido. As seções eleitorais, algumas vezes, representam eleitorados muito distintos do perfil geral. Para entendermos o perfil de voto de cada uma delas, precisamos analisar diferentes votações de uma mesma seção. A melhor comparação possível é entre o primeiro e o segundo turno de uma mesma eleição, pois neste caso, foram os mesmos eleitores que votaram em ambos os turnos. A seguir são apresentados os dados de três seções eleitorais em três estados diferentes, obtidos no primeiro turno das eleições de 2022.

Em Campinápolis, localizada no estado Mato Grosso, na Zona 0026, Seção 0189, entre 252 votos, para Deputado Federal, o MDB conseguiu 120, PSD, 57, o PDT 25, o PT 24, PSB 20, o PR, PV, 1, nulo e branco, 1 voto para cada. Para estadual o PSB 85, MDB 74, PSDB 43, PT 23, PSD 13, PP 5, PDT e PR 2 votos para cada, e Republicanos, PV e PSOL, 1 voto cada um. Na eleição para o senado, Neri Geller do PP, candidato apoiado por Lula no estado, obteve 202 votos, enquanto Wellington Fagundes, o candidato do PR, partido de Bolsonaro, teve 18 votos, o candidato do PSOL obteve 14 votos e o candidato do DC teve 3. Nesta mesma urna a candidata apoiada pelo PT, Marcia Pinheiro obteve 158 votos, enquanto Mauro Mendes conseguiu apenas 77, tendo ainda 1 voto branco e 16 votos nulos. Para presidente na mesma urna, ainda no primeiro turno, foram 251 votos para o Lula e 1 voto nulo.

Já no estado de São Paulo, na cidade de Osasco, na Zona 0315, Seção 0336, entre os 143 votos para deputado federal, o PT obteve 67, União Brasil 13, PR 14, PSOL 9, PSB 5, PCdoB 3 e o PSDB e PDT um voto cada. Quando analisados os votos para deputado estadual o PT 80, União Brasil 14, PCdoB 4, PSB 3, e PDT, PR e PSDB, um voto para cada. Para governador foram 129 votos para o candidato do PT e 3 votos para o candidato do PSDB. Para presidente, no primeiro turno, 2 votos foram para Bolsonaro, 1 para o Padre Kelmon, 1 para Soraia e 142 votos para Lula.  

Em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, na Zona 0128, Seção 0492, entre os 42 eleitores que votaram, para Deputado Federal, o PT obteve 20, PP 5, PSD 4, PSB 2, o Republicanos, PR e Novo, conseguiram 1 voto cada. Para governador o candidato do PT obteve 28 votos, enquanto o candidato do PSDB teve 3, o candidato do PR 2 e os candidatos do PP e PSTU obtiveram 1 voto cada um. Para presidente foram 40 votos para a Lula e 3 votos para Bolsonaro.

Nestas três urnas, no segundo turno, 100% dos votos foram para Lula, porém ao analisar o histórico de voto nestas seções no primeiro turno, já se poderia prever essa tendência de resultado no segundo turno. Os números destas três urnas indicam um perfil do eleitor inclinado para esquerda.  Ainda no primeiro turno, Lula conseguiu a totalidade ou uma maioria significativa de votos em cada uma destas seções.

Nas escolhas majoritárias o voto tende a seguir uma lógica mais ideológica, diferente das votações para deputado em que ocorre o efeito “bairrista”, ou seja, aquele em que candidatos de uma região conseguem expressivas votações por representar aquela cidade ou comunidade independente do partido em que a pessoa está filiada. Nestas mesmas urnas que deram expressivas votações a Lula, existiram no primeiro turno, votos para muitos candidatos de diversos partidos, de esquerda, centro e direita, que disputavam outros cargos no pleito, e não ocorreram denúncias ou questionamento sobre os resultados alcançados nestas seções. Na votação para presidente, o perfil do eleitor seguiu o mesmo entre primeiro e segundo turno, e os cidadãos que votam nestas seções, não questionaram os votos existentes nestas urnas. Demonstrando assim que o resultado expresso na urna representa a vontade daquela comunidade.  

E qual a principal justificativa para que existam em algumas urnas 100% de votos para um candidato?

Questões locais relacionadas a história, cultura e construção social de cada região, pode favorecer a concentração de votos. Em casos como o de Campinápolis, a urna estava em uma comunidade indígena, em outros casos estavam em redutos eleitorais de esquerda. No caso das urnas que destinaram 100% dos votos para Bolsonaro, estavam em seções que são redutos da direita. Desta forma podemos afirmar que não se trata de fraude, mas sim de características locais. Se você discorda da posição destas pessoas, tem 4 anos para tentar mudar a forma como elas enxergam o mundo e escolhem seus representantes. Porém neste tempo o voto e a vontade popular expressadas pela maioria do povo brasileiro precisam ser respeitados.
 

Caiubi Kuhn, Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geociências (UFMT).
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