Olhar Direto

Domingo, 28 de abril de 2024

Opinião

Quem é essa tal de bioeconomia?

Se adaptar à nova realidade da sociedade contemporânea com as mudanças climáticas e pós pandemia tem sido difícil para todos, inclusive para o mundo dos negócios com as novas exigências de mercado voltadas ao desenvolvimento sustentável. Se manter resiliente diante das mudanças e continuar inovando tem sido os obstáculos tanto para os negócios já existentes como para os novos, e nestes casos, a bioeconomia pode ser uma alternativa. 

A bioeconomia é um modelo econômico pautado na busca pelo conhecimento da biodiversidade local para agregar valor, fortalecer e estruturar cadeias produtivas, possibilitando o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da população local com a geração de renda, de forma que a atividade tenha o menor impacto ambiental possível. 

Há diversos setores de oportunidades, como o turismo, artesanato, produção de cosméticos e medicamentos, piscicultura, agropecuária, energia limpa, gastronomia, reciclagem e serviços ecossistêmicos. A bioeconomia promove a visão interna, o resgate do valor local, amplificando as oportunidades de negócios, principalmente para o pequeno, ator principal quando o assunto é a economia local.  

No entanto, uma das barreiras é a ausência de investimento na pesquisa local sobre os biomas e seus serviços ecossistêmicos. Entender a dinâmica e o potencial que cada região e bioma pode nos oferecer é um caminho a ser percorrido, portanto compreender melhor o valor da biodiversidade de forma sustentável, pode gerar acesso a mercados, além de inclusão, integralização e produção de novas tecnologias, sendo menos dependentes da exploração de recursos naturais, o que ao meu ver é a grande oportunidade desse modelo econômico. 

A bioeconomia também tem seus desafios, como a flexibilidade, por isso é extremamente importe se conhecer a dinâmica dos biomas e serviços ecossistêmicos, para assim conseguir adaptar as variações de mercado, a produção de novos produtos de forma que tenha vantagem competitiva, a escala logística para atender a demanda da sociedade e novos mercados, bem como ter o apoio técnico e financeiro, com pesquisas a longo prazo e conhecimento do local.  

A busca de alternativas para progresso e desenvolvimento pautados na bioeconomia requerem vasto conhecimento do conceito de "floresta em pé", que, além de direcionar o foco em pesquisas de áreas nativas e sua dinâmica de produção, pode ajudar a passar pelos novos desafios da sociedade e do mercado, trazendo benefícios como acesso à energia limpa, desenvolvimento social, aproveitamento dos resíduos, combate ao aquecimento global e preservação da biodiversidade, benefícios como esses que estão relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030.  

Há muito o que ser desenvolvido quando o assunto é bioeconomia e nem sempre é necessário construir algo, pois esse modelo econômico tem seu diferencial por ser adaptável. Incluir o modelo no processo e na cadeia produtiva remete à uma ramificação do tema: a bioeconomia circular, que consiste na integração da economia circular e a bioeconomia, na utilização dos recursos naturais em ciclos fechados, se afastando do modelo linear tradicional, focando em uma cadeia de uso, reuso, reciclagem e reduzindo o desperdício e incentivando a durabilidade, reciclagem e reutilização.  

O ideal é promover a reavaliação das etapas de produção desde sua extração, produção, distribuição, consumo e descarte final, buscando alternativas que causem menos impactos nessas etapas, levando em consideração os princípios de desenvolvimento sustentável, atendendo as novas demandas em ESG.  

Ambientalmente, favorece a diminuição da dependência de combustíveis fósseis e emissões de gases de efeito estufa, reduz a exploração de recursos naturais e manutenção dos serviços ecossistêmicos. Socialmente, traz geração de emprego e visibilidade à região, promove o investimento em infraestrutura, redução das desigualdades, educação de qualidade, saúde e bem-estar. E governamentalmente, promove a redução de custos a longo prazo com a reutilização de matéria-prima, melhor controle do processo produtivo, vantagem competitiva, tecnologias inovadoras e acessos à novos mercados. 

Progredir em busca de boas práticas sustentáveis ainda é um caminho novo, não há um manual padronizado, mas iniciar é sempre um começo e aprender com os equívocos também, nenhum negócio será totalmente sustentável, o desenvolvimento humano sempre causará um impacto, o importante é ter noção da proporção do impacto e buscar medidas de mitigação, afinal todos nós buscamos um futuro promissor para nós e as futuras gerações. 

Marina Lima é bióloga, mestre em ecologia e conservação da biodiversidade e atua como analista técnica no Centro Sebrae de Sustentabilidade. 
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