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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Conhecido por falas polêmicas, coronel não abre mão das ruas e lembra da época que trabalhava sem colete em escala de 24h

Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto

Conhecido por falas polêmicas, coronel não abre mão das ruas e lembra da época que trabalhava sem colete em escala de 24h
Já são 26 anos na Polícia Militar de Mato Grosso. Atualmente, frente à patente máxima da Instituição, o de coronel, o comandante do 2º Comando Regional, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, Marcos Sovinski, se lembra das batalhas enfrentadas em uma época, que nem colete à prova de balas existia.


Sovinski entrou na carreira militar no ano de 1991, como oficial temporário do Exercito Brasileiro, fez curso no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva no 13º Batalhão de Infantaria Blindado de Ponta Grossa (PR), servindo posteriormente como tenente no 30º Batalhão de Infantaria Motorizado de Apucara, norte do mesmo Estado.

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Em 1993 ele foi aprovado em um concurso público para a PMMT, feito exclusivamente para oficiais do Exército, já que naquela época não exista um curso para formação de oficias na PM, pois ela dependia de vagas nas Academias de Formação de outros estados para formar seus oficiais.

O militar costuma atuar bastante em suas redes sociais, onde interage com amigos e com aqueles que admiram seu trabalho. Ele também é conhecido por suas falas polêmicas, como, por exemplo, quando um motorista de aplicativo foi morto por criminosos. “Vamos procurar em todas as pedras, nem que seja no inferno, para encontrar o autor desse crime. Não há um buraco que será capaz de escondê-lo", disse na época.

Recentemente, após um confronto entre policiais militares e dois suspeitos de roubo, que deixou um morto, ele se manifestou em suas redes sociais. “Se estivessem na igreja rezando não teriam tomado tiro da PM”, comentou. 

Em entrevista ao Olhar Direto, o coronel contou sobre a carreira, as péssimas condições da época, além de como enfrenta a criminalidade em Várzea Grande.

Confira a íntegra da entrevista:

OD: Como iniciou sua carreira na vida militar?

Entrei para a carreira militar em 1991, como Oficial Temporário do Exército Brasileiro, tendo feito Curso no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva no 13º Batalhão de Infantaria Blindado de Ponta Grossa (PR), servindo posteriormente como Tenente no 30º Batalhão de Infantaria Motorizado de Apucara, norte do Paraná. Em 1993 fui aprovado num concurso público para a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, feito exclusivamente para Oficiais do Exército, visto que naquela época o Curso de Formação de Oficiais da PM não existia. A PM dependia de vagas nas Academias de Formação de outros Estados para formar seus Oficiais de Polícia.

OD: Como foi esse processo para entrar na PMMT?

Foram 40 Oficiais de Exército que foram selecionados de vários lugares do Brasil, e a maior dificuldade certamente foi a adaptação ao clima de Mato Grosso, chegando inclusive a pedir baixa durante o curso, porém não foi aceita pelo comandante da Academia da época. Saí da rodoviária de Apucarana no Paraná com 17ºC e cheguei a Cuiabá com 36ºC. Passei mal, fui hospitalizado e quase reprovei nos testes físicos. Foram dez meses de curso para adaptação do Oficial do Exército para o oficial da Policia Militar. Depois de formado, optei em ir pra Barra do Garças, fugindo do calor cuiabano.
 

OD: Quais eram as dificuldades daquela época?
 
Os baixos salários, somados a atrasos de até quatro meses, em 1994, certamente foram grandes desafios. A PM não tinha muitos atrativos para os jovens, e a grande maioria que entrava eram parentes de militares, ou como eu, jovens do Exército Brasileiro dispostos a seguir uma carreira. Para os oficiais não havia muito problema para a progressão de carreira, mas para o Praça, aquele que entra como soldado, não havia muita perspectiva, e muitos galgavam ao longo de 30 anos de serviço apenas a promoção de Cabo. Nem todos conseguiam a famosa “Promoção Juruna”. Comecei em Barra do Garças a carreira e o Batalhão tinha quase 200 mil quilômetros quadrados de jurisdição. Não haviam coletes, nem pistolas, e o efetivo trabalhava em uma escala de 24 por um suspiro. Cheguei a passar 21 dias numa vez, sem aparecer em casa, durante operação de reintegração de posse no Baixo Araguaia. Haviam muitos policiais que faziam serviço de limpeza no quartel porque não havia farda pra eles, e como o salário era baixo, não havia condições de adquirir. Não havia internet nas unidades, e a comunicação com Cuiabá, era feita através de Rádios SSB, doados pelo Exército. Quando chegaram os aparelhos de fax, foi uma revolução. Recebia pagamento em dois cheques pré-datados do BEMAT, e só não cortava energia e água, pois eram empresas do Estado, e o fiado no mercado era realidade, vez que não havia cartão de crédito, nem polícia tinha crediário em qualquer lugar.

