Olhar Conceito

Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Colunas

Toda a melancolia da desilusão em “A Grande Beleza”

Arquivo Pessoal

A cidade de Roma é o personagem principal de A Grande Beleza (2013). Mocinha e vilã, toda a complexidade desta “persona” de beleza milenar está encarnada em GepGambardella (Toni Servillo). Assim, como nochileno Glória, recentemente comentado, a decadência sobeja em todas as faces do filme. Gep é decadente. Roma igualmente.

O italiano Paolo Sorrentino, também diretor de Divo (2008) e Aqui é meu lugar (2011), comprova mais uma vez o seu afã pelo melancólico. A beleza colossal de Roma e exposta e com ela toda a trivialidade de sua sociedade: eis o problema filosófico do felliniano Gambardella. Gep é um escritor de um romance único, e de imenso sucesso, que pretexta fazer entrevistas e críticas de arte, quando na verdade vive exclusivamente para aproveitar em festas os muitos louros oriundos de seu livro. Através dele somos inseridos em um rol de pessoas “definhantes”, ou como define o mesmo escritor, “à beira do desespero”.

Na segunda sequência do filme é exibida a festa de 65 anos de Gep. Esta idade é importante para se compreender seu desespero. É muito mais que o medo da morte. Gep sabe que é fútil.Ele alimenta suas dúvidas entre: não perder tempo com coisas que não gosta à procura da “grande beleza” para então legitimar um novo livro, ou se render às suas próprias suspeitas niilistas de ter percebido que a mágica não era mágica e tratava-se, na verdade, de um débil truque de ilusão.

Há também referências a trivialidade na arte: em uma performance a artista corre nua e se atira de cabeça contra uma parede de tijolos e, na sequência, concede uma bizarríssima entrevista a Gep. Em outro momento, uma menina irada – uma rápida digressão, digo irado quanto ao que se ira, esqueça o uso comum à Malhação – compõesua pintura aos prantos durante uma festa de adultos. Ambas são aplaudidas.

O cinismo, a ironia e até mesmo o sarcasmo são explícitos na obra de Sorrentino. O filme éa sua versão da capital italiana, e quanto faz isso, ele não nega ter descansado à sobra de Fellini. Não há demérito, pois é atual e hábil em limitar tal influência em detrimento de suas escolhas. Também soa incrivelmente acessível e, apesar de toda a melancolia, divertido. A beleza, quando inebria,diverte. A indagação aqui mais uma vez se apresenta mais interessante que sua resposta: como contemplar a grande beleza sendoque esta é uma ilusão?

Comentários no Facebook

Sitevip Internet