Olhar Conceito

Domingo, 28 de abril de 2024

Colunas

Uma história sobre diferentes cenas e momentos; e uma difícil escolha

Cavalos levantavam poeira enquanto corriam por um chão seco que há muito não via gota de chuva. Sobre suas cabeças, flechas navegavam com rumo incerto, lançando corpos ao chão para chegar à terra firme. Escudos eram erguidos, lanças colocadas à frente, espadas aguardavam na cintura. O sangue corria pelas veias para molharem a terra seca, enquanto o capacete de metal rolaria ao lado do corpo a que servia.

Atrás das centenas de homens, máquinas sofisticadas lançavam pedras pesadas a fim de esmagar o que lhe fosse colocado no caminho. Outra serviria para enfraquecer os fortes e pesados portões da cidade a alguns quilômetros dali, caso a batalha fosse bem sucedida. Eram investimentos de um reino próspero, que não se preocupava com gastos se houvesse retorno por que valesse à pena, e, no caso, a mera perspectiva de invasão de uma cidade mercante já era justificativa suficiente para as famílias que chorariam depois.

Em outro lugar, distante no chão e no tempo, um jovem aventureiro escalava a passos sofridos uma enorme montanha. A neve voava a seu lado, o vento frio cortava-lhe o pouco rosto exposto, o oxigênio despedia-se aos poucos conforme escalava… A mochila, que continha o necessário para poder dormir aquecido e se alimentar, pesava sobre os ombros, impondo maior dificuldade a cada passo que era dado. A bota afundava.

A perspectiva de nunca chegar ao objetivo, de morrer soterrado e nunca ser encontrado era suficiente para impulsionar o corpo à frente. Não havia caminho de volta; ir tão longe para desistir e voltar para a casa sossegada seria uma derrota não para o frio ou para a fome, mas para si mesmo. Passar dias longe da família, escalar dificuldades, andar sobre a linha que separava a vida da morte, onde cada passo deveria ser bem calculado para que não caísse em um limbo onde tudo seria esquecido… Não poderia simplesmente olhar para trás.

Outro cenário, outro momento do relógio, crianças deitadas no chão da calçada fria, protegidas da chuva por uma ponte de concreto em que se via um rato ou dois em um canto mais escuro. Um pedaço de papelão tentava desajeitadamente cobri-las, enquanto carros passavam correndo, trazendo consigo um vento sujo que levantava uma aba dobrável do cobertor marrom. Próximo ao pilar da ponte, afastado dos carros, mas próximos o suficiente para que não fosse esquecido, um embrulho com pó branco era o que dava às crianças o sonho que não conseguiam naturalmente.

Os pontos coloridos da tela brilhavam intensamente, enquanto o som das vozes era reproduzido ao lado. Alguns riscos corriam ora ou outra, de cima para baixo, por algum defeito que um técnico mais ou menos informado talvez pudesse corrigir. A antena jazia torta, com parte dela encostando na superfície da caixa preta, enquanto outra brincava debilmente de cumprir a função a que fora construída. Uma mão segurava um aparelho esquisito cheio de botões, que era capaz de trocar a cena e o horário que eram exibidos pelos pontos coloridos, e que se encontrava em dúvida se escolhia a primeira ou a segunda.

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