OD: Por onde passou ao longo dos anos?

Iniciei em Barra do Garças, e como era o único Batalhão da região do Araguaia, as diligências eram distantes e demoradas. Quando saía para as barreiras ou reintegrações de posse, pois haviam muitas na época, você passava vários dias sem voltar pra casa e sem nenhuma comunicação. Problemas com índios eram comuns e principalmente posseiros. Mas os policiais, apesar das imensas dificuldades eram muito valentes e de alguma forma superavam as dificuldades. Depois fui recolhido para Cuiabá e na sequência fui designado para Rondonópolis. Lá o batidão era outro, cidade perigosa pra Polícia. Fui designado junto com uma equipe de oficiais para substituir outros que saíram quando houve a morte do capitão Camargo naquela cidade. Os confrontos com marginais já eram mais comuns do que em Barra. Fui a Jaciara, voltei a Rondonópolis e depois voltei a Jaciara onde passei oito longos anos no comando da região. Depois firmei o pé em Cuiabá, onde tive a oportunidade de ocupar o cargo de Comandante Geral Adjunto da PM e agora atualmente, na função de Comandante do 2º Comando Regional de Várzea Grande.

OD: Apesar de comandante, o senhor está sempre nas ruas. É um militar que interage com a população. Sempre foi assim? Qual a importância disso para o senhor?  Acredita que pode influenciar na forma que a população pode ver a instituição?

Não há como estar nas ruas de forma mais constantes, pois as atribuições te exigem administrar e coordenar as ações da PM na região, juntamente com os batalhões de área. Mas sempre que possível estar nas ruas nos faz muito bem, e é necessário. Se você não conhece a tropa e não sabe das suas dificuldades na rua, você não comanda nada. Você é apenas gestor. Todo coronel já foi tenente e entende o funcionamento do serviço diário muito bem, mas sentir o cheiro das ocorrências, a poeira no coturno, o suor do colete, a catinga do camburão, o silêncio preocupante do CIOSP, (sim, porque em Várzea Grande o rádio não quieta nunca, e se isso acontece, tensão no ar), são situações que não podemos abandonar nunca. Aquele café da guarda do quartel que sabe de tudo e mais um pouco, as trocas de serviço, a oração do Pai Nosso na preleção, aquele incansável tira e coloca munição do carregador na cautela e descautela, a animação do pessoal que trabalha cantando na cozinha, aquele PF [prato feito] de pedreiro no rancho, são flashes do serviço diário que você não pode perder. Esses dias fui em uma  ação na região de garimpo de Livramento, voltei com coceira no corpo todo. Em casa com a ajuda da mulher, tirei mais de 100 carrapatos do corpo e fiquei todo “empolado” por uma semana.
 
Policial precisa ser extremamente técnico naquilo que faz, mas sem perder a capacidade de indignação com aqueles que matam, roubam, agridem ou estupram pessoas inocentes. O 190 chamando e a rotação dos motores se elevando na mesma velocidade da adrenalina e da motivação dos policiais em dar uma resposta rápida. Você sente a frustração de uma diligência perdida, de uma perseguição sem êxito, de um criminoso que consegue escapar, no semblante do policial. Mas o que mais me motiva é ver a vibração dos policiais, esta sim é reconfortante, é grandioso isso, ouvir a cantada de pneu e a sirene ligada, pois alguém precisa de nós e já estamos pelos menos alguns minutos atrasados em relação ao chamado, precisamos ser rápidos. Maria da Penha, essa ocorrência tem todo dia, pois todo dia um covarde se manifesta, mas quando chega à viatura e a mulher respira aliviada, o agressor mais covarde ainda começa a gaguejar na frente da lei.

O que temos de maior valor na Polícia Militar é o nosso policial, sem a motivação dele, sem a garra dele, sem a sua coragem e determinação, nenhuma estratégia para redução da criminalidade vai funcionar.

Sempre tive uma relação de transparência com a população, o cidadão tem esse direito e temos o dever de ser verdadeiros. Não mando recado, não prometo o que não posso cumprir. Alguns não gostam disso, mas prefiro o amargo da verdade à doçura da mentira.

A PM está passando por uma profunda mudança na sua forma de se comunicar, e fico feliz de saber que nosso comandante-geral, coronel Assis também pensa assim. As mídias sociais mudaram a forma da PM se comunicar com a população, e estamos avançando nisso a cada dia.
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