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Sábado, 27 de abril de 2024

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Atleta de MT entra para história do automobilismo como primeiro piloto autista no país: “aprendi a dirigir com oito anos”

Foto: Arquivo Pessoal

Com quinta colocação, Dimy alcançou podium em sua primeira corrida oficial.

Com quinta colocação, Dimy alcançou podium em sua primeira corrida oficial.

Aos 22 anos de idade, Dimitry Fernandes Kalinowski, morador de Cuiabá, acaba de entrar para a história do automobilismo do estado como o primeiro piloto diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista (TEA) do Brasil. A conquista pessoal, porém, também é, sobretudo, para a comunidade autista que, ainda hoje, enfrenta a falta de políticas públicas e estigmas sociais. 


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"Tem pessoas que até hoje acreditam que não consigo dirigir. Boa parte dos autistas, quase todos eles, não dirigem. Eu aprendi a dirigir com oito anos”, conta Dimy, como é chamado por amigos e familiares, ao Olhar Direto. “Os portadores de autismo são pessoas que têm mais obstáculos para superar, mas também são pessoas subestimadas”.




O primeiro contato de Dimy com o automobilismo foi quando ele ainda tinha 3 anos de idade, assistindo às 500 Milhas de Indianápolis, uma das mais tradicionais corridas do desporto. Dali em diante, ainda por coincidência, episódios como este se tornaram cada vez mais frequentes. A paixão, ele conta, se confirmou um ano depois, quando ele tinha quatro anos. 

Não desistam daquilo que querem porque com certeza se desistirem será habilidade desperdiçada.
“O irmão mais velho da minha mãe, levou-me a uma corrida num kart indoor, em Joinville [Santa Catarina] e aí eu corri e gostei tanto, que defini que eu queria fazer aquilo como profissão”, diz Dimy. Inicialmente, por medo e receio de que não fosse ser apoiado em sua decisão, ele decidiu não contar para a família, principalmente para o pai.  


“Eu tentava reprimir, aceitar que eu teria que fazer outra coisa”. Aos onze anos, quando finalmente contou que pretendia abandonar os estudos para seguir o sonho pelo automobilismo, a reação foi a que ele esperava. O pai não aceitou. Quando estava no final do ensino médio, aos 17 anos, porém, ele retomou o assunto. 
 
A reação do pai foi a mesma, com a diferença que, desta vez, a mãe, Branca Fernandes, o apoiou assim que se deu conta que este se tratava, na verdade, do hiperfoco do filho. O fenômeno é uma forma intensa de concentração em um mesmo assunto, tópico ou tarefa, que é bastante frequente em pessoas com TEA. 

“Passou despercebido por mim justamente por ele ser um autista que, por mais que tenha capacidade de falar, pouco comunicava [quando mais jovem]”, conta ela. “A partir do momento que ele manifestou essa situação de não querer outra coisa, senão ser piloto, eu me comprometi com ele que eu faria de tudo pra que ele pudesse realizar essa vocação”. 

Apesar da recente conquista do filho, a mãe conta que a felicidade da família também se mistura a angústia e o medo de Dimy poder não continuar correndo. Cada competição, segundo ela, pode custar até R$ 2.500. Apenas com o salário de nutricionista e com o filho sem um patrocinador, apoio que vários pilotos de alta performance dispoem, a carreira de Dimy, ainda prematura, corre o risco de ser interrompida.

Sem patrocínio, a mãe se desdobra com o salário de nutricionista para poder apoiar o filho. (Foto: Arquivo Pessoal)
 
“Esse é o momento que a gente tá tendo condição dele treinar e dele participar de uma corrida. Mas a continuidade é muito incerta, a continuidade dele vai ser conseguindo patrocínio, sem patrocínio não tem como ele continuar nas pistas fazendo o que ele sabe fazer e mostrando esse potencial todo que ele tem”.

No último fim de semana, após quatro anos de dedicação em que fez cursos de mecânica, conseguiu comprar um kart usado e atravessou hiatos e interrupções nos seus treinos - principalmente pela dificuldade de arcar com os custos elevados da prática do esporte - ele participou da sua primeira corrida oficial no Kart Club de Várzea Grande (região metropolitana de Cuiabá), após ter se credenciado na Federação de Automobilismo do Estado de Mato Grosso (FAEMT). 

“Consegui terminar em quinto e foi uma surpresa para mim porque no final eu queria ficar para ver o pódio mas não pensei que estaria nele”, conta Dimy ao comemorar a colocação, importante para a primeira corrida de um recém credenciado.

Como primeiro piloto autista do estado, Dimitry faz questão de concentrar sua mensagem no incentivo para que pessoas da comunidade autista ocupem cada vez mais espaços: “Não desistam daquilo que querem porque com certeza se desistirem será habilidade desperdiçada. Façam aquilo que querem. Se eu consigo não só dirigir mas pilotar um carro tendo dificuldade motora, imagine o que mais um autista poderia fazer”.

Atualização 20/08/2021 – Após a publicação desta reportagem, Aripã Mauricio Kalinowski, pai do piloto Dimitry, entrou em contato com a redação de Olhar Direto para se posicionar. Por meio de ligação telefônica, afirmou que, de fato, no começo, se opôs a ideia de o filho se tornar piloto, no entanto alega ter mudado de ideia posteriormente. Por email, encaminhou um vídeo de própria autoria que mostra piloto junto ao kart. “Dimitry Fernandes Kalinowski é extremamente inteligente, não é nenhuma vitima com inúmeras dificuldades”, declarou.
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