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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Tudo que cai no gosto do rebanho é pasto: A Balada do Louco (solitário)

Arquivo Pessoal

Hoje acordei ao som de Mutantes, ouvindo a Balada do Louco:

Dizem que sou louco por pensar assim/Se eu sou muito louco por eu ser feliz/Mas louco é quem me diz/E não é feliz, não é feliz/Se eles são bonitos, sou Alain Delon/Se eles são famosos, sou Napoleão/Mas louco é quem me diz/E não é feliz, não é feliz/Eu juro que é melhor/Não ser o normal/Se eu posso pensar que Deus sou eu/Se eles têm três carros, eu posso voar/Se eles rezam muito, eu já estou no céu/Mas louco é quem me diz/E não é feliz, não é feliz/Eu juro que é melhor/Não ser o normal/Se eu posso pensar que Deus sou eu/Sim, sou muito louco, não vou me curar/Já não sou o único que encontrou a paz/Mas louco é quem me diz/E não é feliz, eu sou feliz.



Marginalizados, discriminados e rotulados: o "desajustado", o "anormal", o "fora da linha", o "louco", o "indisciplinado", o "Ovelha negra", são meras qualificações equivocadas que muitas vezes damos à todos aqueles que decidiram pensar e agir por conta própria.

Seguir todas as regras que são criadas e impostas não é sinal de boa saúde mental.

Nesse mundo de pessoas cada vez mais iguais, que possuem quase sempre os mesmos gostos de roupas, músicas, etiquetas, carros, jóias, etc., gostar de algo que fuja a regra, te torna quase sempre uma "ovelha negra", um louco. Assim, um sujeito que lê diante de várias pessoas que nada leem e apenas assistem televisão (instrumento de massificação de gostos e comportamentos legitimados como padrões morais e estéticos) tem uma forte tendência de ser discriminado por suas ideias que sempre hão de fugir a regra dos gostos do rebanho.

Os "normalpatas" são os verdadeiros doentes, são meros produtos dessa nossa sociedade homogeneizante. Nessa sociedade toda diferença há de ser apagada. O bom gosto é o gosto único!

Parafraseando Nietzsche: "Tudo que cai no gosto do rebanho é pasto!", um sentimento bovino, típicamente gregário, pois revela o comportamento do rebanho no sentido de um comportamento único, aquele massificado. Portanto, a tendência das massas é seguir a moda e as convenções sociais.

Precisamos aprender a nos tornar pastores e rebanhos de nós mesmos, como diria Michel Foucault.

Sendo assim, se "toda unanimidade é burra" como disse Nelson Rodrigues, quem nessa sociedade normalizante decidir pensar de forma original, diferente, autêntica, só poderá ser chamado de Ovelha negra, louco ou desajustado. Nesse caso, isso não seria uma crítica mas sim um grande elogio.

Ser chamado de louco em uma sociedade de normalpatas é mais que um elogio. É uma honra!

*Reinaldo Marchesi - É professor universitário, mestre em Educação pela UFMT (linha: Cultura, Memória e Teoria em Educação). Pesquisa no campo da Filosofia da Educação. Leitor de Nietzsche, Foucault, Deleuze e Derrida [Os malditos da filosofia]. Escreve todas às sextas-feiras na coluna Filosofia de Boteco.


 

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